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Há 20 anos, a NASA começou a drogar aranhas com anfetaminas, maconha e a mais devastadora: cafeína

10 anos antes de mandar aranhas para a Estação Espacial Internacional, a NASA resolveu drogá-las para um experimento

Aranhas sob efeito de drogas / Imagem: Das Morton
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Victor Bianchin

Redator
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Victor Bianchin

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Victor Bianchin é jornalista.

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Passamos décadas experimentando com animais. Apesar da questão ética, até as grandes empresas de tecnologia recorrem a esse método. E, em 1995, a NASA realizou um dos experimentos mais curiosos já feitos para medir a toxicidade das drogas.

E fizeram isso drogando aranhas.

Não é que alguém tenha acordado um dia e se perguntado o que aconteceria se déssemos LSD às aranhas. Quer dizer, foi exatamente isso o que ocorreu, mas por um bom motivo. Em 1948, o pesquisador Peter N. Witt queria ajudar seu colega H. M. Peters, um zoólogo que queria modificar o horário em que suas aranhas de laboratório começavam a tecer as teias.

Para isso, administrou substâncias como LSD, mescalina (alucinógeno), anfetaminas, cafeína e estricnina (estimulante como a cocaína) aos artrópodes e descobriu algo: o horário não mudou em nada, mas sim os padrões das teias de aranha. Dependendo da droga administrada, o padrão mudava, e essa revelação serviu como modelo econômico para testar o impacto neurológico de drogas e tóxicos em sistemas vivos.

O experimento da NASA

O problema é que o sistema nervoso dos artrópodes é diferente do nosso, por isso não serve para tirar conclusões quando queremos testar efeitos em humanos. Mas é interessante conhecer como essas substâncias psicoativas influenciam em seu organismo. Em 1995, a NASA, inspirada pelo experimento de Witt, escolheu aranhas para uma nova pesquisa, mas também por uma questão ética.

Eles queriam medir o efeito tóxico de diferentes compostos, mas sem recorrer a mamíferos. Precisavam de um organismo sensível e confiável, mas que não fosse controverso. Além disso, as aranhas são perfeitas porque suas teias seguem padrões fixos e instintivos que, como já demonstrou Witt, são extremamente sensíveis às alterações químicas.

Batizado como “Using Spider-Web Patterns To Determine Toxicity”, o experimento consistiu em expor diferentes aranhas europeias de jardim a diversas drogas. Para isso, dissolviam certa quantidade das drogas em água açucarada e a administravam diretamente à aranha pela boca ou por meio de moscas previamente alimentadas com a solução.

Uma vez a droga administrada, deixavam que cada aranha tecesse à vontade e, posteriormente, fotografavam a teia que havia tecido, comparando essa criação com fotografias de teias que essas mesmas aranhas haviam elaborado antes de aplicar a droga.

Os resultados falam por si:

Teias

Além disso, a metodologia foi mais rigorosa que a realizada por Witt meio século antes, ao empregar ferramentas estatísticas para medir mudanças no número de lados completos das “células” de cada teia e a regularidade geral do desenho. Em outras palavras: doses altas de cafeína, por exemplo — e porque é a que produz o resultado mais caótico — geraram padrões desorganizados e incompletos. Até mesmo as doses mais baixas já permitiam observar irregularidades na teia, o que possibilitou aos pesquisadores correlacionar a toxicidade com a morfologia do tecido.

Consequências

Não é preciso ser um gênio para entender: quanto maior era a toxicidade do animal, mais incompleta e caótica ficava sua teia. Mas o mais importante é que essa metodologia tão minuciosa da NASA transformou o experimento em uma alternativa aos testes tradicionais de toxicidade, sobretudo em um cenário que, como dissemos, tinha cada vez menos tolerância a testes com outros tipos de animais. Eram testes biológicos, sim, e também se administravam químicos a seres vivos, mas de uma forma pouco invasiva e sem perder a rigorosidade.

A visibilidade desse trabalho ajudou a ampliar ainda mais o debate sobre a ética animal, evidenciando que era possível utilizar métodos alternativos, porém econômicos, com resultados rigorosos e replicáveis, sendo mais éticos do que outros modelos utilizados — e ainda existem.

Imagem | Das Morton

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.

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