O aparecimento dos robotáxis da Tesla nas ruas de Austin é muito mais do que a montadora dando seus passos em um novo mercado. É possível observar como a empresa se aproximou da condução autônoma, como usa a inteligência artificial e como aproveita seus milhões de carros nas ruas para avançar mais rápido e gastando menos dinheiro do que a concorrência.
Mas isso tem suas consequências.
Uma freada inesperada
Um robotáxi da Tesla ultrapassa um cruzamento, segue na velocidade esperada e, sem aviso prévio e sem motivo aparente, freia com força até quase parar completamente. O que faz o carro hesitar?
À direita do cruzamento, em uma rua perpendicular ao trajeto do robotáxi da Tesla, está parada uma viatura policial. Ela não obstrui em nada o caminho do veículo autônomo, mas, mesmo assim, o carro freia bruscamente. O vídeo pode ser encontrado no YouTube e contas anti-Tesla o replicaram no X.
Watch this @Tesla Supervised Robotaxi phantom brake twice for a stationary police car. If another car had been directly behind it this could have caused a serious accident. Ban this dangerous and defective software now! pic.twitter.com/FCJ7olbGsy
— Dan O'Dowd (@RealDanODowd) June 24, 2025
Quem publicou o vídeo foi Edward Niedermeyer, jornalista especializado no mundo automotivo nos Estados Unidos e autor de um livro em 2019 sobre o nascimento da Tesla e a figura de Elon Musk, conhecido especialmente por seu posicionamento crítico em relação à marca.
O site TechCrunch repercute o vídeo e coloca em pauta a possibilidade de que esse tipo de comportamento se deva ao aprendizado que os robotáxis da Tesla tiveram com seus próprios motoristas. É provável que, aprendendo com a enorme base de dados de milhões de carros na estrada, a inteligência artificial que sustenta os movimentos do carro autônomo replique o comportamento de boa parte dos humanos: frear diante de um carro da polícia.
“Viver milhões de vidas”
Há algum tempo, Elon Musk se orgulha de que a inteligência artificial usada em seus carros se alimenta dos veículos que a empresa tem nas ruas. “É como viver milhões de vidas simultaneamente e ver situações muito incomuns que uma pessoa, em toda sua vida, não veria”, afirmou Elon Musk na apresentação do Tesla Cybercab.
A empresa confia em não precisar investir bilhões de dólares no desenvolvimento da condução autônoma total, como Waymo e Cruise, porque utiliza os dados que seus motoristas fornecem com seus veículos. Assim, a inteligência artificial aprende com seus comportamentos e toma decisões que podem ser consideradas mais humanas e menos robotizadas. Tão humanas quanto frear diante de um carro da polícia ou parar em um cruzamento.
A Tesla confia que essa abordagem será fundamental para se posicionar como a melhor operadora no mercado. Embora, por enquanto, haja apenas duas dezenas de robotáxis circulando pelas ruas, os dados coletados não vêm apenas de veículos de teste, mas sim de dados reais com motoristas reais, o que deve economizar quantias enormes de dinheiro e horas investidas.
Além disso, a empresa também deseja ter nas ruas os veículos mais baratos. A combinação de câmeras e inteligência artificial é um combo que, segundo a empresa, permite economizar dinheiro em radares e sensores LiDAR, que encarecem muito os veículos que são colocados em circulação.
No entanto, não está totalmente claro que essa seja a forma correta de agir, porque, como foi visto em alguns testes, o sensor LiDAR é muito mais eficaz que as câmeras em situações específicas, como em baixa visibilidade ou perante obstáculos que podem gerar confusão.
Esse último ponto é relevante. O teste de Mark Rober demonstrou que um carro com câmeras não pode discernir com segurança se o que está à sua frente é um muro pintado como uma estrada ou uma estrada real. O sensor LiDAR, porém, detecta o obstáculo.
Embora essa situação possa não ocorrer em condições reais, ela nos mostra a efetividade do sistema para distinguir quando está diante de uma situação perigosa ou não. Por exemplo, quando um robotáxi da Tesla confunde uma simples sombra com um objeto na estrada. Esse caso, que está em um post no Reddit onde estão reunidos todos os erros dos robotáxis, poderia ser resolvido com o uso do LiDAR, em vez de apenas as câmeras.
Foto | Tesla e Remi Gieling
Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.
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