Já imaginou morar dentro de um cemitério? Pode parecer assustador ou, no mínimo, muito estranho, mas essa é uma realidade comum entre várias famílias filipinas. A grave crise habitacional que ocorre no país tem levado muitas famílias a buscarem abrigo no Cemitério do Norte de Manila, situado na cidade de Manila, capital da Filipinas. Essa é uma das regiões mais pobres da cidade, e diante à pobreza extrema e à falta de opções acessíveis de moradia, esse espaço destinado a enterrar entes queridos se tornou, para muitos, a única alternativa para sobreviver.
Cemitério de Manila é abrigo para diversas famílias
O espaço compartilhado entre vivos e mortos no cemitério não é nenhuma novidade na capital da Filipinas. Desde 1950, algumas famílias têm construído moradias irregulares e improvisadas dentro de vários cemitérios em Manila, como se fossem barracos. Geralmente, elas são construídas com tábuas de madeira, lonas e papelão, formando um conjunto habitacional parecido com as favelas tradicionais brasileiras, mas sobre túmulos ou dentro de mausoléus.
É por essa razão que esses locais ficaram conhecidos como “cemitérios de favelas”. O maior e mais antigo deles é o Manila North Cemetery, que possui cerca de 54 hectares. Há anos, o cemitério abriga milhões de mortos e milhares de vivos. Dentre os falecidos, estão muitos famosos e pessoas ricas, como ex-presidentes da nação ( Sergio Osmeña e Ramón Magsaysay), e o ator Fernando Poe Jr.

Filipinas vive uma grande crise habitacional
A Filipinas é o sétimo país mais populoso da Ásia e o 13º mais populoso do mundo. De acordo com dados do censo de 2024, nos últimos 4 anos, a população do país aumentou em mais de três milhões. Com tanta gente, é claro que a necessidade de moradias também vai aumentar - pelo menos é o que afirma o relatório da ONU-Habitat. De acordo com o mesmo relatório, a migração urbana, o aumento do número de assentamentos informais, de conflitos armados, da desigualdade sistemática e de mudanças climáticas são os principais fatores que contribuem para essa crescente. Por essa razão, diante a grave crise de moradias enfrentada no país, pode ser que o número de moradores nos cemitérios de favelas aumente ainda mais.
E se você acha que o cemitério é bagunça, está muito enganado. Para morar nesse local, é preciso pagar aluguel. Os que têm uma melhor condição financeira, conseguem pagar um valor de cerca de US$18 para morar dentro dos mausoléus, o equivalente a quase R$100. Já os que desejam construir barracos em outras áreas do cemitério, pagam um custo menor. Aqueles que não tem condição de pagar aluguel ou construir barracos, moram em cima dos túmulos.
Local não possui estrutura para abrigar tantas pessoas
Assim como as favelas de grandes centros urbanos no Brasil, o cemitério de favelas nas Filipinas também possui habitações em condições precárias. Em entrevistas realizadas por veículos de comunicação com moradores do cemitério de Manila, eles relataram que as principais dificuldades de viver nesse local é a infraestrutura precária, já que eles têm acesso limitado à água, saneamento básico e eletricidade. O excesso de lixo e de moscas também é outro fator que contribui para a precariedade do local.
Mas essa vivência não é só marcada por dificuldades. Mesmo diante das condições precárias, os moradores encontraram formas de viver uma vida relativamente normal nesses espaços. As crianças brincam nessa área, os moradores se reúnem para conversar e interagir, há restaurantes improvisados, pequenas lojas e até Wi-fi e energia elétrica em alguns mausoléus. Apesar das dificuldades, muitos garantem que são felizes nesses locais.

Filipinos preferem morar em cemitério do que nas favelas
Você deve estar se perguntando: por que morar no cemitério se existem várias favelas nas Filipinas? Além da dificuldade de conseguir moradia nas favelas, nos cemitérios, os moradores têm mais chances de conseguir uma renda associada à manutenção ou comércio do local. Isso porque muitos que vivem no cemitério de Manila são pagos pela própria família dos falecidos para cuidar dos túmulos. Moradores também tentam fazer dinheiro com lojas improvisadas ou trabalhando como pedreiros, esculpindo lápides para os funerais que acontecem diariamente.
E apesar da dura realidade, o espaço virou até ponto turístico da cidade. Muitos visitantes vão até o cemitério de Manila curiosos com a maneira que essas famílias vivem ali. Para aproveitar essa curiosidade, os moradores dos cemitérios fazem renda realizando tour pelo local, levando visitantes até túmulos das celebridades e até dentro de suas próprias casas. Em datas religiosas, como no Dia de Finados, o cemitério recebe dezenas de famílias para visitar os falecidos. Os moradores, por outro lado, aproveitam a data para vender água e flores nesses espaços.
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