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Os sobrevivencialistas já não se limitam a armazenar comida enlatada. Agora guardam IA em um pendrive em preparação para o apocalipse

Um plano útil, embora tenha algumas falhas

Que tal guardar uma IA compactada em um pen-drive? Imagem: Antonio Sabán com IA
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Victor Bianchin

Redator
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Victor Bianchin é jornalista.

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Há anos, algumas pessoas vêm se preparando para uma guerra nuclear, para o fim do mundo ou para ambos. São os chamados “preppers” (preparacionistas ou sobrevivencialistas em português). O movimento está evoluindo e, como relata a MIT Technology Review, as necessidades e possibilidades de 2025 fazem com que pessoas estejam criando e propondo guardar modelos de linguagem de inteligência artificial (IA) em pendrives USB.

Uma boa ferramenta para o fim do mundo

O engenheiro Simon Willison, conhecido por ser o criador do framework de desenvolvimento web Django, tem um plano para um futuro distópico: guardando modelos de IA abertos, ele pode executá-los localmente caso a civilização colapse. Assim, mesmo sem acesso à internet, seria possível continuar acessando o enorme conhecimento humano contido nesses modelos.

Para fazer algo assim, não são necessários recursos fora do alcance de uma casa comum. Hoje em dia, já existem modelos de IA que podem ser executados localmente, até mesmo em smartphones. Até algo tão poderoso quanto o DeepSeek pode rodar em nosso computador, desde que usemos uma versão reduzida, a chamada “destilada”, com 8 bilhões de parâmetros.

Como compartilha Evan Hahn, o modelo chinês Qwen 3, em sua versão de 600 mil parâmetros, pode ocupar apenas 523 MB de espaço em nosso armazenamento. Com apenas 2 GB, podemos baixar o Llama 3.2 em sua versão de 3 bilhões de parâmetros.

Guardando a Wikipedia

Para efeito de comparação, baixar toda a Wikipedia para ler offline é possível e seria igualmente útil em um cenário apocalíptico como o proposto. Hahn incluiu o tamanho necessário para baixá-la junto com os grandes modelos abertos de linguagem e, usando pouco espaço, pode-se armazenar uma quantidade considerável de informação.

Com 356,9 MB, podemos acessar os 50.000 melhores artigos da Wikipedia. E, com 57,18 GB — que cabem facilmente em um HD externo moderno — podemos ter toda a Wikipedia disponível em qualquer idioma. Ocupando menos da metade desse espaço, podemos ter o Qwen 3 de 32 bilhões de parâmetros e o DeepSeek R1 do mesmo tamanho.

Limitações

Usar inteligência artificial localmente para ter acesso ao conhecimento do mundo tem seus poréns. O próprio Simon Willison disse à MIT Technology Review que usar modelos de IA localmente “é como ter uma versão estranha, condensada e imperfeita da Wikipedia”. O motivo é simples: os modelos são treinados com dados disponíveis na internet, a ponto de os bots de IA colocarem o futuro da Wikipedia em risco. Contudo, esses modelos não reproduzem fielmente todas as informações quando inserimos comandos ou perguntas sobre um tema específico.

A IA tem o problema das alucinações, que é a geração de informações incorretas ou enganosas por modelos do tipo, mesmo que elas pareçam plausíveis ou coerentes. Esse fenômeno não só foi confirmado por empresas como a OpenAI, como também sabemos por elas que modelos como o o3 e o o4-mini alucinam mais do que seus predecessores.

Segundo Jensen Huang, precisamos de hardware muito mais potente para que esse fenômeno da IA desapareça — e claro, não é um hardware que temos em casa. Além disso, os modelos pequenos executados localmente, por serem versões muito reduzidas em tamanho e uso de memória, alucinam ainda mais.

E mais limitações

Em nossos testes executando modelos de IA localmente em smartphones, os resultados foram irregulares, embora promissores. Nesse sentido, a própria Apple vai liberar no iOS 26 sua IA para qualquer desenvolvedor, para que possam executá-la diretamente no dispositivo.

Além da qualidade inferior dos modelos pequenos e locais em comparação aos gigantescos Grok 4, o3-Pro ou Claude 4, um plano “prepper” com pendrive tem mais limitações, e confiar em uma unidade assim para uma situação que exige, acima de tudo, confiabilidade, é arriscado.

Essas unidades USB não são projetadas para durar mais de 10 anos. Se tiverem chips NAND de baixa qualidade, podem até parar de funcionar mesmo sem uso. Se você quer guardar quase todo o conhecimento da humanidade, o ideal é pensar em um meio durável, que seja mantido em ótimas condições. E só depois pensar em desastres maiores.

Imagem | Antonio Sabán com IA

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.

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