A Intel concordou em vender ao Governo dos Estados Unidos 10% de sua empresa por um valor de 8,9 bilhões de dólares. Confirma-se assim uma medida intervencionista que tem enormes implicações não apenas para a Intel, mas para toda a indústria de semicondutores. Sobretudo, a estadunidense.
A crise histórica que a Intel atravessa continua sem solução. Seu novo CEO, Lip-Bu Tan, já afirmou que “há vinte ou trinta anos éramos líderes. Agora o mundo mudou. Não estamos entre as dez principais empresas de semicondutores”. As demissões em massa e a decisão de apostar tudo na litografia 18A — nada de nó 20A — apontavam um futuro complicado para a empresa, que precisava de margem de manobra. Acaba de obtê-la, mas não sabemos a que preço.
Segundo informações da Intel, os Estados Unidos investirão 8,9 bilhões de dólares em ações da empresa, e isso se soma aos 2,2 bilhões de dólares que o Governo dos EUA já havia pago à companhia como parte do CHIPS and Science Act, um programa federal aprovado em 2022 e destinado a investir bilhões de dólares para reviver a indústria de semicondutores do país.
A Intel era grande demais para quebrar
O momento de fraqueza continua sendo preocupante, mas houve dois “resgates” recentes. O primeiro, pela entrada de 2 bilhões de dólares da SoftBank na empresa. O segundo, muito mais importante, foi o que o Governo dos EUA acabou de firmar com a compra de 10% da Intel por 8,9 bilhões de dólares. Essa medida é especialmente chamativa por vários motivos. Para começar, é a primeira vez que o Governo dos EUA intervém em uma empresa desde o resgate da indústria automobilística durante a crise de 2008. Mas há mais implicações.
O acordo é apenas econômico e não haverá representação oficial do Governo dos EUA no conselho de administração da Intel. No entanto, a pressão política agora sem dúvida aumentará, e cada decisão empresarial de Lip-Bu Tan e sua equipe será vista sob um prisma diferente: há dinheiro público em jogo.
Outra das perspectivas a partir das quais se pode analisar esse acordo é a do desespero. Aceitar esse “resgate” governamental pode ser visto como um indício claro de que a Intel estava contra as cordas e não havia saída sem algum movimento desse tipo. Para Lip-Bu Tan, isso pode representar um problema em relação à confiança em sua liderança. De fato, o senador estadunidense Tom Cotton o acusou de investir em 600 empresas chinesas. O presidente Trump chegou a pedir sua demissão no Truth Social, para depois acabar se reunindo com ele e o parabenizar por sua gestão.
O presidente dos EUA iniciou seu mandato com a intenção clara de centralizar ao máximo a produção de semicondutores e produtos de eletrônica. Esse protecionismo está muito ligado a essa decisão e permite proteger a Intel, além de mitigar a dependência de Taiwan e da importação de chips e tecnologia da China. O Secretário de Comércio, Howard Lutnick, indicou que o acordo é especialmente benéfico para o governo estadunidense, ressaltando que Biden basicamente estava dando dinheiro às empresas por meio de subsídios, mas aqui o que os EUA conseguem é tratar esse subsídio como um investimento. Não é dinheiro “a fundo perdido”. Não está claro se, dado que o dinheiro provém da CHIPS Act, será permitido que o Governo dos EUA acabe obtendo benefícios desse “investimento”.
Favoritismo
Essa politização do negócio de semicondutores pode acabar provocando alianças desconfortáveis e distorcendo a concorrência. Pode ser que, daqui para frente, todo tipo de agência governamental tenha muito mais inclinação a comprar chips da Intel, enquanto concorrentes diretos como Apple, AMD, NVIDIA e Qualcomm sejam prejudicados diante de um cenário de favoritismo governamental.
A Intel talvez fosse grande e icônica demais para ser deixada cair, mas esse intervencionismo traz uma mudança nas regras do jogo que afeta tanto a Intel quanto seus concorrentes nacionais e, claro, estrangeiros.
Imagem | Intel, Gage Skidmore
Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.
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