Um ex-pesquisador de IA da Meta recusou a oferta de Zuckerberg para voltar à empresa ganhando 1,5 bilhão em seis anos

A aposta de longo prazo em projetos próprios às vezes supera as ofertas atrativas das grandes corporações

O que a recusa de Andrew Tulloch à Meta representa para o setor de IA? / Imagem: Marcos Merino via IA
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Victor Bianchin

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Victor Bianchin é jornalista.

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Em uma indústria onde números astronômicos já são o pão nosso de cada dia, o Vale do Silício às vezes ainda consegue surpreender com notícias relacionadas a salários. Foi o caso da oferta feita por Mark Zuckerberg a Andrew Tulloch: um pacote que poderia ter alcançado 1,5 bilhão de dólares e que causou comoção — tanto pelo valor exorbitante quanto por ter sido recusado.

Em meio a uma corrida frenética para ultrapassar a concorrência e conquistar a supremacia no campo da inteligência artificial, nas últimas semanas a Meta tem "aberto a carteira" (uma carteira colossal, vale dizer) para contratar os melhores talentos do setor — a ponto de ter acendido o alerta no Google e na OpenAI.

A empresa de Zuckerberg também está interessada em adquirir startups de ponta no setor. Quando a tentativa de comprar a Thinking Machines Lab (startup fundada por Mira Murati, ex-diretora de tecnologia da OpenAI) foi recusada, a Meta lançou uma ofensiva para contratar seus funcionários — incluindo um pacote de até 1,5 bilhão de dólares para atrair um deles em particular: Andrew Tulloch.

O surpreendente não foi apenas a recusa de Tulloch, mas que nenhum de seus outros colegas aceitou a oferta também.

Uma startup na qual seus funcionários acreditam

A Thinking Machines foi fundada em fevereiro deste ano com uma missão ambiciosa, porém deliberadamente vaga: tornar os sistemas de IA mais compreensíveis, personalizáveis e capazes.

Nestes meses, a empresa cultivou uma cultura interna baseada em hierarquias horizontais, minimização de egos e forte coesão intelectual. Também mantém um perfil discreto, ocupando uma sede modesta no distrito de Mission, em São Francisco, não muito longe da sede da OpenAI.

Mais de 20 ex-membros da OpenAI seguiram Murati ao fundar a startup, incluindo John Schulman, um dos arquitetos do ChatGPT. Essa saída não ocorreu em busca de salários melhores, mas pela perspectiva de poder desenvolver algo significativo desde o início.

Nas palavras de Murati, a startup está desenvolvendo uma “IA multimodal que funciona como você interage naturalmente com o mundo”, e espera lançar seu primeiro produto nos próximos meses. Enquanto isso, a empresa já arrecadou 2 bilhões de dólares em financiamento, representando uma das maiores rodadas iniciais (“seed”) da história do setor de tecnologia.

Quem é Andrew Tulloch e por que ele disse “Não”?

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Tulloch não é um engenheiro comum. Natural da Austrália e com a média de notas mais alta em ciências na Universidade de Sydney, ele já foi considerado um “gênio”. Depois de trabalhar no Facebook e na sua divisão de pesquisa em IA, alcançou o prestigiado título de “engenheiro distinto” — que não é apenas um elogio, mas uma categoria profissional acima de cargos como “Senior Engineer” ou “Principal Engineer”.

Sua trajetória já o havia destacado tanto que, em 2016, a OpenAI tentou contratá-lo — sem sucesso naquela ocasião. Só conseguiram em uma segunda tentativa, sete anos depois.

Agora, sua recusa em voltar para a Meta, onde trabalhou por 11 anos, foi vista por muitos como uma declaração de princípios: Tulloch provavelmente acredita que seu trabalho como cofundador da Thinking Machines valerá mais do que qualquer pacote multimilionário — apostando no longo prazo, no valor do propósito e da autonomia.

No Vale do Silício, onde pacotes de remuneração de nove dígitos costumavam ser irresistíveis, estamos vendo uma mudança cultural: embora alguns engenheiros ainda busquem mais poder ou salários, outros priorizam a coerência ética, a confiança em seus líderes e a possibilidade de fazer a diferença. Ou, ao menos, buscam mais poder e salários, mas assumindo o risco de apostar no longo prazo.

Imagem | Marcos Merino via IA

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