Cabelo, pele e lã podem parecer não ter nenhuma relação entre si. Contudo, um estudo publicado na revista Advanced Healthcare Materials, no dia 25 de agosto deste ano, revelou que a união desses elementos em uma pasta de dente pode trazer benefícios para a saúde bucal, como o fim das cáries e o aumento da resistência dentária. A pesquisa, conduzida por pesquisadores do King’s College London, no Reino Unido, propõe uma alternativa sustentável e mais natural aos tratamentos convencionais, com o potencial de chegar ao mercado em até três anos.
O que provoca a cárie e a erosão dentária?
De acordo com o Ministério da Saúde, a cárie é uma das doenças crônicas mais predominantes no mundo. Caracterizada pela deterioração e desintegração do dente, essa doença se desenvolve ao longo do tempo devido a interação de alguns fatores, como má higiene bucal, bactérias e consumo excessivo de alimentos açucarados e ultraprocessados. Quando a cárie não é tratada, a doença acaba evoluindo e provocando a destruição irreversível dos dentes. Por essa razão, corrigir os primeiros sinais de danos nos dentes, causado pelo processo da cárie na superfície do esmalte dentário, é fundamental para reconstruir a estrutura e a funcionalidade do esmalte.
Já a erosão dentária é uma condição que pode ser provocada por fatores similares, como a má higiene, mas o envelhecimento, o bruxismo e a ingestão de comidas e bebidas ácidas também podem contribuir para esse desgaste. Isso acaba causando uma sensibilidade incomoda, dores ao mastigar e até mudanças no formato do dente. Agora imagine se existisse um produto, como uma pasta de dente, que pudesse acabar com os estágios iniciais da cárie e reparar o esmalte dentário? Foi exatamente isso que os pesquisadores da King’s College London criaram.
Queratina extraída de lã cria camada protetora no dente
Já imaginou uma pasta de dente ou um gel profissional capaz de criar uma camada protetora no dente e remineralizar o esmalte dentário, prevenindo assim cáries e sensibilidade? Pode parecer coisa de outro mundo, mas essa novidade está bem perto de se concretizar. Os pesquisadores da King’s College London descobriram uma proteína que produz uma espécie de camada protetora no dente, imitando o esmalte natural dentário.
Essa proteína, no entanto, é mais fácil de encontrar do que você imagina: trata-se da queratina, encontrada no cabelo e na pele. Na medicina regenerativa, essa estrutura tem chamado atenção pelas suas potenciais aplicações biomédicas. Nesse caso, os pesquisadores utilizaram a queratina extraída da lã, pois ela possui uma estrutura complexa que permite sua automontagem e contribui para sua resistência mecânica e estabilidade.
Mas como essa proteína é capaz de restaurar o esmalte dentário? A queratina extraída da lã, ao entrar em contato com os minerais da saliva, produz uma camada protetora no dente que reproduz a estrutura e a função natural do esmalte dentário. Além disso, essa camada protetora ainda sela os nervos dentários, prevenindo sensibilidade e dor.
Reaproveitamento de queratina é uma alternativa mais sustentável na odontologia
Além dos benefícios que essa pasta de dente pode trazer para a saúde dos dentes, há um outro fator muito relevante: a sustentabilidade. Isso porque a queratina utilizada no produto pode ser obtida a partir de resíduos biológicos, dispensando o uso de resinas plásticas convencionais, que são tóxicas e menos duráveis. Atualmente, o tratamento para restauração do esmalte dentário e prevenção da cárie é feito a partir de cremes dentais com flúor, uma substância que, em excesso, pode trazer consequências para a saúde e para o meio ambiente.
De acordo com um estudo na National Library of Medicine, o uso excessivo de flúor pode causar problemas como fluorose dentária, fluorose esquelética, além de problemas gastrointestinais, neurológicos e urinários. Já no meio ambiente, a aplicação do flúor industrial pode causar a contaminação do ar, água e do solo, o que pode ser tóxico para animais e seres humanos. Os cremes dentais feitos de queratina, nesse sentido, contribuem com a tendência de reaproveitamento de resíduos biológicos na medicina odontológica. De acordo com os pesquisadores, o tratamento com o produto deve estar disponível entre dois a três anos.
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