A banda King Gizzard and the Lizard Wizard tirou todas as suas músicas do Spotify; no lugar, surgiram versões misteriosas

50 mil músicas por dia que chegam às plataformas são falsas. O problema dos plágios por IA começa a sufocar a música no streaming

King Gizzard / Imagem: Paul Hudson
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Victor Bianchin

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Victor Bianchin é jornalista.

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Você pode deixar o Spotify, mas só sai de verdade quando o Spotify resolve permitir. A banda King Gizzard and the Lizard Wizard acaba de descobrir isso da pior forma: eles abandonaram a plataforma como forma de protesto pelas decisões do CEO, mas ainda existem músicas suas lá dentro. A parte assustadora: não foi a banda que compôs ou gravou essas faixas.

O grupo King Gizzard and the Lizard Wizard deixou o Spotify em julho de 2025: foi um protesto contra os investimentos de Daniel Ek em tecnologia militar. Semanas depois, porém, descobriram que várias músicas da banda continuavam disponíveis na plataforma. Mas não eram as originais, e sim versões instrumentais que imitavam as faixas verdadeiras, com o mesmo nome de artista, títulos idênticos e imagens oficiais. Segundo o site Platformer, essas versões chegaram a acumular mais de 10 milhões de reproduções antes de serem detectadas.

A trapaça

O Spotify apresentava essas músicas como se fossem autênticas. Como relatou um fã da banda ao Platformer, ao tocar Deadstick, do álbum Phantom Island, o que tocava era uma versão simplificada — quase um toque de celular — uma espécie de réplica de baixa qualidade. Mas, sem conhecer a gravação original (e principalmente levando em conta o quanto essa banda é amiga de pegadinhas e experimentações), qualquer ouvinte poderia facilmente confundi-la com a música verdadeira. O mesmo aconteceu com outras faixas do álbum, como Aerodynamic e Grow Wings and Fly.

O artigo motivou uma onda de protestos que levou o Spotify a remover o conteúdo, confirmando que ele violava sua política contra a suplantação de identidade. Neste momento, não há músicas da banda na plataforma.

Não é um caso isolado. Segundo dados da própria empresa publicados em setembro de 2025, o Spotify removeu 75 milhões de faixas classificadas como spam no último ano. A consultoria Luminate estima que cerca de 99.000 músicas são enviadas diariamente para serviços de streaming, muitas vezes por meio de distribuidoras que não verificam a identidade do artista. A situação é ainda mais grave em outras plataformas, em um cenário que já parece generalizado e com um detonador evidente: a facilidade com que músicas podem ser geradas por IA.

A Deezer, por exemplo, afirmou este mês que recebe mais de 50.000 faixas completamente criadas por inteligência artificial todos os dias — o equivalente a 34% de todo o conteúdo que chega aos seus servidores. Segundo a plataforma, 70% das reproduções de músicas geradas por IA são faixas não autorizadas ou que substituem artistas reais.

O fantasma de The Velvet Sundown

Em junho de 2025, uma banda chamada The Velvet Sundown alcançou mais de um milhão de ouvintes mensais no Spotify. Suas fotos promocionais tinham aquele visual artificial característico de imagens geradas por IA e seus integrantes não existiam em nenhuma rede social — mas o grupo estreou com 550.000 ouvintes mensais após ser recomendado pelo algoritmo da plataforma. Depois de semanas negando as acusações, os responsáveis admitiram que se tratava de uma “provocação artística” criada com inteligência artificial. Suas músicas continuam disponíveis no Spotify.

No entanto, quando se fala em artistas clonados, o caso mais perturbador envolve músicos falecidos: inúmeras canções geradas por IA começaram a aparecer nos perfis oficiais de artistas já mortos. A página de Blaze Foley, cantor country assassinado em 1989, recebeu novas músicas. O mesmo aconteceu com Guy Clark, vencedor do Grammy falecido em 2016; com Sophie, artista eletrônica morta em 2021; e com Uncle Tupelo, antiga banda de Jeff Tweedy, do Wilco. Todas essas faixas foram enviadas por distribuidoras sem qualquer verificação e permaneceram ativas durante semanas antes de serem detectadas.

Embora o Spotify seja o rosto mais visível desse caos, há uma verdadeira bagunça em praticamente todos os pontos da cadeia de distribuição. Plataformas como a DistroKid, por exemplo, permitem o envio massivo de faixas sem verificar a identidade real do artista. Em setembro, o Spotify anunciou novas políticas contra a suplantação e um filtro anti-spam, mas sua eficácia ainda não foi comprovada. Por ora, o caso de King Gizzard deixa uma pergunta desconcertante: ao abandonar uma plataforma, será que você realmente a abandona? Talvez nunca.

Imagem | Paul Hudson

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.


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