Um novo conjunto de estudos publicados na revista The Lancet acende um alerta internacional sobre o rápido avanço dos alimentos ultraprocessados (UPFs) nas dietas de vários países. Segundo os pesquisadores, o crescimento contínuo desse tipo de produto já está associado ao agravamento de doenças crônicas e ao enfraquecimento da segurança alimentar, exigindo respostas coordenadas e firmes por parte de governos ao redor do mundo.
Os UPFs, definidos pelo sistema Nova como produtos industriais formulados com ingredientes altamente processados, aditivos cosméticos e substâncias derivadas de commodities baratas, estão substituindo refeições frescas e minimamente processadas em escala global. De acordo com a série de três artigos, essa mudança alimentar está diretamente ligada a maior risco de obesidade, diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, depressão e mortalidade precoce.
Os autores argumentam que, embora debates acadêmicos sobre definições e classificações continuem, as evidências já são robustas o suficiente para justificar intervenções urgentes. A demora na adoção de políticas públicas, alertam os especialistas, tende a reforçar o domínio de grandes corporações transnacionais que lucram com a expansão desses produtos e atuam politicamente para impedir regulações mais rígidas.
Pesquisadores pedem por ações no âmbito político
Entre as recomendações apresentadas estão a inclusão de marcadores de ultraprocessamento em rótulos frontais, restrições à publicidade (especialmente a dirigida a crianças) e limites mais claros ao uso de ingredientes que caracterizam UPFs, como corantes, aromatizantes e adoçantes artificiais. A série também destaca a necessidade de retirar esses produtos de ambientes públicos, como escolas e hospitais, além de criar impostos específicos para financiar o acesso a opções mais saudáveis.
Os pesquisadores enfatizam que melhorar a alimentação global não pode recair sobre escolhas individuais. Para eles, o problema é estrutural, movido por um sistema alimentar dominado por poucos conglomerados internacionais capazes de influenciar políticas, moldar debates públicos e expandir mercados. Reduzir o poder dessas empresas, afirmam, é essencial para transformar o ambiente alimentar e proteger a saúde pública.
A série também chama atenção para a importância da equidade. Em muitos países, famílias de baixa renda dependem dos UPFs por questões de preço e conveniência. Por isso, políticas de restrição devem estar acompanhadas de subsídios, incentivo à produção local e oferta ampliada de alimentos frescos.
Para os autores, enfrentar o avanço dos ultraprocessados requer algo semelhante às ações que limitaram o poder da indústria do tabaco: uma mobilização global, consistente e sustentada. Sem isso, alertam, o impacto dos UPFs sobre a saúde e sobre a sustentabilidade continuará a se aprofundar.
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