Há 38 anos, a Yamaha criou uma motocicleta de 195cc que superava as motos de 1000cc nas ruas, mas ninguém queria comprá-la

A Yamaha optou por uma moto esportiva leve e radical quando o mercado exigia potência; infelizmente, a SDR passou praticamente despercebida

Há 38 anos, a Yamaha criou uma motocicleta de 195cc que superava as motos de 1000cc nas ruas, mas ninguém queria comprá-la.
Sem comentários Facebook Twitter Flipboard E-mail
fabricio-mainenti

Fabrício Mainenti

Redator

Às vezes, a história do motociclismo é uma estrada repleta de gigantes, motos que dominam as vendas e definem eras. E entre elas, quase escondidas, estão máquinas que nunca tiveram a chance de brilhar.

A Yamaha SDR foi uma delas: uma esportiva minimalista em tempos de excessos, uma motocicleta que queria ir contra a corrente justamente quando o mercado japonês estava obcecado por números exorbitantes e especificações técnicas intermináveis.

A ultraleve rebelde que o Japão não soube apreciar

Em 1987, a Yamaha decidiu lançar algo em seu mercado doméstico que soava como heresia na época: uma esportiva ultraleve de 195 cc, dois tempos, com 34 cv e um chassi multitubular que parecia ter saído de uma motocicleta artesanal. Chamaram-na de SDR, abreviação de "Super Design Racing", um nome que deixava claro que não se tratava de competir com superbikes, mas sim de quebrar paradigmas.

O Japão estava repleto de motos esportivas de 250cc e 400cc, compradas tanto por prazer, quanto por necessidade: eram mais baratas, ofereciam vantagens fiscais e, acima de tudo, exigiam uma carteira de habilitação muito mais acessível do que as motocicletas de maior cilindrada. A Yamaha viu uma oportunidade de oferecer algo diferente: uma moto esportiva leve, ágil e altamente personalizável. Uma motocicleta projetada para a experiência de pilotagem, e não para números de dinamômetro.

O resultado foi uma motocicleta minimalista em todos os sentidos, exceto em seu caráter. O chassi multitubular, uma raridade absoluta para a Yamaha e no mercado japonês da época, tornou a SDR incrivelmente leve: apenas 105 kg, segundo a fabricante, quase como uma bicicleta com uma pegada feroz. 

O motor monocilíndrico de dois tempos refrigerado a líquido tinha aquela explosão tão característica dos anos 80, mas com um toque de sofisticação graças ao YPVS e ao YESS, dois sistemas de gerenciamento da válvula de escape projetados para suavizar a típica falha de potência em baixas rotações dos motores dois tempos.

Há 38 anos, a Yamaha criou uma motocicleta de 195cc que superava as motos de 1000cc nas ruas, mas ninguém queria comprá-la.

Em estradas sinuosas, a pequena SDR era destemida. Não vencia nas retas, mas se destacava onde realmente importava: nas curvas do mundo. Leve, direta, agressiva. Uma moto que exigia habilidade, mas que também recompensava muito quem soubesse pilotá-la.

O problema era que seu próprio país não a entendia. Em uma década dominada pela sede de potência e avanços tecnológicos, a SDR parecia simples demais, incomum demais, à frente de seu tempo, ou talvez honesta demais. As vendas foram modestas e a Yamaha logo a retirou de seu catálogo. Fim da história… ou pelo menos era o que parecia.

Imagens | Yamaha

Ao longo dos anos, aconteceu o que sempre acontece com máquinas que fogem do padrão: a SDR tornou-se um clássico cult. Um nicho pequeno, sim, mas muito fiel. Hoje, é uma joia escondida do motociclismo japonês, uma moto que nos lembra que os anos 80 não eram só motores quatro cilindros descontrolados e carenagens com mais plástico do que personalidade. Havia também espaço para ideias malucas, para engenheiros que queriam se divertir, para motocicletas projetadas para o puro prazer de pilotar, não para uma obsessão por potência.

A SDR nunca foi um sucesso comercial, mas não precisava ser para deixar sua marca. Seu legado reside naqueles que a procuram, a restauram e a conhecem bem… e na sensação de que, talvez, a Yamaha tivesse um lampejo de genialidade em mãos, que chegou na hora errada.

Imagens | Yamaha

Inicio