Vinicius Braga
PublisherVinicius Braga trabalha há mais de 20 anos com conteúdo digital. Sempre foi um entusiasta da tecnologia e sempre acreditou que inovação não é só sobre máquinas ou códigos, mas sobre pessoas. No Xataka Brasil, usa suas experiências com mídia digital, dados e inteligência artificial para aproximar o público das grandes transformações do mundo tech e mostrar como o futuro já está acontecendo e pode ser acessado por todos.
Depois de revolucionar o trabalho dos programadores com o Copilot, o GitHub viu a inteligência artificial se tornar parte do cotidiano dos grandes bancos brasileiros. Em entrevista exclusiva ao Xataka Brasil, Julio Viana, gerente regional da plataforma no país, afirmou que o sistema financeiro brasileiro já adotou a IA como assistente de código e está avançando para agentes autônomos. “O sistema financeiro brasileiro é motivo de orgulho. É o mais avançado e o mais complexo do mundo inteiro, e todos os grandes bancos já entenderam que trabalhar com IA é um caminho sem volta”, resumiu.
Na visão de Julio, os desenvolvedores brasileiros sempre foram “early adopters”: a comunidade open source é uma das maiores do mundo e abraçou o Copilot como um parceiro de programação desde o início. Ele ressalta que pair programming com IA já faz parte do dia a dia, enquanto a adoção de agentes autônomos ainda está alguns meses atrás do cenário europeu e norte‑americano. “A IA já foi adotada, já foi assumida de fato, e todo mundo entendeu que é um caminho sem volta. O que ainda estamos um pouquinho atrás são os agentes autônomos, talvez seis meses ou um ano, por uma questão cultural”, explica. Para ele, a maior barreira não é tecnológica, mas de mentalidade: é preciso aprender a delegar tarefas a uma IA e calibrar os fluxos de trabalho para conferir resultados em minutos em vez de dias.
No mercado financeiro brasileiro, a inteligência artificial já deixou de ser promessa: ela faz parte do cotidiano das equipes de engenharia de software. Todos os grandes bancos operam seus repositórios no GitHub e incorporaram o Copilot ao ciclo de desenvolvimento, usando a IA como programadora em par e assistente de geração de código. Algumas instituições já começam a experimentar agentes autônomos em tarefas de revisão e teste, o que tem acelerado projetos que antes levavam meses.
O caso Itaú: 18 mil devs com IA no dia a dia
O Itaú Unibanco é apontado por Julio como o maior caso de sucesso de adoção de IA e GitHub no país. Ele afirma que o banco conta com cerca de 18 mil desenvolvedores ativos na plataforma, dos quais cerca de 70 % usam o Copilot diariamente. A adoção massiva transformou o pipeline de desenvolvimento, multiplicando a capacidade de entrega e elevando o nível técnico das equipes. Reportagens apontam que o Itaú foi um dos primeiros a implantar o Copilot; no início de 2024, o banco já registrava crescimento de três mil para seis mil usuários em apenas um mês, se consolidando como um dos maiores usuários mundiais da ferramenta. Além disso, a ferramenta já entregou mais de um milhão de linhas de código para o banco, proporcionando ganhos de produtividade e confiança aos desenvolvedores.
Julio Viana, gerente regional do GitHub no Brasil | Foto: Montagem/GitHub/Getty Images/CFOTO/Colaborador
Julio relata que a escala do Itaú desafia o próprio GitHub: qualquer novidade é rapidamente testada pelo banco, que atua como “teste de estresse” para a plataforma.
O novo perfil de gestor técnico e desafios do mercado
Um dos pontos centrais da entrevista de Julio é a mudança no perfil dos executivos de tecnologia. Ele ressalta que a nova geração de CIOs e vice‑presidentes no Brasil é altamente técnica, com capacidade de discutir código e arquitetura. Esse perfil tem sido crucial para acelerar a adoção de IA. “Gestor que não entende código já perdeu espaço. E isso fez o Brasil acelerar”, diz. Para Julio, a capacidade de delegar tarefas à IA e avaliar rapidamente os resultados — sem perder o controle de segurança e qualidade — é o próximo grande desafio cultural.
Mesmo com a adoção acelerada, Julio reconhece que o país ainda convive com sistemas legados de 30 ou 40 anos atrás. Ele acredita que a IA será fundamental para modernizar linguagens antigas e migrar aplicações para infraestruturas mais modernas. O GitHub e ferramentas como o Copilot devem atuar como tradutores de código legados para novas arquiteturas. “Nos próximos dois anos veremos IAs conversando com IAs dentro do sistema financeiro. E isso vai nos colocar ainda mais à frente do resto do mundo”, projeta.
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