O rio infernal da Amazônia: suas águas chegam a 100 ºC, matam animais em segundos e origem do calor ainda é um mistério

Localizado no Peru, Shanay-Timpishka atinge até 99 ºC e serve como laboratório natural para estudar o impacto do calor extremo na vegetação

Trecho da floresta amazônica vista por cima. Créditos: banco de imagens
Sem comentários Facebook Twitter Flipboard E-mail
laura-vieira

Laura Vieira

Redatora
laura-vieira

Laura Vieira

Redatora

Jornalista recém-formada, com experiência no Tribunal de Justiça, Alerj, jornal O Dia e como redatora em sites sobre pets e gastronomia. Gosta de ler, assistir filmes e séries e já passou boas horas construindo casas no The Sims.

135 publicaciones de Laura Vieira

A natureza é cheia de fenômenos impressionantes e nem todos são inofensivos. Um deles está na Amazônia peruana, onde corre o Shanay-Timpishka, considerado o rio mais quente do mundo. Conhecido popularmente como Rio Fervente do Amazonas, suas águas podem alcançar quase 100 ºC, temperatura capaz de matar animais em poucos segundos.

Mas será que isso é mesmo verdade? Durante séculos, o rio foi retratado em lendas indígenas, que o associavam a um espírito em forma de cobra gigante, e também em relatos de exploradores espanhóis. Como não há vulcões próximos, muitos acreditavam que tudo não passava de mito criado para assustar visitantes. A surpresa veio quando um geólogo investigou essa história e comprovou a existência do rio.

A existência do rio foi comprovada cientificamente

Em 2011, o geólogo peruano Andrés Ruzo decidiu investigar o rio que conhecia desde criança por relatos do avô. Após obter autorização de comunidades locais, já que é “protegida” por povos indígenas, Andrés percorreu mais de seis quilômetros do curso d’água e mediu temperaturas médias de 86 ºC, chegando a 99 ºC em alguns trechos.

Os estudos do geólogo confirmaram que o Shanay-Timpishka é o rio mais quente do planeta fora de regiões vulcânicas, um fenômeno geotérmico curioso, cuja origem ainda não é totalmente explicada pela ciência. Uma das hipóteses trazidas pelo geólogo é que a água pode vir das geleiras dos Andes, infiltrando-se profundamente no subsolo antes de ser aquecida e ressurgir fervente na Amazônia. No entanto, não há nenhuma comprovação que indique que é esse o motivo para o aquecimento das águas do local.

Entenda como o calor afeta a vida ao redor do rio

Além de curioso, o rio fervente também funciona como uma espécie de “laboratório natural” para observar os efeitos do calor extremo sobre a vegetação e o ecossistema local. Em outubro de 2024, uma pesquisa publicada na Global Change Biology, conduzida por Alyssa Kullberg, Riley Fortier e equipes de cientistas do Peru e dos Estados Unidos, acompanhou durante um ano as variações da temperatura do ar ao redor do rio, registrando mudanças no ecossistema ao longo de um trecho de apenas dois quilômetros.

Para isso, os pesquisadores utilizaram 13 dispositivos posicionados em diferentes pontos. Nas áreas mais frescas, a média anual do ar variou de 24 a 25 ºC, enquanto nos trechos mais quentes, chegou a 28 e 29 ºC, com máximas próximas de 45 ºC. Além das medições do ar, a equipe estudou como a vegetação local se comportava nesse cenário. Árvores grandes, como a Guarea grandifolia, apresentavam dificuldade de crescimento, enquanto espécies mais adaptadas a altas temperaturas, como a sumaúma-barriguda gigante (Ceiba lupuna), se mostraram mais resistentes.

Vapor em cima de rio. Crédito: banco de imagens Pesquisadores concluíram que as altas temperaturas traziam consequências negativas para a biodiversidade local.

Estudo funciona como um alerta para a Amazônia e o planeta

O rio fervente não é apenas uma curiosidade da natureza. Para os cientistas, ele funciona como um experimento sobre como os ecossistemas respondem ao aumento de temperatura, sinalizando os possíveis impactos das mudanças climáticas na floresta amazônica. A pesquisa mostrou que algumas espécies vegetais adaptadas a altas temperaturas conseguem sobreviver, mas muitas outras sofrem com a temperatura do ar e do rio.  O calor extremo afeta a densidade de plantas, a distribuição de espécies e possivelmente a presença de insetos e outros animais. Essas descobertas ajudam a prever quais plantas poderiam resistir ao aquecimento extremo, o que poderia ajudar na conservação da Amazônia e da biodiversidade.

Inicio