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Você pensa muito no Império Romano? Pense nisto: tudo que os romanos fizeram, o fizeram intoxicados com chumbo

Agora sabemos que a exposição ao chumbo tem consequências neurológicas importantes. E ninguém contaminou a Europa com chumbo como os romanos

Romanos mineravam prata, o que jogava chumbo no ar, deixando toda a população intoxicada / Imagens: Joseph McConnell | Ilona Frey
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Victor Bianchin

Redator

Victor Bianchin é jornalista.

O que acabamos de descobrir algo inusitado no gelo ártico: o Império Romano construiu uma das obras civilizatórias mais impressionantes da história com intoxicação por chumbo em níveis alarmantes. Chumbo que eles mesmos lançaram na atmosfera.

Chumbo, chumbo por todos os lados

Examinando o chumbo em três núcleos de gelo ártico de 2 mil anos atrás, uma equipe de pesquisadores do Desert Research Institute conseguiu calcular o nível de poluição ambiental na Europa entre 500 a.C. e 600 d.C. Os dados são, para dizer de forma comedida, aterrorizantes.

Conforme publicado no artigo da Proceedings of the National Academy of Science, após examinar os isótopos de chumbo armazenados nesse gelo, os pesquisadores conseguiram criar um mapa da poluição por esse metal em toda a Europa. Não só isso: estimaram sua magnitude, os níveis de chumbo no sangue dos habitantes e, até, descobriram o que causou essa enorme poluição.

Um culpado com nome e sobrenome

De acordo com os dados, a prata está na origem de todo esse problema. Ou, melhor dizendo, a mineração de prata. De maneira geral e durante séculos, os mineiros fundiram toneladas de galena para extrair a prata. Estima-se que, para cada 28 gramas de prata útil, eram liberada mil vezes a mesma quantidade de chumbo no meio ambiente.

Para colocar em números: "Durante os 200 anos de auge do Império Romano, foram liberadas mais de 500 quilotoneladas de chumbo na atmosfera". Isso, sempre de acordo com os registros dos núcleos de gelo, é 40 vezes maior do que durante o grande pico de poluição por chumbo ambiental nos anos 70 (após o qual começamos a retirá-lo da gasolina, das tintas e de outros produtos).

E isso, claro, teve consequências. Já sabemos que o chumbo é ruim para a saúde. Muito ruim. E não só pelos problemas de infertilidade, doenças ou violência: ele causa problemas neurológicos que resultam em uma diminuição considerável das capacidades cognitivas e da concentração.

Em termos práticos, segundo os pesquisadores do DRI, os níveis de chumbo na época romana devem ter diminuído entre 2 e 3 pontos o coeficiente de inteligência da população geral. "Não parece muito, mas quando se aplica a praticamente toda a população europeia, é um grande problema", explica Nathan Chellman, coautor do estudo.

Um problema que, visto em perspectiva, só aumenta o mito do Império Romano.

Imagem | Joseph McConnell | Ilona Frey

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.

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