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Imagens de satélite da Antártida revelam algo preocupante: ela está mais verde que branca

  • Um grupo de cientistas comparou imagens de satélite da Antártida dos últimos 40 anos

  • O resultado é que há cada vez mais áreas verdes, e isso não é bom nem para a Península Antártica, nem para o planeta

Antártida está ganhando cada vez mais uma cobertura verde
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Victor Bianchin

Redator

Victor Bianchin é jornalista.

A Antártida está cada vez mais coberta por vegetação. E isso é algo desastroso. A região se tornou um dos termômetros que os cientistas utilizam para medir os efeitos das mudanças climáticas. Por exemplo, em setembro, descobrimos que a Antártida está se elevando cerca de cinco centímetros por ano. Esse fenômeno é fascinante, mas também levanta a dúvida sobre como isso afetará a elevação do nível do mar.

Agora, os pesquisadores compararam imagens de satélite dos últimos 30 a 40 anos e concluíram que a vida vegetal está ganhando terreno sobre o gelo. E em uma velocidade espantosa.

A Antártida verde

A vida vegetal aumentou nesse ambiente extremamente hostil mais de dez vezes nos últimos 40 anos. A pesquisa foi realizada por cientistas das universidades britânicas de Exeter e Hertfordshire, que utilizaram imagens de satélite capturadas pelo programa Landsat da NASA e imagens multiespectrais para monitorar a vegetação. Os resultados foram apresentados em artigo publicado na revista Nature.

Os pesquisadores perceberam que, em 1986, havia menos de um quilômetro quadrado da Península Antártica com a cor verde, algo que aumentou para 11,9 km² em 2021. A tendência de 1986 a 2016 foi de um crescimento de 0,31 km² por ano, mas o índice disparou entre 2016 e 2021, alcançando um aumento da área vegetal de 0,42 km² anual. Atualmente, a densidade da vegetação continua aumentando, algo que pode ser claramente visto nas imagens:

Antártida

Está aquecendo

E o calor é o grande responsável por tudo isso. Nos últimos 60 anos, a Antártida se aqueceu significativamente e em um ritmo mais acelerado do que o resto do mundo. Os últimos verões são bons exemplos, com temperaturas até 20 graus acima do normal em 2022 e cerca de 10 graus acima do normal em meados de julho de 2024. Os modelos preveem que a região continuará se aquecendo até 2100 a uma taxa média de 0,34 grau por década.

Quanto mais gelo derrete, mais espaço há para a vegetação e mais chuvas ocorrem na região, o que ajuda as plantas a crescerem. Mas... como as sementes estão chegando à Antártida? Em declarações à CNN, Thomas Roland, um dos autores do estudo, afirma que "sementes, esporos e fragmentos de plantas podem chegar facilmente à Península Antártica nas botas ou no equipamento de turistas e pesquisadores, mas também por rotas mais 'tradicionais', como as aves migratórias ou o vento".

Vegetação colonizadora

Pois bem, esses quase 12 km² verdes são apenas uma porção minúscula dos 522.000 km², mas o problema não está no tamanho da Antártida verde, e sim na rapidez com que a vegetação está se expandindo. Além disso, outro fator preocupante é que, nos últimos anos, foi observado um aumento no ritmo de colonização vegetal devido às temperaturas mais elevadas.

Para os seres vivos nativos, isso também representa um problema. Essa colonização de plantas estranhas ao ecossistema irá, rapidamente, ocupar o espaço da vida silvestre nativa. Além disso, embora os resultados apresentados pela equipe já sejam preocupantes, o professor Matthew Davey, da Associação Escocesa de Ciências Marinhas, afirma que pode haver mais vegetação do que os pesquisadores identificaram. Isso ocorre porque o estudo se concentra nos campos de musgo, mas também há líquens, grama e algas verdes e vermelhas que contribuem para o aumento da área de vegetação na Antártida.

Antártida Fotos do estudo

Adeus ao grande espelho

Outros pesquisadores que não participaram do estudo, como Andrew Shepherd, chefe do Departamento de Geografia da Universidade de Northumbria, afirmam que os resultados são "muito interessantes" e concordam que as condições estão ideais para que a vida agora tenha um ponto de apoio para se desenvolver. E tudo pode se acelerar, não apenas pelo aumento das temperaturas, mas também pelos efeitos secundários.

Como a maior parte da superfície está coberta de gelo, a Península Antártica age como um grande espelho que reflete a radiação solar para o espaço. No entanto, à medida que o gelo desaparece e surgem tanto a rocha quanto a vegetação, menos radiação será refletida e mais calor será absorvido. Olly Bartlett, outro dos autores do estudo, afirma que o impacto disso provavelmente será local, mas ajudará a acelerar o crescimento da vida vegetal.

Nem sempre foi branca

Está claro que os pesquisadores terão bastante trabalho investigando como as plantas são capazes de colonizar as áridas terras da Península Antártica. No entanto, parece que, há alguns milhões de anos, a vegetação dominava essa região. Assim como alguns dos maiores desertos do mundo atualmente já foram matas, a Antártida já foi uma floresta.

Isso aconteceu há 40 milhões de anos, quando os níveis de dióxido de carbono na atmosfera causaram um forte efeito estufa, resultando em um ecossistema vivo com vegetação e animais pré-históricos. Retornar a esse cenário não seria nada positivo para o resto do planeta.

Imagens | Nature, NASA

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