A história da Fórmula 1 está cheia de episódios rocambolescos, mas poucos se comparam a este. O protagonista se chama Markus Winkelhock e, tendo disputado apenas uma corrida, tornou-se um nome inesquecível para os fãs da Fórmula 1 do início do século. Seu grande feito? Assumir a liderança em seu primeiro e único Grande Prêmio.
Winkelhock era um piloto semiamador, praticamente sem histórico, mas teve que subir ao pior carro da Fórmula 1 da noite para o dia porque a Spyker ficou sem piloto. Seus tempos nos treinos livres foram tão ruins que muitos pediram que ele não fosse autorizado a correr, mas uma reviravolta do destino o levou a bater um recorde insuperável durante a corrida.
Markus Winkelhock, o piloto que liderou quase metade das voltas que completou na Fórmula 1
Como muitas grandes histórias, a de Winkelhock começa com um estresse intenso. Foi o que sentiu o chefe da equipe Spyker, Colin Kolles, quando seu piloto, Christijan Albers, saiu antes da hora de um pit stop no Grande Prêmio da França e arrancou de vez a mangueira de combustível. Era o enésimo erro do holandês, e Kolles demitiu Albers de forma imediata.
O problema era que, logo em seguida, se aproximava o Grande Prêmio da Europa na mítica pista Nürburgring, e agora a Spyker não tinha piloto. Kolles procurou em todos os lugares para encontrar um substituto à altura, mas não encontrou ninguém melhor do que Markus Winkelhock. E quem era Markus Winkelhock? Ninguém sabia muito bem.
Ele era filho de Manfred Winkelhock, ex-piloto de Fórmula 1 dos anos 80 com um histórico discreto, e o máximo que havia feito até então era correr no DTM (Deutsche Tourenwagen Masters, competição de carros de turismo, considerada uma das mais importantes da Europa), onde nem sequer somou um mísero ponto. Mas, como vinha atuando há alguns meses como piloto de testes da Spyker, decidiram recorrer a ele enquanto procuravam algo melhor. Assim, ficou decidido: Winkelhock iria correr em Nürburgring.

Os treinos livres de sexta-feira foram devastadores. Winkelhock andava em último, a um segundo por volta do penúltimo, que era seu companheiro Adrian Sutil. Muitos já estavam desconfiados, mas o que realmente alarmou todos aconteceu no sábado: na classificação, Winkelhock ficou quase três segundos atrás do antepenúltimo, e 1,5 segundos atrás de seu companheiro.
Foi nesse momento que vários pilotos expressaram suas dúvidas. Alguns, como Felipe Massa e Mark Webber, pediram diretamente que Winkelhock não fosse autorizado a correr por ser muito lento, enquanto outros insinuaram que a presença do alemão na pista poderia ser perigosa. Mas a FIA foi inflexível: Winkelhock estava dentro do limite de 107% e, portanto, poderia competir.
Wet weather chaos for everybody... EXCEPT Markus Winkelhock 😱
— Formula 1 (@F1) February 8, 2025
In his first and only outing in #F1, the Spyker reserve driver led the opening laps of the 2007 European Grand Prix thanks to a last-minute tyre swap 👏 pic.twitter.com/4hk6MU3XSN
Um domingo maluco
Ninguém podia prever o que aconteceu no domingo. Enquanto todos faziam a volta de formação, Winkelhock teve uma ideia enquanto andava em última posição: se aquelas nuvens negras realmente dessem chuva, colocar pneus de chuva antes da largada poderia trazer grandes vantagens. E, como ele não tinha muito a perder, fez exatamente isso.
E sim, aconteceu. Quase ao mesmo tempo em que o semáforo se apagou, começou a chover forte em Nürburgring. Enquanto todos os pilotos que haviam pedido sua desclassificação lutavam para manter seus carros com pneus slick na pista molhada, Winkelhock os ultrapassava com facilidade, após ter saído dos boxes com os pneus de chuva.
Assim, na terceira volta, Winkelhock não só estava na liderança, como também tinha mais de 30 segundos de vantagem. Mas então a FIA tomou uma decisão inédita na época, e desde então infelizmente recorrente: a chuva estava tão intensa que foi necessário acionar o Safety Car. A vantagem de Winkelhock desapareceu.

Na relargada, todos rapidamente ultrapassaram Winkelhock, que logo voltou para as últimas posições. Fernando Alonso acabou vencendo a corrida. Mas faltava um último detalhe: o Spyker quebrou na volta 13, forçando sua desistência. Como Winkelhock havia liderado seis voltas no início da corrida, deixou um recorde imbatível: ele é o piloto com maior porcentagem de voltas lideradas na história da Fórmula 1, mais de 46%.
Após aquela corrida, a Spyker encontrou um piloto um pouco melhor, o japonês Sakon Yamamoto, que completou o restante da temporada. Winkelhock retornou ao DTM, onde conseguiu pontuar, depois correu em categorias de turismo e até encerrou sua carreira vencendo as 24 Horas de Nürburgring. Mas será sempre lembrado por aquela primeira e última corrida na Fórmula 1.
Imagens | Fórmula 1
Este texto foi traduzido/adaptado do site Motorpasión.
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