Húngaro passou 53 anos preso em instituição psiquiátrica por só saber falar sua língua materna


A identidade do homem só foi descoberta 53 anos depois, graças a um médico que reconheceu o idioma do paciente

András Tomas com 19 anos. Créditos: Wikimedia Commons
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Laura Vieira

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Laura Vieira

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Jornalista recém-formada, com experiência no Tribunal de Justiça, Alerj, jornal O Dia e como redatora em sites sobre pets e gastronomia. Gosta de ler, assistir filmes e séries e já passou boas horas construindo casas no The Sims.

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Essa história pode até parecer cena de filme, mas aconteceu de verdade, e tudo por causa de um errinho bobo que custou 50 anos da vida de um homem. András Tomas, um soldado húngaro desaparecido na Segunda Guerra Mundial, só voltou para casa mais de meio século depois, não porque estivesse tentando fugir do passado, mas porque ninguém conseguia entender o que ele dizia. Capturado pelo exército russo aos 19 anos, András foi levado para a Rússia e acabou isolado em um hospital psiquiátrico por 53 anos. Sua identidade só foi confirmada nos anos 2000, após uma investigação que mobilizou militares, médicos e dezenas de famílias na Hungria.

Hungáro foi parar em prisão russa durante Segunda Guerra Mundial

Mas afinal, como o soldado hpungaro foi parar em uma prisão russa? András Toma nasceu na Hungria em 1925 e trabalhava como aprendiz de ferreiro quando foi convocado para o Exército Real Húngaro em 1944, com apenas 19 anos. Ele serviu em um regimento de artilharia durante a fase final da Segunda Guerra Mundial, uma região marcada pela presença das tropas soviéticas. 

O problema é que, durante os combates, o soldado acabou sendo capturado e enviado para um campo de prisioneiros no leste de Leningrado, a atual São Petersburgo, a segunda maior cidade da Rússia. Ali, sua ficha militar apareceu pela última vez em 1945, e depois desapareceu como um fantasma e a família nunca mais recebeu notícias. Anos mais tarde, em 1954, o Estado húngaro acabou declarando András como morto, assim como ocorreu com milhares de outros prisioneiros que nunca voltaram para casa. 

Homem vai parar em hospital psiquiátrico 

Quando o campo de prisioneiros foi fechado em 1947, András não voltou para casa como a maioria dos outros detentos. Por não falar russo e demonstrar dificuldades de comunicação, ele foi transferido para um hospital psiquiátrico em Kotelnich, no interior da Rússia. Dali ele nunca mais saiu, ficando preso durante 5 décadas sem conseguir se comunicar com ninguém.

Como nenhum funcionário falava húngaro, András praticamente não trocou uma frase compreensível com ninguém por mais de 50 anos. Ele recebeu o nome errado, “András Tamás”, e foi registrado como paciente do hospital, desaparecendo das listas oficiais de prisioneiros de guerra. Sem documentos, sem tradução e sem contato com o mundo exterior, ele acabou ficando esquecido no hospital durante todo esse tempo.

53 anos depois, András finalmente foi encontrado

Depois de anos e anos preso, a história começou a mudar nos anos 90, quando um médico visitante, que por acaso falava húngaro, percebeu que aquele “paciente” não estava delirando. O médico reconheceu que András ele falava um idioma que ninguém ali conhecia. Em 2000, a Rússia comunicou o fato à Hungria, e depois dai tudo mudou na vida de András.

O governo hungaro reuniu médicos, militares e intérpretes para reconstruir a história do paciente a partir das poucas lembranças que ele conseguia expressar: ele falou sobre aldeias, sobrenomes, professores e detalhes que viveu. Isso os levou até Sulyánbokor, uma pequena comunidade perto de Nyíregyháza, uma cidade na Hungria.

Lá, os dois irmãos idosos de András esperavam notícias há mais de 50 anos. O reencontro só veio em setembro de 2000, quando András abraçou seus irmãos mais novos, Janos e Anna, pela primeira vez desde 1944. A cena foi tão emocionante que até militares que acompanhavam o homem se emocionaram. Após algum tempo, o exame de DNA confirmou que eles realmente eram irmãos.

Quando voltou para a Hungria, András passou a viver com a irmã. Como nunca recebeu baixa, o Ministério da Defesa do país pagou todos os salários atrasados e concedeu a patente de sargento-mor. András Toma acabou morrendo em 2004, aos 78 anos, e foi enterrado com honras militares.

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