Cientistas detectam sinal de 13 bilhões de anos de idade vindo do espaço

Essa observação histórica nos oferece um vislumbre inédito do universo quando ele tinha apenas 730 milhões de anos, ou seja, 5% de sua idade atual

Supernova / Imagem: JV Tech
Sem comentários Facebook Twitter Flipboard E-mail
victor-bianchin

Victor Bianchin

Redator
victor-bianchin

Victor Bianchin

Redator

Victor Bianchin é jornalista.

1474 publicaciones de Victor Bianchin

No dia 14 de março de 2025, o satélite franco-chinês SVOM (Space-based multi-band astronomical Variable Objects Monitor) detectou um surto de raios gama — basicamente, um clarão de energia colossal, com duração de cerca de 10 segundos. Esse tipo de sinal, batizado de GRB 250314A, é geralmente a assinatura do colapso de uma estrela massiva. A rapidez das equipes em solo foi exemplar para não perder o rastro desse evento fugaz.

Imediatamente, uma corrida de revezamento planetária foi acionada. Menos de duas horas após o alerta, o observatório Swift, da NASA, localizou a fonte, seguido por telescópios nas Ilhas Canárias e no Chile (VLT) para estimar a distância.

O veredito veio rapidamente: estávamos diante de um objeto situado a uma distância fenomenal, exigindo o olhar aguçado do James Webb Space Telescope (JWST) para analisá-lo em detalhe. Andrew Levan, professor da Universidade Radboud e autor principal do estudo, destaca a importância desse instrumento:

“Apenas o Webb podia mostrar diretamente que essa luz vinha de uma supernova, ou seja, do colapso de uma estrela massiva. Essa observação também demonstra que podemos usar o Webb para encontrar estrelas individuais quando o universo tinha apenas 5% de sua idade atual.”

Uma dilatação temporal alucinante

Se o surto inicial de raios gama durou apenas alguns segundos, observar a própria supernova exigiu paciência. Por quê? Por causa da expansão do universo. A luz dessa explosão foi tão “esticada” por sua viagem de 13 bilhões de anos que o próprio tempo parece ter se dilatado. O que teria levado apenas algumas semanas para se desenrolar no universo próximo levou vários meses para chegar até nós nessa configuração.

Assim, os astrônomos aguardaram até 1º de julho — mais de três meses após a detecção inicial — para apontar o James Webb para a fonte. Esse era o momento calculado em que o brilho da supernova estaria no auge para nossos instrumentos. Veja a seguir uma comparação técnica para compreender bem a dimensão do novo recorde estabelecido por essa observação em relação aos dados anteriores:

RECORDE ANTERIOR

Novo recorde (GRB 250314A)

Supernova moderna (tipo)

IDADE do universo

1,8 bilhão de anos

730 milhões de anos

13,8 bilhões de anos

Redshift (desvio)

Inferior a 3

7,3 (muito elevado)

0 (próximo de nós)

DURAÇÃO APARENTE

Algumas semanas

Mais de 3 meses (dilatação)

Algumas semanas

INSTRUMENTO-CHAVE

James Webb (também)

SVOM + James Webb

Telescópios ópticos

Uma surpresa de peso para os cientistas

É aqui que a história toma um rumo inesperado. Os cientistas esperavam que as estrelas dessa época remota, a Era da Reionização, fossem quimicamente muito diferentes das estrelas atuais. Em teoria, elas deveriam conter menos elementos pesados (metais) e morrer de forma diferente. No entanto, os dados espectrais do James Webb revelaram uma supernova que se parece, em todos os aspectos, com aquelas que observamos hoje. Nial Tanvir, professor da Universidade de Leicester e coautor do estudo, não esconde o espanto:

“Chegamos com a mente aberta. E então o Webb nos mostra que essa supernova se parece exatamente com as supernovas modernas.”

Essa descoberta sugere que as “fábricas estelares” do universo primordial talvez já fossem capazes de produzir eventos complexos muito mais cedo do que se imaginava. Isso abre caminho para novas e vertiginosas questões sobre a velocidade com que o universo se estruturou após o Big Bang. Enquanto isso, o James Webb continua a perscrutar esse passado distante, pronto para desmascarar outros fantasmas cósmicos.

Este texto foi traduzido/adaptado do site JV Tech.


Inicio