Quer saber como será o mundo após o fim do dinheiro em espécie? Basta olhar para a China

Lá, os pagamentos móveis com Alipay e WeChat Pay se tornaram o padrão para comércios de todos os tipos

Só pessoas com mais de 80 anos ainda usam cédulas e moedas na China / Imagem: Sergio Kian
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Victor Bianchin

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Victor Bianchin é jornalista.

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Se você for à China e entrar em um comércio, o mais provável é que não consiga pagar com dinheiro em espécie. Os logos azul e verde do Alipay (Ant Group) e do WeChat Pay (Tencent) dominam tudo e, há anos, relegaram as moedas e notas tradicionais a um absoluto segundo plano. Enquanto no Ocidente debatemos sobre o que fazer com o dinheiro em espécie, na China isso já está decidido.

Dinheiro em espécie? Nada disso

Supermercados, cafés, táxis e transporte público são alguns dos muitos tipos de lugares em que os chineses já pagam com Alipay ou WeChat Pay. Em qualquer ponto onde seja necessário pagar, os logos azul e verde desses aplicativos dominam tudo e, na verdade, muitos comércios nem sequer têm mais caixa registradora. Segundo o Le Monde, muitos táxis e comércios locais se recusam a aceitar pagamentos em dinheiro e, quando aceitam, nem têm troco para os compradores.

Ma Dian, um vendedor de frutas e verduras de Hubei, falou ao jornal sobre como vivenciou o desaparecimento dos pagamentos em dinheiro. “Só aceito dinheiro para ajudar os idosos. Abaixo dos 80 anos, praticamente todo mundo já fez a mudança. Acima disso, é muito mais difícil se adaptar”. As pessoas idosas são as grandes prejudicadas e precisam pedir ajuda aos familiares diante da dificuldade que enfrentam para fazer pagamentos móveis com Alipay ou WeChat Pay.

Códigos QR por toda parte

Os códigos QR que costumamos ver em restaurantes no Brasil para consultar o cardápio dominam tudo na China. Lá, os comércios contam com códigos estáticos ou dinâmicos (em telas como as dos terminais de pagamento) que os clientes escaneiam. Se for um código estático, o cliente geralmente precisa digitar o valor a pagar. Nos códigos dinâmicos, o valor aparece automaticamente. O último passo consiste em autenticar com senha, reconhecimento facial ou impressão digital. Embora inicialmente Alipay e WeChat Pay usassem códigos diferentes, em alguns casos, já são usados códigos QR unificados para ambos os apps. E é o cliente quem escolhe qual aplicativo usar em seu celular para pagar.

Os logos azul e verde do Alipay (Ant Group) e do WeChat Pay (Tencent) Os logos azul e verde do Alipay (Ant Group) e do WeChat Pay (Tencent)

A presença absoluta desses dois sistemas de pagamento digital fez com que os bancos chineses — que são propriedade do governo — também tenham um papel secundário para muitos clientes. É necessário ter uma conta bancária para vinculá-la a esses aplicativos, mas seus apps e serviços acabam totalmente ofuscados pelo Alipay e WeChat Pay, com os quais os usuários fazem praticamente tudo no âmbito de pagamentos e transações econômicas. Como afirma John Engen no American Banker, os bancos muitas vezes acabam reduzidos a “atores passivos”.

Embora tanto a Alibaba quanto a Tencent tenham conseguido concentrar essas transações, o governo chinês já demonstrou que elas continuam sendo entidades que podem ser punidas de forma realmente dura. Isso aconteceu em 2020, quando o Ant Group estava prestes a abrir capital na bolsa. Jack Ma criticou seu governo naquele momento, o que provocou o cancelamento da oferta pública inicial e um exílio de anos para uma das grandes figuras do empreendedorismo na China.

A China quer o yuan digital

O banco central chinês busca há anos a criação de uma moeda digital. Seu renminbi digital, ou yuan digital, está conseguindo algo mais do que ser uma alternativa ao dólar: está criando um sistema paralelo. O objetivo é ter uma alternativa à popularidade das criptomoedas, mas controlada pelas autoridades chinesas. Embora o lançamento dessa moeda digital esteja em andamento há anos, seu protagonismo ainda é muito limitado e, por enquanto, tanto o Alipay quanto o WeChat Pay continuam dominando tudo.

Ambas as plataformas também têm se adaptado progressivamente às necessidades dos turistas. Já há cerca de dois anos, tanto o Alipay quanto o WeChat Pay permitem que visitantes estrangeiros criem uma conta nesses aplicativos e a associem a um cartão de crédito. No ano passado, os limites de transações também foram aumentados, passando no Alipay, por exemplo, de 1.000 (R$ 5.400) para 5.000 (R$ 27.200) dólares.

No WeChat Pay, é possível até acessar uma espécie de carteira digital que pode ser carregada para não precisar vincular um cartão de crédito ao aplicativo, permitindo assim realizar pequenos pagamentos. É necessário ter acesso à internet para esses pagamentos e contratar um SIM ou eSIM local para conseguir um número chinês — por exemplo, para validações via SMS — é especialmente recomendável.

Imagem | Sergio Kian

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.

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