Jurassic Park é uma história de ficção científica até deixar de ser. Não tanto porque haja quem considere que a tecnologia atual pode trazer de volta os dinossauros, mas porque já existe uma empresa que está devolvendo à vida espécies que se extinguiram há milhares de anos. Trata-se da Colossal, que está aceitando pedidos para ressuscitar seu animal extinto favorito.
Desde que você se chame Peter Jackson e tenha 25 milhões de dólares para doar a eles.
Jackson dispensa apresentações a essa altura. Após vários filmes menores, ganhou fama mundial com sua adaptação de O Senhor dos Anéis, o que lhe permitiu realizar outro de seus sonhos: filmar uma versão de King Kong. No filme, era perceptível o amor que o diretor neozelandês sente por animais de outras épocas.
Curiosamente, um dos passatempos do diretor é colecionar ossos de moa, a ponto de ter uma das maiores coleções privadas do mundo focada nos ossos desse animal extinto. “Os filmes são meu trabalho, mas os moa são meu passatempo”, comentou Jackson.

Tirando o moa da extinção
Mas… o que é um moa? Em poucas palavras, é como um kiwi, mas com cerca de três metros de altura, uns 250 quilos de peso e que também não pode voar. Seus parentes vivos mais próximos seriam os kiwis mencionados, mas também os casuares, sendo o mais parecido o emu. Nativos da Nova Zelândia, os moa não se extinguiram: nós os extinguimos.
Quando os maoris chegaram às ilhas, começaram a caçá-los e, embora tenham sido relatados avistamentos no século 19, não há provas disso, sendo considerado que o moa se extinguiu há pelo menos 500 anos. Jackson comenta que “qualquer criança neozelandesa sente fascínio pelo moa”.
O cineasta possui entre 300 e 400 ossos de moa, e é justamente essa coleção privada que impulsionará a desextinção do animal graças a uma empresa chamada Colossal. Trata-se de uma companhia dedicada à biotecnologia que ficou famosa por seu interesse em devolver à vida animais como o mamute ou o tigre-da-Tasmânia.
O que eles fazem é pegar o DNA do animal extinto, algo que pode ser feito a partir de ossos como os que Jackson possui (quanto mais restos, melhor), e combinar esse DNA com amostras de parentes que vivem atualmente. Isso é a parte fácil: a parte complicada começa quando, depois de combinada a informação genética dos dois DNAs, eles vão “filtrando variantes” para editar os genes e conseguir exatamente o animal que desejam. Por fim, utiliza-se o útero de um animal vivo para que dê à luz à “nova” criatura. E não é barato.
Dinheiro. Muito.
Em uma recente rodada de financiamento, a Colossal Biosciences atingiu uma valorização de 10,2 bilhões de dólares. No fim de 2024, Jackson já havia colaborado com 10 milhões de dólares na Colossal Biosciences, mas agora doou outros 15 milhões para que a empresa colocasse o moa em sua lista de “objetivos”.
Isso significa que vai demorar para vermos o resultado. Mas o trabalho da Colossal não são apenas castelos no ar. Em abril deste ano, a empresa anunciou seu primeiro sucesso: haviam conseguido ressuscitar o lobo gigante, o Aenocyon dirus. Agora há três filhotes chamados Rômulo, Remo e Khaleesi que, com seis meses de idade – nasceram em janeiro deste ano – já alcançaram um peso de cerca de 36 quilos e um comprimento de 120 cm. Espera-se que cheguem a 180 cm e 68 quilos cada um.

Veremos o que acontece com o moa, mas há quem ache que o que a Colossal faz de melhor é vender ilusão. Com o moa, estamos em uma etapa muito inicial da desextinção, mas, como lemos no Phys, o processo parece que será mais complexo do que com os lobos. Beth Shapiro, cientista-chefe da Colossal, comentou que, diferentemente do que ocorre com os mamíferos, os embriões das aves se desenvolvem dentro dos ovos, por isso o processo de transferir um embrião para uma mãe substituta será muito diferente da fertilização in vitro em mamíferos.
Nic Rawlence, paleontólogo da Universidade de Otago, comentou que reviver aves da Nova Zelândia “não é cientificamente possível com a tecnologia atual”. O problema é que não existe um bom genoma do moa e seus parentes mais próximos são os tinamús, dos quais se separaram há 60 milhões de anos.
Além disso, existe outra questão: se um animal extinto for ressuscitado, a patente pertence à natureza ou à empresa responsável? Ben Lamm, diretor da Colossal, já explicou que não querem monetizar esses animais diretamente, mas vender sua tecnologia. Porém, claro, ele também não descarta patentear o que a empresa desextinguir.
Quem está empolgado é Jackson. “Trazer o moa de volta à vida seria tão emocionante, se não mais, do que qualquer filme que eu pudesse fazer”.
Imagens | Colossal, KKPCW, Gage Skidmore
Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.
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