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O chefe de IA da Apple deixou a empresa e agora sabemos o porquê: a Meta ofereceu a ele mais do que o próprio Tim Cook recebe

Os milhões de dólares que a Meta colocou na mesa para contratar o cérebro por trás do Apple Intelligence são quase três vezes o que o CEO da Apple ganha em um ano

Meta tirou engenheiro de IA da Apple com oferta financeira astronômica / Imagem: Applesfera
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Victor Bianchin

Redator
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Victor Bianchin é jornalista.

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Recentemente, Ruoming Pang, o engenheiro que liderava os Apple Foundation Models, deixou a empresa e foi para a Meta. Foi uma debandada que Mark Gurman classificou como “potencialmente devastadora” para a Apple, e não era para menos. Mas agora, com os detalhes financeiros à mesa, a história ganha outra dimensão.

Segundo reportagem da Bloomberg, a Meta ofereceu a Pang um pacote salarial que supera os 200 milhões de dólares, distribuídos ao longo de vários anos. Um valor de deixar qualquer um de cabelo em pé quando colocado em perspectiva. Para se ter uma ideia: Tim Cook, CEO da Apple, recebeu em 2024 cerca de 74,6 milhões de dólares. Isso significa que a Meta está disposta a pagar a um engenheiro quase três vezes o que a Apple paga ao seu principal executivo em um ano inteiro.

Quando um funcionário vale mais que o CEO

O pacote de Pang, dividido em vários anos, equivale a praticamente tudo o que Tim Cook ganharia em três exercícios completos. Para colocar em contexto:

Tim Cook em 2024: 74,6 milhões de dólares (salário base de 3 milhões + 58 milhões em ações + incentivos)
Ruoming Pang na Meta: mais de 200 milhões de dólares em vários anos
A diferença: quase 2,7 vezes mais para o engenheiro do que para o CEO

É um valor que não só tira o fôlego, mas também levanta questões. Como é possível que a Meta valorize tanto um único engenheiro de IA a ponto de estar disposta a pagar a ele mais do que ao próprio CEO da Apple?

Aqui é onde a coisa fica interessante. Esses 200 milhões não são um cheque recebido no primeiro dia. A Meta criou uma verdadeira obra de engenharia financeira para tornar a oferta irresistível, mas também para garantir a permanência.

O pacote é composto por três elementos, embora os percentuais exatos e o peso de cada um não sejam conhecidos:

  • Salário base: um valor fixo e alto, mas que é apenas a ponta do iceberg
  • Bônus de contratação: um pagamento inicial em dinheiro bastante significativo
  • Ações da Meta (a parte principal): a maior parte do pacote, vinculada a metas de desempenho e tempo de permanência

A chave está nas ações. A Meta não está apenas pagando pelo talento presente, mas apostando no futuro. Se a empresa de Zuckerberg vencer a corrida da IA, essas ações poderão valer ainda mais. Se fracassar, grande parte do pacote desaparece. É uma forma inteligente de alinhar os interesses do funcionário aos da empresa.

Uma oferta que a Apple não tentaria rebater

Segundo fontes da empresa consultadas pela Bloomberg, a oferta era simplesmente “inassumível”. Eles não tentaram igualar, nem sequer negociar. Era uma batalha perdida antes mesmo de começar.

Oferecer 200 milhões a um engenheiro teria quebrado todos os paradigmas internos da Apple. Como explicar aos acionistas que um funcionário ganha mais do que o CEO? Como manter a coerência salarial com o restante dos colaboradores?

A realidade é que Mark Zuckerberg está jogando um jogo diferente. Sua equipe de “superinteligência” já conta com contratações milionárias, como o ex-CEO do GitHub, Nat Friedman, e roubou talentos da OpenAI com ofertas que, segundo Sam Altman, incluem “bônus de até 100 milhões de dólares”.

Além dos milhões: a bolha da IA e o calculado "não" da Apple

Chegando a este ponto, é preciso fazer a pergunta-chave: por que a Apple deixou Pang ir embora? Embora 200 milhões sejam um valor descomunal, a Apple poderia ter feito uma contraproposta se considerasse isso vital. Se não fez, é por algum motivo.

Temos certeza de que Pang era tão indispensável assim? Ele é um dos cérebros por trás do Apple Intelligence, sim, mas justamente o Apple Intelligence não é considerado uma das IAs mais avançadas do mercado. Por que pagar uma fortuna pelo arquiteto de um edifício que ainda não é o mais alto da cidade?

Talvez a resposta seja que a Apple, no fundo, sabe que o trabalho dele era importante, mas não tanto a ponto de quebrar sua escala salarial e entrar em uma guerra de ofertas. Isso nos leva à grande pergunta: estamos diante de uma bolha na inteligência artificial? Há uma escalada de salários e contratações entre empresas que lembra outras febres do ouro tecnológicas. E pode ser que a Apple, fiel ao seu estilo, prefira ir no seu próprio ritmo, consolidando bem seus alicerces para chegar mais tarde, mas com mais solidez, ao mesmo objetivo. Afinal, a Apple não é apenas uma empresa de IA.

E do outro lado da balança está Mark Zuckerberg. A Meta, assim como a Apple, tem uma IA que, apesar de estar integrada ao WhatsApp e ao Facebook, não é tão usada como o ChatGPT. Não tem aquele fator de “ferramenta de produtividade” ou de principal consulta. Por isso, entende-se esse movimento quase desesperado de Zuckerberg de contratar talentos a qualquer preço.

Ela precisa dar presença e relevância à sua IA. Onde poderá aplicá-la? O grande potencial está em seus óculos de realidade virtual e nos Ray-Ban, além de em suas redes sociais. É uma aposta para o futuro.

A ironia é que a Meta pagou uma fortuna por um dos responsáveis por uma IA (Apple Intelligence) que compartilha o mesmo problema que a sua: a falta de percepção de liderança no mercado. Talvez Zuckerberg acredite que Pang tenha a chave para mudar isso. Ou talvez, simplesmente, nesta guerra de titãs, tirar um general do inimigo já seja uma vitória em si, custe o que custar.

O tempo dirá quem está certo: se a paciência estratégica da Apple ou a agressividade a golpes de talão de cheques da Meta. Mas o que está claro é que a cifra de 200 milhões diz muito mais sobre a bolha do setor do que sobre o valor real de um único engenheiro.

Este texto foi traduzido/adaptado do site Applesfera.

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