A Ucrânia, esse laboratório de guerra do presente e do futuro, foi pioneira no uso de drones e na criação de uma indústria sem precedentes em torno desses quadricópteros como elementos-chave na linha de frente. Vimos drones-mãe enviando outros drones para destruir outros drones. Na Ucrânia, outro marco sem precedentes acaba de acontecer.
Com drones, mas desta vez subaquáticos.
Um antes e um depois
A Ucrânia afirma ter realizado o primeiro ataque de combate bem-sucedido da história com um drone subaquático contra um navio de guerra, especificamente um submarino russo da classe Kilo aprimorado, atracado no porto de Novorossiysk, um dos principais portos da Frota Russa do Mar Negro.
De acordo com o Serviço de Segurança da Ucrânia, o ataque foi realizado com um veículo subaquático não tripulado conhecido como Sub Sea Baby, capaz de navegar submerso até um porto fortemente fortificado e atingir um alvo específico sem ser detectado — algo que, se confirmado, representaria um salto qualitativo na guerra naval moderna.
As imagens
O vídeo divulgado por Kiev mostra uma explosão ao lado do submarino enquanto este permanece atracado, indicando que o drone conseguiu penetrar as defesas do porto e atingir uma das plataformas mais valiosas do arsenal russo, avaliada em aproximadamente US$ 400 milhões (cerca de R$ 2,1 bilhões) e equipada com lançadores de mísseis de cruzeiro Kalibr, frequentemente usados contra cidades ucranianas.
Um golpe no coração da frota russa
O submarino atacado pertence a uma das classes mais silenciosas e difíceis de detectar da Marinha Russa quando operando submerso e em modo de bateria, e faz parte de um pequeno grupo de seis unidades designadas para a Frota do Mar Negro antes da guerra. Fontes próximas aos militares russos indicam que o impacto ocorreu perto da popa, danificando lemes e hélices, componentes críticos que, mesmo sem penetrar o casco, poderiam deixar o submarino inoperável por longos períodos.
Se o dano for tão grave quanto Kiev alega, a Rússia ficaria com apenas quatro submarinos Kilo operacionais na área, reduzindo significativamente sua capacidade de lançar ataques com mísseis a partir do mar e reforçando a estratégia ucraniana de atacar plataformas de lançamento em vez de interceptar projéteis individuais.
A retirada forçada
Este ataque não pode ser compreendido sem o contexto da campanha naval ucraniana lançada em 2023, baseada quase inteiramente em sistemas não tripulados. O uso massivo de drones de superfície carregados com explosivos permitiu à Ucrânia danificar ou neutralizar aproximadamente um terço da frota russa do Mar Negro e forçou Moscou a retirar muitos de seus navios da Sebastopol ocupada para Novorossiysk, em território russo, considerada até então um refúgio relativamente seguro.
Submarinos como o Rostov-on-Don já haviam sido atacados em portos em ocasiões anteriores, mas o uso de um drone subaquático amplia drasticamente o leque de ameaças, permitindo que elas contornem redes, barreiras flutuantes e defesas projetadas especificamente para impedir ataques de superfície.
A lógica da guerra assimétrica
Para Kiev, o investimento em drones navais, tanto de superfície quanto subaquáticos, responde a uma lógica de custo e sobrevivência. Enquanto um submarino russo custa centenas de milhões de dólares e anos para ser construído, um drone naval ucraniano pode ser fabricado por entre US$ 250.000 e US$ 300.000 (entre R$ 1,3 bilhão e R$ 1,6 bilhão).
Essa assimetria permite à Ucrânia compensar sua inferioridade numérica e tecnológica em relação à Rússia, forçando o Kremlin a investir enormes recursos defensivos e a operar em um ciclo constante de adaptação. Cada nova tática ucraniana gera contramedidas russas, que por sua vez são neutralizadas por novos desenvolvimentos em questão de semanas ou meses, alterando permanentemente as regras do combate naval no Mar Negro.
Um sinal dos tempos
O uso operacional de drones subaquáticos como armas ofensivas abre um cenário completamente novo, não apenas para este conflito, mas para a guerra naval global. Os Estados Unidos, a China e outras potências vêm desenvolvendo veículos subaquáticos não tripulados (UUVs) há anos para reconhecimento, lançamento de minas e ataques de longo alcance, mas a Ucrânia pode ter sido o primeiro país a demonstrar sua eficácia em combate no mundo real.
Se Novorossiysk não for mais um porto seguro e submarinos puderem ser atacados mesmo no porto, a postura defensiva russa terá que mudar novamente, com o emprego de ainda mais recursos e proteção. Ao mesmo tempo, o ataque reforça a ideia de que a guerra na Ucrânia se tornou um laboratório onde conceitos teóricos são testados em larga escala, prenunciando um futuro em que portos, bases navais e grandes navios não poderão mais contar com as profundezas do mar como sua última linha de defesa.
Imagem | Captura de tela do SBU
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