As motocicletas chinesas estão exercendo tanta pressão no mercado que até mesmo marcas italianas lendárias estão começando a fabricar motos mais baratas para competir; o exemplo mais recente é este aqui

A histórica marca italiana está reorganizando sua linha 800 e preparando uma nova submarca retrô para atrair novos clientes em um mercado cada vez mais competitivo

Imagens | MV Agusta
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Fabrício Mainenti

Redator

As marcas chinesas estão investindo tanto que até mesmo na Itália, berço do design e da narrativa épica, algumas lendas começam a se movimentar. A MV Agusta é uma delas. Não porque esteja renegando sua história, mas porque o mercado não tolera mais o romantismo sem números que o sustentem.

O cenário era o EICMA, como de costume. Lá, a MV roubou a cena com um conceito de motor de cinco cilindros e formas quadradas, muito italianas, dignas de pôster. Mas enquanto os flashes se concentravam na extravagância, a mensagem subjacente era completamente diferente: preço, volume e acessibilidade. Palavras que até recentemente eram praticamente tabu em Schiranna.

Quando uma lenda italiana para de falar apenas sobre exclusividade

A marca recuperou sua independência no verão de 2025, após recomprar a participação majoritária da KTM. E com essa mudança, veio uma alteração em sua mensagem. Luca Martin, CEO da MV Agusta, explicou isso sem rodeios em uma entrevista à MCN:

"Não quero nos definir como uma marca de luxo. No fim das contas, não acho que luxo exista em motocicletas". 

E a MV sempre foi sinônimo de luxo. A ambição agora é diferente: ser uma fabricante industrial, competir de igual para igual com Ducati, KTM ou Triumph. Dito dessa forma, soa quase revolucionário vindo da MV.

Essa mudança se materializa na linha 800. A Brutale 800 atualizada, com homologação Euro 5+, já está disponível, com 111,5 cv, eletrônica completa e preço de € 12.600 (cerca de R$ 79,9 mil). Não é barata em termos absolutos, mas envia uma mensagem clara: mais de € 3.000 (cerca de R$ 19 mil) a menos que uma Streetfighter V2 e apenas um pouco mais cara que uma MT-09 básica. Segundo a própria marca, é o novo modelo de entrada.

Martin resume tudo de forma clara:

"Reposicionamos completamente nossa estratégia de preços. Haverá um modelo topo de linha para um público seleto, mas também um ponto de entrada muito agressivo com a 800".

A ideia é simples: duas plataformas principais (as de três cilindros de 800 e 950 cilindradas e a de quatro cilindros de 1000 cc) e uma família que cresce desde a base. Depois da Brutale, virão uma nova F3R e uma Turismo Veloce atualizada. Não se trata de uma revolução técnica, mas sim estratégica.

Tudo isso não está acontecendo isoladamente

A pressão das marcas chinesas, com produtos cada vez mais refinados e preços difíceis de igualar, mudou o jogo. A MV não precisa competir diretamente com elas, mas precisa oferecer algo que justifique sua posição. E isso não pode mais ser apenas exclusividade e um passado glorioso. Precisa ter um presente.

Imagens | MV Agusta

Enquanto isso, a MV também prepara outra jogada interessante: uma nova submarca com estilo retrô. Partindo do conceito 921S apresentado em Milão, a ideia evoluiu. Não será uma quatro cilindros, nem se chamará 921. Será algo completamente diferente, com identidade própria e um motor específico de três cilindros. Federico Macario, chefe de desenvolvimento, dá a entender: não será um modelo independente, mas sim uma pequena família neoclássica.

A questão não é se a MV Agusta se tornará uma marca convencional. Não se tornará. Mas parece estar prestes a deixar de ser inacessível por padrão. E num momento em que as motocicletas chinesas estão forçando a Europa a se reavaliar, o fato de uma lenda italiana começar a falar sobre preços, volume e pontos de entrada diz muito mais sobre como a indústria está mudando do que qualquer conceito impossível.

Imagens | MV Agusta

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