De acordo com fontes internas da divisão Azure citadas pelo jornal The Information, a Microsoft tomou uma decisão pouco comum: reduzir as metas de crescimento de vendas de seus produtos e serviços de IA. Os objetivos não foram alcançados no ano fiscal encerrado em junho, fazendo com que, agora, as metas das equipes de vendas tenham sido ajustadas para baixo, ficando em torno de 25% de crescimento. O fato de a Microsoft fazer uma mudança desse tipo é um indicador claro de que o mercado não está respondendo na velocidade esperada.
As afirmações do The Information foram negadas pela Microsoft. Seus porta-vozes disseram à Bloomberg que o artigo “combina de forma imprecisa os conceitos de crescimento e cotas de vendas” e que “as cotas de vendas agregadas para os produtos de IA não foram reduzidas”.
Enquanto isso, a consultoria FirstPageSage publicou as participações de mercado dos principais chatbots dos EUA. De acordo com esses dados, o ChatGPT domina claramente o mercado, com 61,30% das consultas, enquanto o Copilot da Microsoft aparece em segundo lugar, com 14,10%. No entanto, é interessante observar o detalhe do crescimento estimado: na Microsoft, ele é de apenas 2%, enquanto no Gemini chega a 12% e, no Claude, a 14%.
Cota de uso de chatbots de IA em dezembro de 2025 nos EUA. Fonte: FirstPageSage
A IA ainda não engrenou
Clientes corporativos estão encontrando sérias dificuldades para justificar o retorno sobre o investimento em IA. É difícil medir a economia real que a IA representa para redigir relatórios ou analisar leads de vendas, por exemplo. Além disso, há setores como finanças e cibersegurança nos quais a tolerância ao erro é nula. Ainda não podemos confiar plenamente na IA, e isso faz com que seu alcance real, sobretudo nas empresas, seja limitado. Um relatório do MIT já alertava que 95% das empresas que apostaram no uso de IA não viram retorno mensurável em receitas reais.
Na reportagem do The Information, fala-se do fundo de private equity Carlyle. Eles começaram a usar o Copilot Studio para automatizar resumos de reuniões e modelos financeiros, mas se depararam com um obstáculo técnico: a IA tinha dificuldade para extrair dados confiáveis de outros aplicativos externos. Diante dessa situação, a Carlyle reduziu seus gastos com IA e hoje é muito mais seletiva com as soluções de IA pelas quais paga, embora seu investimento geral em tecnologia esteja crescendo.
É preciso deixar claro que o negócio da IA não está em crise, mas permanece, pelo menos por ora, polarizado. O Azure continua indo de vento em popa e o GitHub funciona realmente bem, por exemplo. O problema está em convencer empresas tradicionais a pagar um extra por agentes de IA automatizados — sobretudo quando usá-los é muito mais complexo do que instalar um simples chatbot.
Até a OpenAI ajusta expectativas
A própria OpenAI, segundo também apontou o The Information, teve de revisar suas expectativas em relação ao mercado de agentes. Suas novas estimativas reduziram em 26 bilhões de dólares as receitas provenientes de agentes de IA nos próximos cinco anos. Para compensar essa queda, porém, a OpenAI deve concentrar seus ganhos nas assinaturas do ChatGPT.
A indústria não está jogando a toalha, é claro, mas começa a perder a paciência. Brian Spanswick, CEO da empresa de cibersegurança Cohesity, resumiu a situação atual: há esperança, mas faltam provas. Sua empresa está criando código próprio para permitir a conexão dos agentes da Microsoft com seus dados internos, e a expectativa é que isso possibilite demonstrar um retorno real sobre o investimento em alguns meses. Conseguir isso, porém, é outra história. Mas uma coisa parece cada vez mais clara: as promessas da IA continuam sem se cumprir — ao menos aquelas feitas pela Microsoft com o Copilot para o ambiente corporativo.
Imagens | Microsoft, Official Leweb Photos (CC BY 2.0)
Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.
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