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E se os jogadores homens tivessem que enfrentar a mesma exigência física das mulheres no futebol? Estudo mostra: seriam precisos campos maiores, bolas mais pesadas e partidas com mais km percorridos

Já imaginou o futebol sendo jogado com bolas do mesmo tamanho que as do basquete?

Estudo sugere que dimensões do campo precisariam ser adaptadas à média física das mulheres / Imagem: James Boyes (Flickr)
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Victor Bianchin

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Victor Bianchin é jornalista.

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Se a Eurocopa 2025 está provando alguma coisa é que o futebol feminino tem cada vez mais adeptos, algo que já havia ficado claro na Copa do Mundo de 2023. O esporte em sua versão feminina vem rompendo estigmas, despertando paixões e reunindo milhares de pessoas diante da televisão para acompanhar as partidas disputadas na Suíça. Mas também faz algo mais: reabre antigos debates, como o de se homens e mulheres deveriam jogar com regras e em campos diferentes, adaptados às suas condições físicas.

Um estudo acaba de reacender esse debate com novos dados.

No meio da Eurocopa feminina, a emissora pública suíça SRF publicou um estudo que reabre a grande questão do futebol: homens e mulheres deveriam competir em campos diferentes, adaptados às suas distintas capacidades físicas? Se um homem espanhol (e o cálculo pode ser aplicado a outras nacionalidades) mede em média 14 centímetros e pesa 16,7 quilos a mais que suas compatriotas, e esses fatores influenciam aspectos como saltos e velocidade, as condições de jogo deveriam ser adaptadas por sexo?

Questão de metros e quilos

O estudo da SRF parte de uma premissa interessante: se aceitarmos que as mulheres precisam se esforçar mais fisicamente do que os homens para jogar nos mesmos campos, quão relevante é esse esforço extra? O que isso significaria para um homem? A emissora suíça responde a essas perguntas com um exercício teórico: imaginou como seria um campo de jogo se os homens enfrentassem o nível de exigência que suas companheiras enfrentam atualmente. As conclusões são fascinantes.

A FIFA estabelece que as bolas oficiais devem ter peso mínimo de 410 gramas e não ultrapassar 450 gramas. Quanto ao tamanho, a circunferência deve estar entre 68 e 70 cm. O estudo da SRF sugere que, para que os homens joguem "nas mesmas condições" que as mulheres, suas bolas deveriam ser muito maiores, com uma circunferência de 76 cm. "Teriam o mesmo tamanho e peso que uma bola de basquete", acrescenta. E essa é a primeira de muitas adaptações.

Gols, campos e áreas XXL

O relatório se baseia no trabalho de pesquisadores da Universidade de Trondheim e responde a algumas perguntas curiosas. Por exemplo, quão grandes deveriam ser o gol para que os homens enfrentassem as mesmas condições que as mulheres? Partindo do princípio de que, em média, os jogadores são mais altos que as jogadoras, o estudo conclui que os gols deveriam ser 0,55 m mais largas e 0,13 m mais altas.

"Um gol adequado teria 8,4 m de largura e 2,72 m de altura. Mesmo um goleiro de 1,9 m teria poucas chances contra chutes precisos", conclui.

Futebol

A mesma lógica se aplica ao campo de jogo. Atualmente, os campos aptos para competições internacionais devem ter entre 100 e 110 metros de comprimento e 64 a 75 metros de largura, embora a medida padrão da maioria dos campos da Primeira Divisão seja 105 x 68 m. “Para um jogo justo no futebol masculino, o campo teria que ser 20% maior: 132 x 84 m”, afirma a SRF.

Os jogadores não precisariam apenas competir em campos maiores, com bolas maiores e mais pesadas. Também teriam que correr bastante mais. Quanto? Segundo o estudo, os jogadores passariam de percorrer cerca de 10 quilômetros por partida para cobrir entre 12 e 13 quilômetros. Na prática, segundo os autores do relatório, isso equivale a muito mais tempo de jogo e “um enorme esforço físico, tanto para a resistência quanto para a condição física” dos atletas.

As mesmas barreiras? Outro aspecto que mudaria se redesenhássemos os campos para que homens e mulheres enfrentassem o mesmo nível de exigência são as barreiras em casos de faltas. Por causa das diferenças de envergadura, as barreiras femininas são mais estreitas e baixas, cobrindo um ângulo vertical de 10,4 graus. No caso dos homens, chega a 11,25º. Isso afeta as chances de uma defesa bem-sucedida. “As probabilidades de um gol de falta bem-sucedido aumentam”.

O debate está lançado

Embora os dados da SRF sejam interessantes, não é a primeira vez que o debate sobre se homens e mulheres devem competir com gols, campos e bolas iguais é levantado. Em 2021, a University Campus of Football Business (UCFB) publicou um artigo que enfatizava essa questão e lembrava que, em outros esportes, já se usam bolas, redes ou barreiras diferentes dependendo se competem homens ou mulheres. “Por que no futebol isso não acontece?”, questionava a UCFB, uma pergunta que tem surgido várias vezes nos últimos anos.

“Qualquer opinião que defenda a mudança no tamanho dos gols é recebida com acusações de sexismo, mas há um argumento contrário: aceitar passivamente as medidas originalmente desenhadas para o jogo masculino é, em si, uma forma de sexismo”, reflete. “Se deixarmos a emoção de lado e buscarmos a pura lógica, a mudança no tamanho dos gols pode melhorar o jogo”.

Isso favorecerá ou prejudicará as mulheres? Essa é a pergunta-chave. Apesar dos cálculos divulgados pela SRF, há quem advirta que aplicar “correções” para que homens e mulheres enfrentem o mesmo grau de exigência no gramado prejudicaria as últimas. Qual o motivo? Além das acusações de “sexismo”, algumas vozes alertam que isso complicaria a expansão do futebol feminino.

“Já é bastante difícil encontrar um campo para jogar! Não há equipes suficientes com orçamento para ter seu próprio campo, então agora elas compartilham com o masculino. Você vai medir o terreno no sábado para o jogo masculino e depois mudar todas as medidas para o encontro feminino no domingo?”, alerta a jogadora Rachael Yankey em entrevista à UCFB.

Imagens | James Boyes (Flickr) 1 e 2

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.

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