A Espanha precisa de soluções para armazenar energia, isso é fato. Com boa parte da eletricidade vindo de fontes renováveis, o país enfrenta o desafio de guardar energia quando não venta ou o sol não aparece. É nesse cenário que surge o projeto de Villar Mir em Granada: uma usina hidrelétrica reversível de 356 MW ligada ao reservatório de Rules.
Um passo importante nos trâmites
A filial Villar Mir Energía acabou de conseguir a Declaração de Impacto Ambiental (DIA) favorável do Ministério para a Transição Ecológica. A aprovação é um avanço decisivo depois de anos de espera: a concessão de água da Junta de Andaluzia já estava garantida desde 2020, mas faltava justamente essa autorização, considerada a mais complexa.
A resolução, publicada no Boletim Oficial do Estado, traz ainda um pacote de exigências ambientais com medidas preventivas, corretivas e compensatórias. O projeto avança, mas ainda precisa de outras autorizações antes do início das obras.
Como vai funcionar a usina de Los Guájares
O projeto será construído nos municípios de Vélez de Benaudalla, El Pinar, Los Guájares e Padul. O sistema, em teoria, é simples: a água será bombeada do reservatório de Rules para um tanque em nível mais alto e liberada nos momentos de maior demanda, gerando eletricidade limpa.
A usina terá capacidade para produzir 1.022 GWh por ano, suficiente para abastecer centenas de milhares de lares. As obras serão grandes: está prevista a escavação de mais de 246 mil metros cúbicos de material, instalação de 1,5 km de tubulações e um prazo de execução de cerca de cinco anos.
Mais de 400 milhões de euros em jogo
Segundo o jornal El Economista, o Banco Santander assessora o grupo na busca de investidores para cofinanciar a obra. O movimento vem em um momento-chave para o holding: desde 2017 o grupo reduziu sua dívida de 1,5 bilhão para 120 milhões de euros, após vender participações na OHLA, Ferroglobe e Fertial. Agora busca novos projetos para fortalecer sua posição financeira.
Uma polêmica em curso
O projeto não escapa das críticas. A deputada granadina Alejandra Durán, porta-voz adjunta do Por Andalucía e dirigente do Podemos, já declarou rejeição total. Segundo a Europa Press, ela alerta para riscos de erosão, deslizamentos e impacto em espécies protegidas como a águia-real, a águia-de-bonelli e o grifo.
Durán também denuncia a derrubada de “milhares de árvores, arbustos e plantas nativas”, lembra que parte da área afetada coincide com terrenos queimados no incêndio de Los Guájares e acusa as autoridades de favorecer interesses privados acima do coletivo. Ela chega a falar em “roubo de água” que prejudicaria os agricultores locais.
Espanha e a urgência do armazenamento
O debate vai além de Granada. Hoje, quase metade da eletricidade da Espanha vem de renováveis, mas a intermitência da eólica e da solar exige soluções de armazenamento. As usinas de bombeamento funcionam como “baterias hidráulicas”, que guardam o excesso de energia para liberar quando é mais necessário.
Só em outubro do ano passado, esse tipo de instalação gerou 4.747 GWh, 10% a mais que em 2022. Embora a potência instalada tenha crescido pouco nos últimos 15 anos (3.337 MW), especialistas concordam que o bombeamento reversível será fundamental para estabilizar o sistema e ajudar a conter os preços da energia.
Entre a necessidade e a resistência
A usina de Los Guájares mostra bem a tensão da transição energética: de um lado, a urgência de garantir armazenamento; de outro, os riscos ambientais e sociais dessas obras.
Com a DIA aprovada, agora resta saber se o grupo Villar Mir vai assumir o investimento e transformar Granada no epicentro das renováveis na Espanha. A dúvida é se essa grande “bateria de água” será lembrada como motor de progresso ou como exemplo dos excessos da transição energética.
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