"Nosso desafio não é técnico, é cultural": Brasil é destaque global no uso do Copilot, mas ainda precisa vencer a barreira da delegação à IA

  • Julio Viana, executivo do GitHub, diz que o país está entre os mais avançados do mundo na adoção de IA no desenvolvimento de software

  • O desafio agora não é técnico, mas sim aprender a trabalhar com agentes autônomos

Foto: Montagem/GitHub/Getty Images/CFOTO/Colaborador
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Vinicius Braga

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Vinicius Braga trabalha há mais de 20 anos com conteúdo digital. Sempre foi um entusiasta da tecnologia e sempre acreditou que inovação não é só sobre máquinas ou códigos, mas sobre pessoas. No Xataka Brasil, usa suas experiências com mídia digital, dados e inteligência artificial para aproximar o público das grandes transformações do mundo tech e mostrar como o futuro já está acontecendo e pode ser acessado por todos.

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Durante o GitHub Universe 2025, em São Francisco, nos EUA, o Brasil foi repetidamente citado como um dos países mais dinâmicos do mundo na adoção de inteligência artificial entre desenvolvedores. Para Julio Viana, executivo do GitHub, esse protagonismo não é coincidência: “O desenvolvedor brasileiro é um dos mais engajados do planeta. Ele abraça novas tecnologias com curiosidade e coragem", disse em entrevista ao Xataka Brasil.

Segundo Julio, o país possui uma das maiores comunidades globais de código aberto e já incorporou o Copilot no dia a dia das equipes de engenharia. “A IA já foi adotada, já foi assumida de fato. Todo mundo entendeu que é um caminho sem volta".

O Copilot mudou profundamente o modo como times criam software. Tarefas repetitivas e blocos de código complexos agora são resolvidos em minutos, com a IA atuando como um “programador em par”. Esse modelo de colaboração elevou a produtividade e permitiu que desenvolvedores focassem em criatividade e arquitetura — e não apenas em digitar linhas de código.

Mas o avanço não para por aí. O GitHub enxerga uma nova fronteira se abrindo: a dos agentes autônomos, sistemas capazes de assumir etapas inteiras dentro de um pipeline de desenvolvimento. E é justamente aí que o Brasil ainda tem algo a aprender.

O desafio cultural que o Brasil enfrenta

Julio Viana, gerente regional do Brasil para o GitHub | Foto: GitHub

Julio explica que, embora o país esteja na dianteira do uso do Copilot, ainda há um pequeno atraso de seis a 12 meses em relação aos Estados Unidos e a países da Europa na adoção desses agentes. “Isso é uma mudança cultural. É aprender a delegar tarefas, conferir resultados e confiar que o retorno de uma IA será tão bom quanto o de um humano”, afirma.

Segundo ele, o processo exige recalibrar todo o fluxo de trabalho — de produto a segurança, passando por testes e integração. “A cadeia estava ajustada para que as ‘demoras’ existissem. Agora tudo acontece em minutos”.

Essa velocidade impõe um novo ritmo às empresas, que precisam adaptar equipes, responsabilidades e ciclos de revisão. “Nosso desafio não é técnico, é cultural. É reaprender o ciclo de desenvolvimento com a IA como parceira integral”.

O executivo é otimista quanto à curva de adaptação do Brasil.  “Em outras economias isso já está quase 100% ajustado. No Brasil, talvez leve uns seis meses a mais — mas nada complexo. Somos o povo mais adaptável do mundo”, brinca Julio. Ele acredita que à medida que as empresas dominarem o uso dos agentes e reestruturarem seus squads, o país deve alcançar os líderes globais ainda antes de 2026.

O futuro? IA conversando com IA

O GitHub já trabalha com a visão de agentes autônomos colaborando entre si, sem intervenção humana direta. Para Julio, esse futuro está mais próximo do que parece.

“Hoje falamos de humanos e agentes trabalhando juntos. Em breve, veremos IAs se comunicando entre si para gerar e revisar código. O resultado será mais rápido, seguro e escalável.”

Essa transição marca o início de uma nova fase para o desenvolvimento de software — uma fase em que a inteligência coletiva das máquinas amplia, e não substitui, o talento humano.

O Brasil já provou ser ágil em abraçar novas tecnologias. Agora, o próximo salto não depende de novos modelos de linguagem ou ferramentas mais potentes, mas da confiança que uma IA pode executar, revisar e melhorar o trabalho humano sem perder qualidade. Se conseguir vencer essa barreira, o país não só acompanhará o ritmo global, mas poderá liderar a próxima onda de inovação em engenharia de software.

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