A JSR Corporation é uma empresa extremamente valiosa para o Japão, embora não apenas no sentido econômico. Isso porque, ao lado da Tokyo Electron, Rapidus, Canon e Nikon, ela representa a linha de frente da indústria japonesa de chips.
O Japão precisa delas. Precisa, com urgência, que essas empresas sejam competitivas se quiser recuperar a relevância que teve décadas atrás no então já promissor setor de semicondutores.
No fim da década de 1980, o Japão dominava a indústria de circuitos integrados com uma força esmagadora. Empresas como NEC, Toshiba, Hitachi, Fujitsu, Mitsubishi, Matsushita e outras concentravam, em 1988, nada menos que 50% do mercado global de chips.
Hoje, porém, nenhuma delas está entre as líderes de um setor que passou a ser controlado com mão de ferro por companhias de Taiwan, Estados Unidos, Países Baixos, Coreia do Sul e Alemanha.
Apesar de seu papel estratégico, a JSR Corporation está enfrentando dificuldades
Essa empresa tem algo que falta às outras mencionadas anteriormente: o monopólio de um segmento crucial da indústria de chips. É isso que a torna tão valiosa para o Japão, independentemente dos seus resultados financeiros. A JSR é especializada na produção de materiais fotorresistentes.
De forma simplificada, os equipamentos de fotolitografia desenvolvidos e fabricados pela ASML são responsáveis por transferir, com altíssima precisão, o padrão geométrico da máscara para a superfície da bolacha de silício.
Nesse contexto, podemos entender o padrão como o “desenho” que define a distribuição dos transistores, conexões e demais elementos que compõem um circuito integrado. Mas, antes de chegar a essa etapa tão crucial, é necessário submeter as bolachas de silício a um processo conhecido como deposição. Nessa fase, entram em cena os equipamentos fabricados por empresas como Tokyo Electron ou Applied Materials. O objetivo é preparar a superfície da oblea para a transferência do padrão geométrico, depositando sobre ela uma camada finíssima de material.
Nas últimas duas décadas, todas as empresas especializadas na produção de materiais fotorresistentes foram japonesas
Dependendo do tipo de chip que está sendo produzido, será necessário usar um material específico. Uma das técnicas de deposição mais utilizadas é a oxidação, que aproveita a capacidade do silício de formar uma camada ultrafina de óxido ao reagir com a água. Essa camada serve para proteger os transistores e outros componentes dos chips contra a contaminação externa.
No entanto, antes de transferir o padrão geométrico para a oblea com um equipamento de litografia, é preciso aplicar sobre ela um líquido capaz de absorver luz e preservar o desenho. Essa é a função do fluido fotorresistente.
Nas últimas duas décadas, todas as empresas especializadas nesse tipo de material foram japonesas. O Japão tem, desde então, o monopólio desse mercado, atualmente liderado pela JSR Corporation. A empresa fornece seus líquidos fotorresistentes para a maior parte dos fabricantes de semicondutores mais conhecidos do mundo, como TSMC, Intel, Samsung, SK Hynix, Micron Technology e Texas Instruments, entre muitos outros.
O mais surpreendente é que, apesar do domínio que exerce sobre o mercado de substâncias fotorresistentes, a JSR não vai bem. Em 2024, a empresa de investimentos Japan Investment Corp. comprou a companhia por 6 bilhões de dólares com o objetivo de consolidar seu crescimento, mas ela encerrou o último ano fiscal, em março de 2025, com um prejuízo de 1,45 bilhão de dólares.
Esse resultado negativo teve consequências. Toda a alta cúpula da empresa foi substituída, responsabilizada por um desempenho financeiro que está longe de refletir a posição de destaque que a JSR ocupa no mercado.
Mesmo assim, analistas afirmam que o problema não está no negócio de fotorresistentes. Os prejuízos foram causados pela divisão da empresa voltada para o desenvolvimento e fabricação de produtos biofarmacêuticos e diagnósticos médicos. A nova diretoria planeja vender parte dessa área para a empresa japonesa Tokuyama Corp. por cerca de 570 milhões de dólares, com o objetivo de equilibrar as finanças.
Resta ver o que vai acontecer, mas uma coisa é certa: a JSR tem um papel central nas ambições do Japão para retomar sua força na indústria de semicondutores.
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