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A Oracle assinou um acordo de 300 bilhões com a OpenAI. Dois meses depois, perdeu 315 bilhões na bolsa

Empresa financia uma fazenda de servidores com a esperança de que a OpenAI gere receita suficiente para justificar o investimento

Oracle investe pesado na OpenAI / Imagem: Oracle e OpenAI
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Victor Bianchin

Redator
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Victor Bianchin é jornalista.

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Desde que a Oracle anunciou seu acordo de 300 bilhões de dólares com a OpenAI no último dia 10 de setembro, suas ações perderam 315 bilhões de dólares em capitalização de mercado, segundo o Financial Times. A empresa tecnológica apostou tudo em uma única carta: tornar-se o principal fornecedor de infraestrutura para o laboratório de inteligência artificial mais valioso do mundo. Os investidores não estão convencidos.

A aposta mais cara de sua história

A Oracle vinculou seu futuro à OpenAI de uma forma sem precedentes na indústria tecnológica. Segundo estimativas da Jefferies, 58% de sua carteira de pedidos futuros vem de um único cliente: OpenAI. Para colocar em perspectiva, a Microsoft tem apenas 39% de concentração no seu maior cliente, e a Amazon, 16%. A Oracle se meteu em uma enrascada e sua diversificação de negócios passou a se transformar em uma dependência crítica da OpenAI.

O plano é ambicioso, mas arriscado. A estratégia da Oracle passa por alcançar 166 bilhões de dólares em receitas de computação em nuvem até 2030, segundo informou a empresa no mês passado. Para isso, seu orçamento de investimento no ano fiscal atual, que termina em maio, chega a 35 bilhões de dólares. Os analistas esperam que esse gasto anual se estabilize em torno de 80 bilhões em 2029.

Mas aqui está o problema: a partir de 2027, a maioria dessas receitas viria da OpenAI, de acordo com cálculos da RBC Capital Markets. Ou seja, a Oracle não está apenas construindo infraestrutura massiva — está construindo infraestrutura massiva para um único inquilino que ainda precisa provar sua viabilidade comercial a longo prazo.

Os números ainda não fecham

A dívida líquida da Oracle já está em 2,5 vezes seu EBITDA (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), mais do que o dobro do registrado em 2021, e espera-se que praticamente dobre novamente até 2030. Além disso, estima-se que seu fluxo de caixa livre permaneça negativo durante cinco anos consecutivos, segundo previsões da Bloomberg.

A empresa está financiando uma fazenda de servidores gigantesca com a esperança de que a OpenAI gere receita suficiente para justificar o investimento. Enquanto isso, como destacou o Financial Times, os investidores estão tão inquietos que o custo para se proteger contra um possível calote da Oracle está no nível mais alto dos últimos três anos.

A Oracle não é a única companhia que sofreu após anunciar acordos com a OpenAI. Broadcom e Amazon também viram suas ações caírem, enquanto a NVIDIA praticamente não se mexeu desde seu acordo de investimento em setembro. Há alguns meses, qualquer tipo de parceria com a OpenAI fazia as ações dispararem, com a empresa sendo tratada como um verdadeiro Rei Midas da IA. O caso mais emblemático foi o da AMD, em outubro, quando suas ações subiram 24% após anunciar um acordo envolvendo chips e warrants da companhia. Esse efeito parece ter desaparecido por completo.

Por trás disso

A teoria inicial era que a OpenAI estava numa corrida frenética para alcançar a inteligência artificial geral (AGI) e que a Oracle era a única empresa capaz de escalar a capacidade computacional necessária na velocidade exigida. A Oracle prometia os custos iniciais mais baixos e o caminho mais rápido para começar a gerar receita porque atuava como locatária de centros de dados, não como proprietária. Agora, os investidores estão sinalizando que se associar à OpenAI já não é garantia de sucesso.

O cenário alternativo é bem menos animador: a Oracle não tem tanto lucro operacional quanto seus concorrentes para queimar em P&D, então está apostando tudo em manter seu único grande cliente em troca de uma promessa futura. Amazon, Microsoft e Meta podem se dar ao luxo de gastar entre 70 bilhões e 130 bilhões de dólares por ano em infraestrutura. A Oracle está fazendo malabarismos financeiros para conseguir acompanhar.

A Oracle tem até meados de 2026 para demonstrar que seu centro de dados em Abilene, no Texas —com capacidade para mais de 400.000 GPUs e 1,4 gigawatts de energia— consegue gerar os retornos prometidos. Enquanto isso, o mercado já deu seu veredito: está esperando provas concretas de que essa parceria realmente vai entregar o que promete.

Imagem | Oracle e OpenAI

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.


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