China se prepara para concretizar grande projeto do pai da fogueteria chinesa, expulso dos EUA após fundar laboratório da NASA

A empresa chinesa SAWES finalizou a montagem do dirigível S1500, projetado para gerar eletricidade

China testa turbinas eólicas flutuantes / Imagem: SAWES
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Victor Bianchin

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Victor Bianchin é jornalista.

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Em meados do século 20, os Estados Unidos tomaram uma decisão que mais tarde um alto oficial da Marinha descreveu como “a coisa mais estúpida que este país já fez”. Qian Xuesen, um gênio indiscutível da engenharia aeronáutica, cofundador do prestigioso laboratório JPL da NASA e figura-chave no desenvolvimento da fogueteria norte-americana, foi deportado para a China em 1955, acusado de simpatias comunistas durante a chamada caça às bruxas.

Conforme relata o Xataka Espanha, Qian, recebido como herói em sua terra natal, tornou-se o pai do programa espacial e do desenvolvimento de mísseis balísticos da China. Décadas depois, uma nova geração de engenheiros chineses, herdeiros do ecossistema científico que ele ajudou a construir, bateu um recorde mundial com uma tecnologia que persegue uma antiga ambição de Qian Xuesen: turbinas eólicas que voam como dirigíveis para captar a energia dos ventos em grandes altitudes.

Um dirigível ancorado ao solo para gerar eletricidade

No último dia 10 de outubro, nos céus de Jingmen, na província de Hubei, um aeróstato de 23 metros de comprimento, com aparência de dirigível, elevou-se até 500 metros de altura. Não se tratava de um veículo de transporte ou de vigilância, mas do S500, um sistema flutuante de energia eólica que, nessa altitude, começou a gerar mais de 50 quilowatts de potência.

Com este voo, a China não apenas colocou em marcha um projeto inovador, mas também quebrou dois recordes mundiais que até então pertenciam a uma equipe de pesquisa do MIT nos Estados Unidos: o de maior altitude de voo para uma turbina desse tipo (o anterior era de 297 metros) e o de maior potência gerada (em comparação aos 30 kW anteriores).

Sawes

O conceito, desenvolvido pela empresa SAWES em colaboração com a Universidade de Tsinghua e a Academia Chinesa de Ciências, é tão elegante quanto complexo. O sistema utiliza um dirigível preenchido com hélio para elevar uma turbina eólica a altitudes onde o vento é muito mais forte e constante do que na superfície. A eletricidade gerada é transmitida a uma estação em terra pelo mesmo cabo de alta resistência que ancora a estrutura.

A vantagem desse design é clara: a energia que pode ser extraída do vento é proporcional à sua velocidade elevada ao cubo. Além disso, a centenas de metros de altura, os ventos não apenas são mais rápidos, mas também mais estáveis, reduzindo significativamente a intermitência que prejudica os parques eólicos terrestres. Segundo os cálculos dos desenvolvedores, os recursos eólicos na estratosfera sobre uma região como Hami, em Xinjiang, são 40 vezes superiores aos da superfície.

De situações de emergência à geração em escala de rede

O S500 e seu sucessor, o S1000 de 100 kW, testado pela primeira vez em janeiro, foram desenvolvidos para resgates de emergência, segurança urbana e locais de difícil topografia. Em caso de terremoto ou inundação, o sistema pode ser rapidamente implantado para fornecer energia e comunicações na área do desastre.

Mas as ambições da SAWES vão muito além. A empresa acaba de finalizar a montagem do próximo modelo em seu roteiro: o S1500, projetado para operar a 1.500 metros de altitude, e que representa um salto gigante em capacidade, com potência de geração de 1 megawatt. É a prova de que a tecnologia não busca apenas nichos como resposta a emergências, mas aspira se tornar uma fonte de energia renovável em escala de rede elétrica.

Para atingir essa potência, o S1500 integra um complexo sistema de 12 geradores que operam simultaneamente em seu duto central. A chave para que um sistema tão potente possa voar é a engenharia de materiais: os geradores são fabricados em fibra de carbono para minimizar o peso, mantendo a estrutura completa abaixo de uma tonelada.

Assim como seu “irmão menor”, a energia é convertida em eletricidade no próprio dirigível e desce ao solo através de um cabo integrado à ancoragem. Com esse design, a SAWES conseguiu atrair o apoio de importantes fundos de investimento e contratos que já ultrapassam 500 milhões de yuans (cerca de R$ 407 milhões). A empresa abriu uma planta de montagem em Yueyang.

A história de Qian Xuesen é uma das maiores anedotas sobre as consequências imprevistas da política do medo. Como relata o Los Angeles Times, o homem que interrogou Wernher von Braun e lançou as bases do JPL foi afastado e devolvido a um país que, naquele momento, tinha um desenvolvimento científico muito inferior. Ele se encarregou de mudar isso e, agora, seus herdeiros estão materializando algumas de suas ideias em seu país natal.

Imagens | SAWES

Tradução via: Xataka Espanha.

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