Lição chinesa: por que a BYD acredita que a Europa está cometendo um erro histórico

Executiva da montadora chinesa critica recuos no Pacto Verde e afirma que insistir no motor a combustão pode custar à indústria europeia a liderança na próxima década

Crédito de imagem: BYD
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João Paes

Redator
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João Paes

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Escreve sobre tecnologia, games e cultura pop há mais de 10 anos, tendo se interessado por tudo isso desde que abriu o primeiro computador (há muito mais de 10 anos). 

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A disputa global pela liderança da indústria automotiva elétrica ganhou mais um capítulo e, desta vez, o alerta veio direto de quem está na dianteira da corrida. Para Stella Li, vice-presidente executiva da BYD, a tentativa da União Europeia de suavizar o fim dos motores a combustão não protege suas montadoras, mas aprofunda um problema que já existe: a falta de foco estratégico diante da ascensão chinesa.

Durante uma coletiva realizada em Londres, Li foi direta ao comentar os debates em torno do Pacto Verde Europeu e a flexibilização das metas ambientais. Para ela, o erro não está apenas no adiamento da proibição dos carros a combustão, mas na mensagem que isso envia à indústria. “Quando você impulsiona uma direção e depois recua, afeta todo o planejamento de pesquisa e desenvolvimento”, afirmou. “Como competir com uma empresa que acredita apenas em um caminho?”

Na visão da executiva, o maior problema das montadoras europeias é tentar abraçar múltiplas tecnologias ao mesmo tempo. Enquanto parte da indústria divide recursos entre motores a combustão, híbridos, híbridos plug-in e elétricos puros, a BYD segue uma rota clara: eletrificação como eixo central, com elétricos e híbridos plug-in DM-i ocupando praticamente todo o portfólio. “Nunca há dinheiro suficiente para apostar em dois caminhos ao mesmo tempo”, disse Li. “E quando se faz isso, nenhuma área é dominada de verdade”.

A fala ajuda a entender por que a BYD afirma não se preocupar com eventuais revisões regulatórias na Europa. Segundo a executiva, mesmo que a proibição dos motores a combustão seja adiada, a empresa tem nos híbridos DM-i uma solução capaz de substituir esses veículos com consumo menor, desempenho superior e maior integração tecnológica. Em outras palavras, a estratégia não muda conforme o vento político e isso, para ela, faz toda a diferença.

Esse posicionamento contrasta com a situação de muitos grupos automotivos europeus, que agora se veem obrigados a recalcular investimentos, cronogramas e plataformas. Ao tentar preservar tecnologias do passado enquanto desenvolvem as do futuro, acabam diluindo recursos e atrasando a maturação dos veículos elétricos, justamente onde a concorrência chinesa já opera com escala, custos mais baixos e cadeias produtivas altamente integradas.

As críticas de Stella Li também encontram apoio fora da indústria. Organizações ambientais, como a Transport & Environment, alertam que reduzir a meta de emissões para 90% até 2035 — em vez de 100% — pode atrasar a transição e enfraquecer ainda mais os fabricantes europeus. Para o diretor da entidade, William Todts, insistir em soluções intermediárias é como tentar “criar cavalos mais rápidos” em vez de aceitar que o automóvel mudou o mundo.

Embora o debate esteja concentrado na União Europeia, suas consequências vão muito além do continente. Decisões tomadas em Bruxelas costumam influenciar estratégias globais, afetando quais tecnologias recebem prioridade e quais modelos chegam a mercados como o Brasil. Nesse cenário, a postura da BYD ajuda a explicar sua rápida expansão internacional, enquanto rivais ainda discutem qual direção seguir.

No fim, a mensagem deixada pela executiva chinesa é incômoda, mas clara: o maior risco para a Europa não é a velocidade da transição elétrica, e sim a hesitação. Em um setor onde foco e escala definem vencedores, insistir em salvar o motor a combustão pode significar perder o futuro.



Crédito de imagem: BYD

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