Um pesquisador tem a solução para aumentar a natalidade: limpar nosso sêmen de microplásticos

O plástico que ingerimos pode ter efeitos prejudiciais maiores do que imaginamos

Microplásticos no sêmen / Imagem: FlyD
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Victor Bianchin

Redator
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Victor Bianchin é jornalista.

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No universo do biohacking extremo, Bryan Johnson atua em outro nível. O bilionário da tecnologia, conhecido por seu “Projeto Blueprint”, que tem como objetivo alcançar a juventude eterna com um financiamento de dois milhões de euros, anunciou uma drástica redução de microplásticos em seu corpo, medida no lugar mais íntimo possível: seus testículos.

Um dos grandes inimigos da sociedade atual está, sem dúvida, nos microplásticos e nos disruptores endócrinos que nos cercam. Garrafas, potes, alimentos e afins podem ser foco desse tipo de elemento, ameaçando nossa integridade. E isso está atualmente sob investigação, pois ainda não se sabe exatamente o que significa ter uma alta concentração de microplásticos em nosso sangue.

A ciência apontou no passado que, nos testículos, é possível encontrar níveis elevados de microplásticos, mas até agora não se sabia exatamente quais implicações isso tinha. Foi isso que Bryan Johnson quis investigar dentro de seu projeto, buscando encontrar o mecanismo para retroceder o “relógio biológico” e esclarecer suas dúvidas sobre como isso afetava a fertilidade masculina.

O experimento

Como se fazem demonstrações na ciência? Com ensaios clínicos, se for com humanos. Neste caso, Johnson se utilizou como próprio sujeito no chamado “experimento n=1”. Para isso, analisou a concentração de microplásticos no sêmen e no sangue em diferentes períodos de tempo, como comentou em uma publicação no X.

No caso dele, a medição de microplásticos no sêmen apontou o seguinte:

  • Em novembro de 2024, eram 165 partículas por mililitro.
  • Em julho de 2025, foram 20 partículas por mililitro.

Aqui, é possível ver uma redução importante na concentração de microplásticos no sêmen. No sangue, também ocorreu algo similar, com uma redução de 70 para 10 partículas por mililitro em apenas sete meses. Literalmente, ele conseguiu “lavar” seu sêmen para retirar os microplásticos, com o objetivo de melhorar a fertilidade.

Além do choque inicial de medir plástico no sêmen, Johnson afirma que seus resultados oferecem “uma nova esperança” para a desintoxicação desses contaminantes. Mas, qual é a veracidade disso tudo? Estamos realmente tão contaminados? E sua “cura” faz sentido?

A ciência está de olho

Uma meta‑análise de 36 estudos, publicada na Environmental Pollution, confirmou que os microplásticos são um inimigo claro da fertilidade masculina. Eles induzem estresse oxidativo no sistema reprodutivo, o que desencadeia inflamação testicular, morte celular e, consequentemente, redução nos níveis de testosterona, podendo influenciar a concentração de espermatozoides por mililitro de sêmen.

Mas não para por aí: um segundo estudo, publicado na Science of The Total Environment, analisou 23 amostras de testículos humanos (provenientes de autópsias) e 47 de cães. Encontraram microplásticos em 100% das amostras humanas e em todas as dos cães. Tudo isso deixou Johnson com algo claro: manter-se longe de qualquer plástico que pudesse entrar em sua alimentação.

A desintoxicação

Mas… como se limpa o sêmen? Essa é a grande pergunta que todos podemos ter em mente (e que muitos gostariam de testar, se fosse comprovado). Embora o próprio Johnson admita que se trata de uma hipótese, sua equipe acredita que a terapia “mais responsável” para essa drástica redução seja a sauna.

O protocolo dele é intenso: 20 minutos diários a 93°C (200°F), com uma peculiaridade: “com gelo nos testículos” (uma prática comum para proteger a espermatogênese do calor extremo). Mas isso é complementado por outras estratégias, como, por exemplo:

  • Não aquecer alimentos no micro-ondas usando recipientes de plástico.
  • Não usar tábuas de corte de plástico (que liberam milhões de partículas por ano).
  • Usar um sistema de água por osmose reversa.

A hipótese sugere que a sauna é o sistema de desintoxicação, mas agora é necessário buscar evidências que a confirmem. Atualmente, na literatura, podem ser encontrados alguns artigos que tentam apoiar isso.

Para estabelecer alguma relação, podemos recorrer a um estudo de 2012, publicado na Environmental Public Health, que confirmou que o suor induzido pela sauna é eficaz para eliminar metais pesados como cádmio e chumbo, além de plastificantes como bisfenol (BPA) e ftalatos.

No entanto, há uma diferença crucial: os plastificantes não são microplásticos. O BPA é uma molécula química que se desprende do plástico; os microplásticos são partículas físicas. Atualmente, não há evidência científica direta de que partículas físicas de plástico possam ser excretadas pelo suor.

O que aconteceu?

Levando tudo isso em conta, a pergunta obrigatória é esta. O mais provável é que a “desintoxicação” de Johnson seja resultado de sua segunda estratégia: a evitação. Ao deixar de ingerir e absorver microplásticos (graças à água filtrada e à não utilização de plásticos na cozinha), seu corpo teve a oportunidade de se limpar por vias naturais. O papel da sauna, embora plausível para os químicos associados ao plástico, continua especulativo para as partículas físicas, que é a questão central neste caso.

Além da sauna, o dado mais importante que Johnson fornece é a esperança. Um dos grandes temores nesse caso seria que a contaminação fosse acumulativa e irreversível, mas, a partir desse dado, não é assim. Contudo, isso deve ser considerado com muita cautela, pois a significância estatística é praticamente inexistente, assim como a validade externa.

Para chegar a uma conclusão desse nível, seria necessário realizar um estudo completo, protocolado com grupos de homens formados aleatoriamente e que respeitasse os princípios dos “Ensaios Clínicos Randomizados”. Esse resultado pode ser apenas o primeiro passo para que a ciência na área da fertilidade investigue muito mais a fundo essa questão.

Imagens | FlyD

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.


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