O que faz uma startup dedicada à construção de centros de dados conseguir 11,6 bilhões de dólares em financiamento? No caso da Crusoe Energy Systems, tudo começou com uma ideia tão inquietante quanto lucrativa: construir centros de dados próximos a poços de gás natural.
A ideia da Crusoe Energy
A jornalista Emily Chang, da Bloomberg, visitou há algumas semanas a cidade de Abilene, no Texas, onde a Crusoe está construindo os monstruosos centros de dados do Stargate, o projeto de 500 bilhões de dólares da OpenAI, Softbank e Oracle para desenvolver a inteligência artificial geral.
O Stargate chegou às mãos da Crusoe Energy graças à eficiência comprovada da startup na construção de centros de dados especializados em IA. Chase Lochmiller, CEO da Crusoe, explicou a Chang como a empresa nasceu:
“Quando uma companhia petrolífera abre um poço de petróleo, um dos subprodutos associados é o gás natural. E quando não têm acesso a um oleoduto, todo esse gás associado simplesmente é queimado no local. Então tivemos uma ideia: em vez de tentar levar esse gás a um mercado onde possa ser vendido, poderíamos criar um mercado para o gás. Poderíamos construir centros de dados móveis e modulares, levá-los diretamente à boca do poço e usar essa energia para alimentar o centro de dados.”
A Crusoe nasceu no melhor lugar possível para concretizar essa ideia: o país do fracking. Mas talvez não no melhor momento para isso. A princípio, optaram por construir fazendas de GPUs para minerar Bitcoin. Quando o mercado de criptomoedas despencou, acabaram migrando para a inteligência artificial.
Assim como a mineração de criptomoedas, os centros de dados de IA não se baseiam em CPUs, mas dependem da capacidade de processamento paralelo de milhares de GPUs, principalmente os chips especializados da Nvidia. Esses novos centros de dados consomem muito mais energia do que os centros de dados tradicionais, por isso a Crusoe partia de uma vantagem chave: seu acesso direto a combustíveis fósseis obtidos a preço de barganha.
Um negócio ainda em crescimento
Os gigantes do petróleo não são alheios a essa tendência. A ExxonMobil está desenvolvendo usinas de gás off-grid especificamente para centros de dados, que incluem tecnologia de captura de carbono para reduzir as emissões. A Chevron, por sua vez, se associou à Engine No. 1 e à GE Vernova para montar instalações semelhantes. A primeira será inaugurada em 2026, também no Texas.
Os números são grandiosos: a demanda por gás natural para centros de dados vai aumentar em 47 GW até 2030. Atualmente, o gás natural já alimenta cerca de 40% da carga dos servidores nos Estados Unidos e espera-se que continue sendo a principal fonte de energia pelo menos até 2030.
Não é a fonte de energia mais limpa, mas não há renováveis suficientes para alimentar a inteligência artificial. Além disso, nem todos os centros de dados podem ser conectados a uma usina nuclear, outra ideia comum nos Estados Unidos.
Graças ao impulso de sua parceria com empresas de petróleo do fracking, a Crusoe pôde desenvolver tecnologias próprias, como um sistema de resfriamento fechado que não precisa renovar a água que os servidores evaporam. Além disso, ela instalou turbinas a gás próprias como fonte de energia reserva — no projeto Stargate, elas têm uma capacidade de 360 MW.
Os servidores do Stargate serão alimentados principalmente por painéis solares e aerogeradores, que são abundantes em Abilene devido à combinação de vento e horas de sol. Essa é uma das razões pelas quais tantos centros de dados estão sendo construídos nessa região do Texas, além das isenções fiscais que os governos locais estão dispostos a oferecer em troca da geração de emprego. Resta saber quantos funcionários serão mantidos após a construção.
Imagem | W.carter (CCo)
Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.
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