Uma IA autônoma está derrubando drones kamikazes na Ucrânia porque a guerra, ao que parece, já é um assunto das máquinas

A história ilustra como capacidades navais e terrestres estão sendo integradas em um mesmo ecossistema de combate baseado em automação

Torreta Predator / Imagem:  UGV Robotics
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Victor Bianchin

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Victor Bianchin

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Victor Bianchin é jornalista.

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A Ucrânia transformou a urgência em engenharia militar avançada com o desenvolvimento do que batizaram de Predator — uma torre automatizada com metralhadora criada inicialmente para que os drones navais Magura pudessem enfrentar helicópteros e caças russos que patrulhavam o mar Negro, uma área onde a pressão aérea sobre as operações ucranianas aumentou após o sucesso dos ataques não tripulados contra a Frota russa.

O Predator estreou em combate no final de 2024, quando seus sensores e sua capacidade de aquisição de alvos permitiram derrubar dois helicópteros por meio de mísseis disparados de outros drones navais. Meses depois, ele ajudou a abater um Su-30 russo, demonstrando que um veículo explosivo não tripulado também poderia oferecer cobertura antiaérea.

Depois de ver o sucesso da máquina, a Ucrânia decidiu “escondê-la” onde pudesse ser uma surpresa para o inimigo. Acontece que integrar essa torre em uma plataforma marítima foi um desafio complexo que exigiu garantir estabilidade em condições adversas, precisão em um casco em movimento e compatibilidade com processos de guiamento que combinam sensores ópticos, inteligência artificial e sistemas giroscópicos.

Assim, embora tenha nascido para o mar, os testes recentes do Predator confirmaram sua utilidade no cenário dominante da guerra moderna: o combate contra drones FPV carregados com explosivos, responsáveis por uma parcela crescente das perdas ucranianas em terra.

Com munição de 7,62 mm, sensores ópticos, estabilização giroscópica e alertas automáticos de detecção, o sistema pode ser montado em veículos com esteiras ou na caçamba de uma picape, disparando em movimento e acompanhando alvos mínimos de apenas alguns centímetros a 100 metros.

E mais. A inteligência artificial permite à torre identificar ameaças e apresentar opções ao operador, que mantém a decisão final para evitar fogo amigo, enquanto as novas versões incorporam telêmetros a laser e melhorias de precisão adaptadas a drones controlados por radiofrequência ou fibra óptica.

Da Ucrânia à OTAN

A rápida industrialização do Predator (mais de trinta unidades construídas e um plano para produzir cem por mês em menos de meio ano, com custo por unidade inferior a 100.000 dólares para as forças ucranianas) transforma esse sistema em um dos desenvolvimentos mais ágeis do complexo militar ucraniano.

Na verdade, seu sucesso despertou o interesse da OTAN, que convidou a companhia para uma Innovation Challenge e testou o sistema em um evento de avaliação na França, onde o fabricante o apresentou por controle remoto como solução modular e de implantação imediata diante de ameaças que evoluem em questão de semanas, não anos. Além disso, a UGV Robotics planeja um modelo de maior calibre, o Apex Predator, com munição .50 e capacidade para atuar contra ameaças aéreas mais pesadas, buscando transformar essas torres em um padrão exportável para aliados ocidentais.

A história dessa torre ilustra como a Ucrânia está integrando capacidades navais e terrestres em um mesmo ecossistema de combate baseado em automação, sensores modulares e sistemas capazes de operar em plataformas não tripuladas — uma estratégia impulsionada pela pressão constante dos drones russos e pela necessidade de proteger tanto a infantaria quanto veículos expostos.

Nesse contexto, um projeto concebido para impedir que um drone explosivo fosse abatido do ar se transforma agora em uma defesa terrestre contra enxames baratos e letais, convertendo o Predator em símbolo da virada da Ucrânia rumo a uma defesa distribuída, adaptativa e focada em neutralizar ameaças assimétricas antes que alcancem seu alvo.

Imagem | UGV Robotics

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.


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