Um jovem de 26 anos afirma ter sido demitido do que considerava seu "emprego dos sonhos" na PwC, onde desenvolvia agentes de inteligência artificial. Agora, ele teme que a tecnologia que criou possa ter levado a mais cortes de empregos.
O jovem, chamado Donald King, contou à Fortune que sua demissão da consultoria, uma das "Big Four", o pegou de surpresa, e reconhece que os agentes de IA em que trabalhava podem estar ligados a outras demissões.
Não seria a primeira vez que profissionais relatam ter trabalhado em projetos em empresas que acabaram se tornando a própria tecnologia que eventualmente os substituiria. Embora, às vezes, o plano dê errado, e haja pessoas pagas para corrigir bugs causados pela IA.
Como ele conseguiu seu "emprego dos sonhos"
Este jovem conta como, após se formar em finanças pela Universidade do Texas em Austin (2021), conseguiu um emprego em uma das quatro maiores consultorias: a PwC. Ele se mudou para Nova York e assumiu a gestão de um importante cliente da empresa, a Oracle.
Algum tempo depois, como o jovem relatou, a PwC anunciou um investimento de um bilhão de dólares (cerca de R$ 5,3 bilhões) em IA. Ele conta que ficou fascinado pela tecnologia e se candidatou a uma vaga na equipe de desenvolvimento de IA da empresa. Afirma que jamais imaginou que isso levaria à sua demissão, pois as máquinas que ele estava construindo fariam o seu trabalho, e logo entendeu por que os consultores são chamados de "executores".
Trabalhando entre 60 e 80 horas por semana, ele se dedicou completamente à tecnologia, chegando a organizar sessões de compartilhamento de conhecimento sobre agentes de IA dentro da empresa, que atraíram até 250 participantes, conforme relatado pela Fortune.
King trabalhava muitas horas, inclusive nos fins de semana, mas tinha certeza de que estava se destacando em sua função como gerente de produto e cientista de dados.
"Eu programava e gerenciava uma equipe tanto localmente, quanto remotamente. Eu tinha orgulho de ser um jovem com um salário muito alto, criando agentes de IA para empresas da Fortune 500", disse King à Fortune.
Ele tinha orgulho do que fazia e não se importava de trabalhar de 60 a 80 horas por semana para seus empregadores.
Ele percebeu que estava criando máquinas para substituir pessoas
King conta que começou a questionar o impacto do seu trabalho e percebeu como os agentes de IA que estava criando para grandes corporações poderiam, sem dúvida, automatizar muitas funções humanas, talvez até departamentos inteiros.
Por exemplo, um agente do Microsoft Teams criado por seu grupo imitava uma pessoa real, e isso o incomodava. "Tivemos uma reunião tarde da noite com todos os caras que estavam trabalhando nesse projeto", diz ele, e nessa reunião eles estavam estressados: "que diabos estamos construindo?".
Em outubro de 2024, oito meses após assumir seu último cargo na PwC, este jovem apresentou seu projeto, vencedor de um hackathon da OpenAI. Tratava-se de uma frota de agentes de IA que automatizava tarefas manuais.
King estava orgulhoso e confiante em sua posição na empresa, mas duas horas depois, seus chefes ligaram para informá-lo de sua demissão. O jovem de 26 anos gravou a reunião e a publicou no TikTok. Ele afirma que a ligação o pegou "completamente de surpresa".
King esclarece que não acredita que tenha havido má intenção por trás de sua demissão, argumentando que, provavelmente, foi um funcionário demitido aleatoriamente, embora associe os agentes de IA que criou para clientes da PwC às demissões que ocorreram logo em seguida nessas empresas clientes. O que ele não sabe ao certo é se esses agentes substituíram seu trabalho ou se a demissão ocorreu porque a empresa tinha excesso de funcionários.
Imagem de capa | Adam Jones no Unsplash
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