Vestígios de antigo DNA revelam origem da primeira pandemia que dizimou o Império Bizantino — e micróbio continua ativo atualmente

Mais de 10 mil pessoas morreram diariamente durante a Praga de Justiniano

(Getty Images/Microgen Images/Science Photo Library)
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Bárbara Castro

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Bárbara Castro

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Jornalista com pós-graduação em Cinema que passava as tardes vendo Cartoon Network e History Channel quando criança. Coleciona vinis, CDs e jogos do Nintendo DS e 3DS (e estantes que não cabem mais livros). A primeira memória com um computador é de ter machucado o dedo em uma ventoinha enquanto um de seus pais estava montando um PC.

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Arqueólogos finalmente descobriram uma evidência direta do micróbio que causou o que é dita como a primeira pandemia do mundo. Conhecida como Praga de Justiniano, essa epidemia afetou o mediterrâneo e mais diretamente o Império Bizantino e o Sassânida, levando cerca de 10 mil pessoas a morte diariamente entre os anos de 541 e 549. Agora, sabemos que ela é o mesmo vírus da Grande Peste. 

Uma pesquisa feita pela Universidade de South Florida e Atlantic University, em colaboração com a Índia e Austrália, conseguiu achar vestígios na antiga cidade de Jerash, na Jordânia, perto do acredita-se ser o epicentro da pandemia (Egito), em um cemitério. 

A amostra de um dente de cerca de 1500 anos provou oficialmente que o micróbio Y. pestis, ou peste bubônica, é o responsável pela primeira pandemia. Essa é a mesma peste por trás da Grande Peste, que resultou na morte de 25 a 75 milhões de pessoas na Eurásia entre 1347 e 1351. 

Por anos historiadores vem teorizado que o Y. pestis poderia ser o responsável, mas a falta de evidências genéticas impossibilitaram de oficializar esse pensamento. 

(Getty Images/duncan1890) Ilustração da Roma Antiga durante a peste de Justiniano

A pesquisa ainda ajuda a entender a presença da peste atualmente, já que em julho deste ano foi registrado uma morte por peste pneumônica, uma das infecções mais fatais da peste. 

"Esta descoberta fornece a tão esperada prova definitiva da presença da Y. pestis no epicentro da Peste de Justiniano", disse Rays H. Y. Jiang, PhD, principal pesquisador dos estudos e professor associado da Faculdade de Saúde Pública da USF. "Durante séculos, confiamos em relatos escritos que descreviam uma doença devastadora, mas não tínhamos nenhuma evidência biológica concreta da presença da peste. Nossas descobertas fornecem a peça que faltava nesse quebra-cabeça, oferecendo a primeira janela genética direta para entender como essa pandemia se desenrolou no coração do império."

Uma pesquisa complementar também analisou o traço evolutivo do Y. pestis, comprovando que esteve presente no mundo cerca de um milênio antes da Praga Justiniana e muitas pestes causadas pelo micróbio não são da mesma linha ancestral.

"O sítio arqueológico de Jerash oferece um raro vislumbre de como as sociedades antigas responderam a desastres de saúde pública", disse Jiang. "Jerash foi uma das principais cidades do Império Romano do Oriente, um centro comercial documentado com estruturas magníficas. O fato de um local outrora construído para entretenimento e orgulho cívico ter se tornado um cemitério coletivo em um momento de emergência demonstra como os centros urbanos provavelmente ficaram sobrecarregados."

Temos conhecimento da Praga pelo historiador Procópio de Cesareia, que serviu o Imperador Justiniano I durante esse tempo. Ele também anotou que Justiniano foi um dos raros exemplos de ter contraído a peste e sobrevivido no ápice da Praga.

Capa da matéria: Getty Images/Microgen Images/Science Photo Library

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