A ideia é excêntrica, mas faz sentido. As contas de luz estão altíssimas. As caldeiras a gás estão condenadas. E a demanda por capacidade de computação continua crescendo. A solução: substituir as caldeiras por um conjunto de 500 Raspberry Pis para gerar calor.
Minicomputadores em óleo
A UK Power Networks, a maior operadora de rede de distribuição do Reino Unido, está testando a substituição de caldeiras a gás tradicionais por pequenos data centers do tamanho de uma bomba de calor.
Eles consistem em um rack de 500 minicomputadores Raspberry Pi CM4 ou CM5 imersos em óleo. O óleo aquece enquanto os computadores funcionam, e o calor é, então, distribuído para radiadores e para a água da casa.
Uma nuvem distribuída
Esses dispositivos, chamados "HeatHub", fazem parte do serviço de computação distribuída da Thermify. A empresa concluiu um projeto-piloto no País de Gales e agora espera expandir o serviço para 100 mil instalações anuais até 2030.
A Thermify acredita que famílias de baixa renda se interessarão pelo HeatHub para aliviar seus encargos financeiros, reduzindo suas contas de luz e evitando a necessidade de instalação aerotérmica. Graças à receita da nuvem, a empresa pode oferecer uma alternativa barata e de baixo carbono.
Como funciona
Dentro de cada contêiner do HeatHub, 500 módulos Raspberry Pi trabalham incansavelmente, processando cargas para os clientes do serviço de nuvem distribuída da Thermify. Todo esse hardware é resfriado por imersão, o que, neste caso, tem dupla finalidade: permitir que o calor gerado seja capturado com eficiência para que seja usado como aquecimento.
O calor residual é transferido para o sistema de aquecimento central e de água quente da casa, servindo como um substituto plug-and-play para uma caldeira a gás convencional.
Quanto ao impacto na conexão com a internet: para minimizar a largura de banda do cliente, cada unidade possui uma conexão de rede dedicada.
Contas mais baixas
Por que alguém instalaria o data center de outra pessoa em sua casa? Pelo mesmo motivo que as antenas de celular são instaladas nos telhados dos edifícios: dinheiro. Nesse caso, os clientes pagam uma mensalidade fixa de 5,60 libras por mês (cerca de R$ 41), o que reduz suas contas em 40% sem perda de capacidade de aquecimento.
Além da economia individual, a proposta da Thermify e da UKPN faz sentido do ponto de vista ambiental: ela usa energia duas vezes, aproveitando o calor que os data centers tradicionais normalmente desperdiçam. Talvez o maior obstáculo que a Thermify enfrenta seja a concorrência. Outras empresas, como a francesa Qarnot e as britânicas Heata e Deep Green, já estão trabalhando em projetos semelhantes, aquecendo tudo, de tanques de água a piscinas públicas.
Imagens | UKPN, Thermify
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