Quando decidi instalar placas solares em casa, não esperava que esse detalhe me causasse tanta dor de cabeça

O maior problema na hora de instalar placas solares no meu telhado não tinha nada a ver com elas | Imagem: Leopictures (Pixabay)
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Igor Gomes

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Subeditor do Xataka Brasil. Jornalista há 15 anos, já trabalhou em jornais diários, revistas semanais e podcasts. Quando criança, desmontava os brinquedos para tentar entender como eles funcionavam e nunca conseguia montar de volta.

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É muito difícil suportar o calor do verão do Rio de Janeiro sem ligar o ar condicionado durante o dia inteiro. No final de 2024, meu filho tinha pouco mais que um ano de idade, então manter a temperatura da casa amena era essencial para o bem estar dele (e dos pais também). O preço por esse conforto não foi baixo: nos três meses de verão, minha conta de luz ultrapassou R$ 3.000. 

Com a perspectiva de ter que pagar esse valor de novo no ano que vem para não sermos cozidos na nossa própria sala, minha esposa e eu decidimos instalar placas de energia solar. Encontramos uma empresa e fizemos um financiamento, com parcelas bem menores que as contas de luz. O material necessário para a instalação viria todo da empresa que contratamos. O único item que precisaríamos comprar por fora, seria o mais difícil de encontrar: as telhas. 

Caça ao tesouro

Nós compramos a nossa casa e nos mudamos um mês antes do meu filho nascer. Obviamente, visitamos várias vezes com a corretora, vimos alguns defeitos, mas não chegamos a subir no sótão coberto pelas telhas de cerâmica, onde fica a caixa d’água. No primeiro ano, tivemos alguns problemas de infiltração, mas descobrimos que eles eram causados por problemas no encanamento de água. Então não nos preocupamos em checar o telhado. 

Quando fizemos a primeira vistoria para ver a possibilidade de instalar as placas solares sobre o telhado, o engenheiro deu o primeiro alerta: precisaríamos de cerca de 50 telhas para substituir as que seriam quebradas no processo. No sótão, havia menos de dez e elas estavam deterioradas pelo tempo e pela umidade. Eis que começa uma das partes mais estressantes da obra: a caça pelas telhas. 

O padrão é não ter padrão

Se você também nunca construiu um telhado na sua casa ou nunca teve que reformar um, também não deve saber disso, mas não há um padrão de medidas de telhas que deva ser seguido na produção delas. A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) possui uma norma que determina material, peso e outras características, mas largura e comprimento, não. De acordo com Jeferson Moacir Faulim, Gerente do Programa Setorial de Qualidade de Telhas da Associação Nacional da Indústria Cerâmica (Anicer), essa falta de padronização tem origem na história da produção das telhas cerâmicas. 

“A produção de telhas no Brasil colonial era artesanal e manual, feita por grupos familiares e regionalizadas, onde a argila (barro) era moldada em fôrmas de madeira e exposta ao sol para secar, antes de ser queimada em fornos rudimentares. Com a industrialização, a produção das telhas evoluiu para atender às diferentes necessidades estéticas e de desempenho dos telhados, isso resultou em uma variedade de modelos de telhas, mantendo-se regionalizada, podendo variar de acordo com os fabricantes”, explica Jeferson Faulim. 

Essa falta de padronização tornou a compra de telhas uma verdadeira caça ao tesouro. Nenhuma loja de material de construção próxima à minha casa tinha telhas no modelo e medida que eu precisava. Cheguei a buscar o nome do fabricante escrito em baixo relevo na telha no Google Maps para ver se encontrava algum telefone de contato, e nada. 

Durante as buscas, encontrei o contato de Fernando Valente, um especialista em telhas cerâmicas que trabalha com esse tipo de material há 42 anos. Ele me deu o veredicto: a fábrica que eu procurava tinha fechado há mais de 30 anos e a única saída era procurar em “ferro velho de telhas”. Esse tipo de estabelecimento compra telhas antigas de pessoas que estão reformando suas casas e trocando as telhas antigas por novas. Graças a uma indicação dele, consegui encontrar a telha que eu preciso e a empresa já pode dar continuidade à instalação das placas de energia solar. 

Anicer quer criar um padrão a ser seguido pelos fabricantes

A falta de padronização das telhas pode estar com os dias contados. Segundo Jeferson Faulim, a Anicer criou um grupo de trabalho para regulamentar as medidas de alguns modelos de telhas cerâmicas, entre eles, romana, portuguesa e americana. “O objetivo do projeto é buscar um modelo de telha que possa ser produzido e comercializado nacionalmente, contendo as dimensões e formatos únicos, independente do processo produtivo, facilitando a aquisição e reposição do produto pelo cliente. O projeto está em fase final de testes, que estão sendo realizados em fábricas, contemplando todas as regiões do Brasil”, afirmou. As medidas não serão compulsórias para os fabricantes, que poderão decidir se aderem a elas ou não. 

Por via das dúvidas, compre mais do que vai precisar

Caso você esteja construindo um telhado colonial na sua casa e não queira passar por esse perrengue quando precisar de algum reparo, Jeferson Faulim orienta comprar telhas a mais por segurança. “Todo produto para construção civil requer, no momento da aquisição, a validação da necessidade de se adquirir uma porcentagem a mais que garanta a sua substituição. Já é habitual que produtos quantificados em metro quadrado devam ter uma margem de até dez por cento para atender recortes, inclinação, sobreposição, paginação, etc.” Se a sua situação seja a mesma que a minha, o ideal é procurar o fabricante original ou fabricantes na mesma região ou procurar telhas com a mesma medida das que você quer substituir.

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