Pesquisadores chineses finalmente esclareceram por que o solo coletado no lado oculto da Lua pela missão Chang’e 6 apresenta uma coesão inesperadamente alta, um comportamento mais parecido com terra úmida do que com o material solto já obtido no lado visível. A descoberta, publicada na Nature Astronomy, tem implicações diretas para futuras bases lunares.
A investigação começou em 2024, quando o designer-chefe Hu Hao notou que o material trazido da Bacia Polo Sul–Aitken estava “mais viscoso e aglomerado” do que o esperado. A Chang’e 6 havia retornado 1.935 gramas de amostras, marcando a primeira coleta da história no lado oculto.
O processo do estudo
Para entender essa coesão incomum, a equipe do Instituto de Geologia e Geofísica da Academia Chinesa de Ciências realizou testes de fluxo granular, como medições de ângulo de repouso e análises de composição. Os resultados mostraram que o solo possui um ângulo de repouso muito maior do que o de amostras do lado visível, indicando comportamento semelhante ao de solos coesivos da Terra.
A explicação surgiu com tomografias de alta resolução de mais de 290 mil partículas individuais. As amostras apresentaram partículas extremamente finas, com diâmetro médio de apenas 48,4 micrômetros, além de formas irregulares e pontiagudas, o oposto do que seria esperado para grãos tão pequenos, que normalmente são mais esféricos.
Segundo o pesquisador Qi Shengwen, essa combinação cria uma “tempestade perfeita” para a aderência. As partículas finas ampliam a ação de forças microscópicas como Van der Waals e eletricidade estática, enquanto a irregularidade aumenta o atrito entre os grãos. Os cientistas sugerem que o fenômeno pode estar ligado a um maior teor de minerais de feldspato, mais suscetíveis a fraturas, e a efeitos mais intensos de intemperismo espacial no lado oculto.
A pesquisa oferece a primeira explicação sistemática para o comportamento coesivo do solo da Chang’e 6 sob a perspectiva da mecânica granular. Se trata de um conhecimento fundamental para planos chineses de exploração lunar, incluindo a construção de uma estação de pesquisa até 2035. Ainda assim, os pesquisadores destacam que será preciso investigar mais a fundo se esse solo pegajoso poderá ser usado efetivamente como material de construção em futuras bases lunares.
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