Se tem um setor que decidiu colocar o pé no acelerador na América Latina, é o de internet via satélite. E, nesse cenário, a Starlink reina absoluta — pelo menos por enquanto. A empresa de Elon Musk não só domina 98,2% de todos os Speedtests feitos com conexões satelitais na região no terceiro trimestre de 2025, como também ostenta velocidades que deixam a concorrência comendo poeira. Mas, como toda hegemonia em tecnologia, o trono vem ficando cada vez mais disputado.
De acordo com dados de mercado analisados pela ookla, o crescimento da Starlink na América Latina é explosivo. A empresa já lançou mais de 10 mil satélites desde 2019, controla até 90% das naves de comunicação do planeta (excluindo constelações chinesas) e já soma 8 milhões de usuários no mundo — um salto de 14% em apenas 69 dias entre agosto e novembro de 2025. Brasil e México juntos respondem por mais de 425 mil usuários, cerca de 10% da base global registrada no fim do ano passado.
O impacto disso aparece no desempenho. No terceiro trimestre de 2025, a Starlink entregou média de 82,54 Mbps na região — bem acima dos 32,73 Mbps da Viasat e dos 15,93 Mbps da HughesNet. Em países como a República Dominicana, a performance já rivaliza com a dos provedores fixos tradicionais. Em outros, como o Chile, ainda há uma distância enorme: por lá, serviços de fibra chegam a 354,53 Mbps, enquanto a Starlink bate 106,38 Mbps.
Essa disparidade tem motivo. A Starlink opera com satélites em órbita baixa (LEO), mais numerosos e mais próximos da superfície. Já Viasat e HughesNet seguem com satélites grandes em órbita geoestacionária (GEO), muito mais altos — o que implica mais latência e menos velocidade. É uma arquitetura que está ficando ultrapassada diante da escalada agressiva da SpaceX.
A Amazon vem aí
Mesmo assim, ninguém está jogando a toalha. HughesNet e Viasat trabalham em novos satélites para turbinar suas ofertas, enquanto um novo gigante se prepara para entrar no jogo: a Amazon. A constelação Amazon Leo deve estrear comercialmente ainda este ano, e parcerias já foram anunciadas em países como Argentina, Brasil, Chile, Uruguai, Peru, Equador e Colômbia via DirecTV e Sky.
Enquanto isso, a expansão da Starlink continua bem tranquila. Desde 2023, o serviço chegou a 11 novos mercados latino-americanos — de Peru e Colômbia a Costa Rica, Honduras, Paraguai e, mais recentemente, a Guiana. Nos países da América Central, inclusive, a empresa já registra quedas de latência graças à instalação de novas estações terrestres que encurtam o caminho dos dados até a “espinha dorsal” da internet global.
Mesmo com o avanço, a presença da tecnologia ainda é pequena no todo. Em 2024, serviços satelitais representaram só 1% da receita de banda larga na região — um mercado avaliado em US$ 56 bilhões. Mas para populações rurais, onde o cabo não chega ou chega mal, essa revolução orbital pode finalmente significar conexão digna. Em países como Guatemala, onde milhares de escolas seguem sem acesso adequado, os satélites continuam sendo a única solução viável.
E a corrida está longe do fim. Com a chegada da Amazon, o reforço da concorrência clássica e a promessa dos novos satélites V3 da Starlink — que devem ser turbinados pelos lançamentos do foguete Starship —, a disputa pela internet do alto deve ficar ainda mais intensa.
Créditos de imagens: Jonathan Raa/NurPhoto via Getty Images e Thomas Fuller/SOPA Images/LightRocket via Getty Images
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