A extinção dos neandertais sempre foi um mistério; a ciência agora acredita que eles ainda estão entre nós

Os neandertais tiveram um fim muito diferente do que podemos imaginar

Imagens | mostafa meraji
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Fabrício Mainenti

Redator

Durante décadas, o desaparecimento dos neandertais foi um dos maiores mistérios da evolução humana. Aconteceu há cerca de 40 mil anos, coincidindo de forma suspeita com a nossa espécie, o Homo sapiens, na Eurásia. Porém, passa-se a crer agora que, talvez, eles não tenham sido extintos.

O que se pensava antes

As teorias clássicas pintam um cenário de substituição: ou os exterminamos em competição direta, ou eles não resistiram a uma mudança climática brutal. Mas agora um estudo publicado na Scientific Reports oferece uma resposta muito mais fascinante: nós os absorvemos em nossa própria sociedade. E a chave para tudo isso reside na diluição genética.

As hipóteses

Para aprofundar, a hipótese da competição sugere que o Homo sapiens era simplesmente superior: tínhamos melhores estratégias de caça, uma dieta mais ampla ou estruturas sociais mais avançadas que nos permitiram monopolizar todos os recursos, levando à extinção dos neandertais.

Por outro lado, a hipótese ambiental culpa as drásticas mudanças climáticas que ocorreram durante esse período. Segundo essa ideia, os neandertais foram incapazes de se adaptar às flutuações extremas, e suas populações se fragmentaram até desaparecerem completamente.

No entanto, o novo estudo apresenta um modelo matemático que desconsidera ambos os fatores e se concentra no mais básico de todos: demografia e sexo.

O novo modelo

Os autores do estudo propõem um modelo analítico que demonstra como os neandertais poderiam ter desaparecido sem que o Homo sapiens tivesse qualquer vantagem seletiva sobre eles. O modelo não requer "eventos catastróficos" ou superioridade cognitiva. Em vez disso, baseia-se em um conceito chamado "deriva neutra de espécies" e em um fator-chave: pequenas migrações recorrentes de Homo sapiens para territórios neandertais.

Éramos muito mais numerosos

Uma das primeiras ideias sugeridas nesse caso é que a população de Homo sapiens que deixou a África era muito maior em número do que a população neandertal, atuando como um "reservatório demográfico virtualmente infinito".

À medida que se moviam juntos, a familiaridade gerava afeição, e as espécies começaram a cruzar, produzindo descendentes altamente férteis. O modelo pressupõe que esse não foi um evento isolado, mas sim um "fluxo gênico contínuo" que ocorria sempre que um pequeno grupo de humanos modernos chegava a uma área.

Então, considerando que a população neandertal era muito menor e havia um influxo constante de genes de Homo sapiens, o resultado foi a diluição do conjunto gênico. É literalmente como despejar um copo de água neandertal em um oceano de Homo sapiens. Eventualmente, sua presença é completamente diluída.

O tempo

O aspecto mais importante do estudo é que seus cálculos se alinham com o registro arqueológico. O modelo matemático mostra que esse processo de "substituição genética quase completa" pode ter ocorrido dentro de 10 mil a 30 mil anos, o que coincide com o longo período de coexistência que ambas as espécies tiveram na Eurásia.

Será que foram levados à extinção?

Essa é a pergunta que nos fazemos. A questão é se a palavra "extinção" é apropriada para este paradigma. Este modelo oferece o que os cientistas chamam de "explicação parcimoniosa" (a mais simples). Em termos mais simples, não nega que outros fatores, como competição ou clima, possam ter contribuído, mas demonstra que essa dissolução genética por si só poderia explicar o desaparecimento dos neandertais.

É por isso que, em vez de extinção, falamos de fusão por absorção. Isso explica perfeitamente por que os neandertais desapareceram como um grupo geneticamente distinto, mas seu legado perdura: os humanos modernos de ascendência eurasiática retêm uma pequena porcentagem de sua herança genética em seu DNA (embora muito diluída).

Imagens | mostafa meraji

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