João Paes
RedatorEscreve sobre tecnologia, games e cultura pop há mais de 10 anos, tendo se interessado por tudo isso desde que abriu o primeiro computador (há muito mais de 10 anos).
Como um morador de São Paulo que não tem carro próprio, recorro muito ao combo “transporte coletivo até onde dá + carro por aplicativo”. E nessas viagens, muita coisa acontece. Já estive em um carro onde a gasolina acabou em plena Marginal Pinheiros, ajudei a trocar pneu na chuva em uma estradinha de Cotia, dividi a corrida com a filha do motorista que a levava para a escola e, mais recentemente, ouvi uma pergunta que nunca imaginei ouvir enquanto estava dentro de um carro por aplicativo: “Você se importaria se eu jogasse no bicho agora?”.
Era um dos dias com maior trânsito do ano (até aquele momento), e passei mais de uma hora para fazer um trajeto que exigiria um tempo muito menor numa São Paulo imaginária. Sendo assim, conversei sobre diversas coisas com o motorista (que eu não vou divulgar o nome, claro). Porém, em certo momento já próximos da Cidade Universitária, o condutor virou e me fez a tal pergunta. Eu fiquei sem entender nada e questionei “mas tem alguma banca aqui perto? Você quer passar lá?” e foi aí que eu descobri que estava, de certa forma, no passado. Ele me mostrou um aplicativo de jogo do bicho.
Ele viu minha cara de espanto e começou a explicar do início, com as regras que já tento entender desde pequeno, quando minha vó me explicava porque apostava em determinado número após sonhar com algum animal. Depois, ele me explicou que não era exatamente um aplicativo (afinal, jogar no bicho não é algo legalizado), mas uma página da web, que se torna um app muito competente.
De cara, há informações de saldo do usuário, que é carregado por um código Pix gerado diretamente no web app, e uma grande lista de apostas, além de bingo, cassino e outros dois conjuntos de “tiles” que parecem ter saído direto de um Lumia 920 (saudades).
E se você precisar de qualquer informação ou ajuda, há ainda um suporte por WhatsApp. Mas, se você preferir não falar com ninguém, nos tiles existem atalhos super interessantes como um guia de horóscopo e até mesmo um “dicionário de sonhos” — minha vó não é a única a ligar um cachorro que apareceu no sonho com a possibilidade de ganhar um troco extra, não é mesmo?
Você pode conferir resultados e até mesmo calcular quanto pode ganhar fazendo uma aposta em cada uma das “loterias” disponíveis. É um trabalho tão completo que facilmente passa a impressão de ser algo legal — mas não é! A essa altura, acredito que não precisamos reforçar, mas fica a informação legal de que não recomendamos o jogo do bicho, afinal a lei brasileira o classifica como uma contravenção penal, uma infração mais leve do que um crime, mas ainda assim ilegal. A prática é proibida principalmente pelo Decreto-Lei nº 3.688/41.
Isto posto, é interessante ver como o jogo evoluiu e saiu das bancas e foi para o bolso dos usuários, utilizando o Pix como facilitador para o dinheiro que entra e sai — e com um web app muito melhor e mais completo que diversos serviços totalmente legalizados no país.
No final, deu tempo do condutor jogar e conferir se ganhou, meia hora depois, a poucos metros de onde estávamos quando rolou a tal pergunta. Não, o motorista não ganhou “por pouco”, segundo ele — como eu disse, não entendo direito as regras.
Cinco estrelas.
Crédito de imagem: Xataka Brasil
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