O lançamento do GPT-5 tem sido, em linhas gerais, decepcionante. A OpenAI precisava, com esse modelo, dar o maior salto da história da IA, mas nos deparamos com um modelo que trouxe apenas melhoras ordinárias. E, ainda assim, ele está conseguindo algo mais importante do que parece: convencer as empresas.
As críticas cercaram esse lançamento, mas a verdade é que o modelo parece estar atraindo cada vez mais empresas. Entre elas estão Cursor, Vercel, JetBrains e Factory, que afirmam ter adotado o GPT-5 como modelo padrão em vários produtos devido ao fato de que sua implementação é mais rápida e oferece melhores resultados em tarefas complexas. Aaron Levi, CEO da Box, declarou à CNBC que o GPT-5 é "um grande avanço" e possui um nível de raciocínio que outros modelos não conseguem igualar.
Os anúncios dos responsáveis por essas empresas em seus respectivos blogs mostram, sem dúvida, visões muito positivas, mas é preciso levar em conta que são declarações que coincidiram com o lançamento e que, entre outras coisas, fazem parte das dinâmicas empresariais: as companhias se apoiam entre si porque isso permite fortalecer alianças para o futuro. Mas essas mesmas empresas que falam do GPT-5 são, por necessidade, agnósticas: funcionam como passarelas para um grande número de modelos que, depois, são usados pelos usuários para decidir quais lhes convêm mais em cada momento.
A Cursor, por exemplo, permite usar como base o Claude Opus 4.1, o GPT-5, mas também muitos outros modelos de IA que podem ser mais interessantes para os usuários tanto pelo desempenho quanto pelo preço. As declarações de fontes anônimas próximas a essas companhias são promissoras para a OpenAI, mas não definitivas.
Anthropic em apuros?
O grande prejudicado neste caso é o Claude, o chatbot da Anthropic, que era especialmente bem avaliado no segmento empresarial. Mas o GPT-5 melhorou nos benchmarks de programação e design de interface, duas áreas em que o Claude costumava ser a opção preferida pelas empresas. Segundo um estudo da Menlo Ventures, o Claude havia conseguido até agora superar a OpenAI no uso de seus modelos em empresas. Assim, sua fatia de mercado era de 32% contra 25% da OpenAI.

A Anthropic depende muito do uso de seu chatbot e de sua API nas empresas: isso representa 80% de sua receita. A companhia não está nada mal, e espera-se que sua receita anual seja 17 vezes maior do que a obtida em 2024. De fato, nos últimos seis meses, eles faturaram 3 bilhões de dólares (1 bilhão em junho) e os contratos de oito e nove dígitos se multiplicaram por três em relação ao ano anterior. Fontes próximas à empresa indicam que o gasto médio por cliente se multiplicou por cinco nos últimos doze meses.
O GPT-5 parece ser mais barato
Há um fator-chave nesse avanço da OpenAI sobre a Anthropic: o GPT-5 é até 7,5 vezes mais barato que o Claude Opus 4.1, a última versão desse chatbot. Para os clientes empresariais, essa diferença é crucial e permite a implementação do modelo de forma muito mais massiva.
Mas há um problema nessa vantagem. Não para as empresas, claro, mas para a OpenAI. A empresa comemorou em junho ao indicar que tinha três milhões de usuários empresariais pagos (eram dois milhões em fevereiro) e o GPT-5 parece estar impulsionando esse número. A Anthropic, teoricamente, teria ainda mais, ao menos segundo o estudo da Menlo Ventures citado anteriormente.
Mas os preços da OpenAI para sua API indicam que o GPT-5 custa 1,25 dólar por milhão de tokens de entrada e 10 dólares por milhão de tokens de saída. O Claude Opus 4.1 custa 15 e 75 dólares, respectivamente, em entrada/saída. Parece, de fato, que o GPT-5 é muito mais barato, mas é preciso cuidado, porque quando o GPT-5 aplica raciocínio, podem ser gerados passos intermediários de raciocínio, e esses tokens também são cobrados, mesmo que não “apareçam” nas respostas finais. Nesses casos, pode ser que o GPT-5 não seja “tão barato” em comparação com o Claude Opus 4.1, que certamente é um dos modelos mais caros atualmente.
Os modelos que “raciocinam” fazem sucesso nas empresas
O êxito do GPT-5 nas empresas se deve tanto à sua melhora em tarefas de programação como, sobretudo, às de raciocínio. Essa variante dos modelos multiplicou por oito seu uso entre esses clientes: os clientes empresariais utilizam de forma intensiva os modelos de raciocínio —mais caros, mas também mais precisos—, principalmente em tarefas de planejamento e de raciocínio em várias etapas. É aí que o GPT-5 parece se destacar, como demonstraram seus resultados em testes como o ARC-AGI 2.
A OpenAI criou uma equipe de vendas com mais de 500 profissionais dedicados a vender o produto para as empresas. Trata-se de um esforço independente da aliança com a Microsoft —com a qual estão competindo nesse mercado— e que enfrenta um problema. Esses preços tão baixos não são reais, porque o GPT-5 continua sendo caríssimo de oferecer aos usuários. De fato, espera-se que a OpenAI gaste cerca de 8 bilhões de dólares neste ano e um uso ainda mais intensivo de seus modelos implica mais gastos em infraestrutura para fornecer esse serviço.
Imagem | das | Fortune Brainstorm Tech
Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.
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