O Google conquistou o mundo ao abrir as portas para o Android; a Huawei percebeu isso e está implementando o mesmo plano

  • A Fundação OpenAtom anuncia que o OpenHarmony atingiu seu "nível de desenvolvimento";

  • A Huawei replica a estratégia que levou ao sucesso do Android: liberar o código-fonte para criar um padrão da indústria

O Google conquistou o mundo ao abrir as portas para o Android. A Huawei percebeu isso e está implementando o mesmo plano.
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Fabrício Mainenti

Redator

A história não se repete exatamente, mas rima. Há quase duas décadas, o Google tomou uma decisão que definiria a era dos smartphones: distribuir um sistema operacional de código aberto. Por meio do Android Open Source Project (AOSP), ofereceu aos fabricantes um sistema gratuito e modificável, criando um padrão que domina o mundo atualmente. Agora, em um contexto geopolítico diferente, a Huawei está executando essa mesma estratégia com grande precisão com o OpenHarmony.

O Google conquistou o mundo ao abrir as portas para o Android. A Huawei percebeu isso e está implementando o mesmo plano.

Graduação

A Fundação OpenAtom, a primeira organização de código aberto da China, acaba de anunciar que o OpenHarmony alcançou a "graduação". No mundo do código aberto, isso não é uma mera formalidade burocrática: sinaliza que o projeto atingiu a maturidade técnica necessária para se sustentar e escalar para um nível industrial.

Com mais de 2,27 milhões de desenvolvedores ativos no ecossistema chinês, o OpenHarmony deixou de ser um experimento e se tornou uma alternativa real. De fato, o hardware projetado especificamente para testá-lo está se tornando cada vez mais comum.

Uma estratégia que parte da Open Source

A Huawei doou o código-fonte do OpenHarmony para a fundação, desvinculando-o de sua marca registrada HarmonyOS. Isso é exatamente o que o Google fez com o AOSP. Ao liberar o kernel, a Huawei permite que outros fabricantes adotem o sistema sem pagar licenças e sem depender de uma empresa sancionada pelos EUA.

Isso cria uma enorme base instalada que, a longo prazo, beneficia sua versão comercial, como já aconteceu com o Android: o HarmonyOS Next representa o compromisso total da Huawei com o software. Embora o HarmonyOS seja um sistema parcialmente fechado com componentes proprietários, ele prospera graças à inovação e ao ecossistema de aplicativos gerados pela sua base aberta.

O Google fecha portas, a Huawei as abre

A ironia é palpável se observarmos os eventos atuais. Enquanto a Huawei busca a abertura para sobreviver e expandir seu sistema operacional, o Google vem progressivamente cortando o financiamento do AOSP. Nos últimos anos, as partes mais valiosas do Android foram transferidas para o GMS (Google Services), deixando o AOSP como uma casca vazia.

Agora, suas atualizações serão lançadas com menos frequência e os celulares Pixel não serão mais a referência para desenvolvimento. Além disso, o recente anúncio restringindo a instalação de APKs externos e o controle do sistema contrasta fortemente com a necessidade da Huawei de atrair todos os desenvolvedores possíveis, chegando a fornecer linguagens de código aberto como o Cangjie para competir com Kotlin e Swift.

A empresa também abriu caminho para o sideloading, sem exceções, na versão para PC do HarmonyOS.

Um ecossistema "puro" com fundamentos abertos

O HarmonyOS Next eliminou todos os vestígios de código Android (Linux, AOSP) para ser um sistema 100% independente. No entanto, seu sucesso depende do OpenHarmony se tornar o padrão na indústria chinesa, assim como o AOSP foi para o Ocidente.

Já vimos esse sistema de código aberto rodando em celulares de outras marcas, como a OnePlus, demonstrando sua viabilidade fora do portfólio da Huawei. Se o Google conquistou o mundo distribuindo seu sistema operacional, a Huawei aposta que pode conquistar a China (e talvez outros países) fazendo exatamente o mesmo. Isso acontece justamente quando sua rival começa a esquecer suas origens abertas. 

Veremos como o HarmonyOS evoluirá em um futuro próximo; por enquanto, os usuários aguardam o lançamento do HarmonyOS 6 no país de origem da Huawei.

Imagem da capa | Pepu Ricca com Nano Banana (e edição)

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