Big Brother corporativo? Monitoramento excessivo no trabalho vira rotina e causa preocupação em trabalhadores

Empresas investem pesado em softwares de monitoramento, mas impactos éticos e psicológicos dessa nova vigilância no mundo corporativo acende alerta

Mão mexendo em notebook. Créditos: d3sign/Getty Images
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Laura Vieira

Redatora
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Laura Vieira

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Jornalista recém-formada, com experiência no Tribunal de Justiça, Alerj, jornal O Dia e como redatora em sites sobre pets e gastronomia. Gosta de ler, assistir filmes e séries e já passou boas horas construindo casas no The Sims.

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Você já sentiu que está sendo vigiado enquanto trabalha no modelo home office? Recentemente, o Itaú virou assunto nas redes sociais ao promover uma demissão em massa de centenas de funcionários, alegando baixa produtividade no regime remoto. O episódio deixou trabalhadores preocupados com o uso de softwares de monitoramento em suas empresas, capazes de registrar cliques e até os períodos de inatividade no computador, como se estivessem em um Big Brother da produtividade. Agora, esse tipo de conduta, que começou como um recurso para acompanhar o trabalho à distância durante a pandemia, se transformou em algo rotineiro nos escritórios físicos, levantando dúvidas sobre eficiência, custos, privacidade, ética e até mesmo legalidade. 

Entenda como funciona o monitoramento digital realizado por empresas

A era do monitoramento corporativo não se limita mais a relatórios básicos de produtividade. Hoje, pesquisas de mercado mostram que empresas têm acesso a pacotes de softwares capazes de mapear em detalhes o comportamento dos trabalhadores, seja no modelo presencial ou remoto. Esses sistemas registram uma infinidade de ações,  desde aberturas de programas, tempo de resposta em tarefas, períodos sem atividade e até o número de vezes em que a barra de espaço foi pressionada ao longo do dia.

Essas informações coletadas acabam se transformando em gráficos e dashboards que sustentam KPIs, métricas quantificáveis usadas para avaliar o desempenho de um negócio, projeto ou indivíduo. Essas métricas, no entanto, vão muito além de relatórios administrativos, podendo servir de base para avaliações de desempenho, promoções e até desligamentos.

Outro ponto é que, mesmo com o retorno da presença após a pandemia, a prática não desapareceu. Na verdade, o controle continua, mas com um foco diferente. Ao invés de rastrear se o funcionário está logado ou não em casa, a atenção se volta para a forma como ele usa os dispositivos e plataformas dentro do escritório. 

Softwares custam caro e podem impactar a rotina

É claro que monitorar o que cada funcionário anda fazendo durante o período de trabalho não custa barato. As licenças mensais de vigilância digital variam entre R$50 e R$160 por colaborador, um gasto que pesa bastante para pequenas e médias empresas, embora seja facilmente absorvido por grandes corporações. Como consequência, o setor de softwares de produtividade se tornou lucrativo no mercado, movimentando cifras bilionárias em todo o mundo.

Mas os custos vão além da questão financeira. Enquanto as organizações relatam ganhos no controle e padronização de processos, estudos acadêmicos indicam pressão psicológica, sensação de desconfiança e queda no engajamento no funcionário. Afinal, em um ambiente em que o trabalhador sente que cada ação é registrada, isso pode gerar estresse e, consequentemente, reduzir a produtividade.

Quais são os limites legais e éticos dessa prática?

No Brasil, a legislação trabalhista reconhece o direito do empregador de fiscalizar o trabalho, mas não de forma ilimitada. Revistas em locais de trabalho, controle de e-mails corporativos e uso de celulares da empresa são permitidos. A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), porém, impõe limites, como proibir o acesso a mensagens privadas ou monitorar aspectos da vida pessoal. Caso a empresa apresente práticas excessivamente invasivas de monitoramento, isso pode resultar em processos trabalhistas e indenizações por danos morais. A coleta de dados deve sempre ser proporcional, transparente e restrita ao ambiente de trabalho. Por isso, as empresas devem fornecer os equipamentos corporativos e deixar claro quais informações serão coletadas.

Caso envolvendo Itaú afetou a cultura empresarial

A polêmica envolvendo as demissões no Itaú acendeu um sinal de alerta em empresas de todos os setores. O episódio mostrou que a discussão não se resume a ferramentas tecnológicas, mas à forma como elas moldam a cultura organizacional. A obsessão por métricas e o exagero de monitoramento pode afetar a confiança entre empregador e empregado. Por isso, especialistas na área organizacional de empresas reforçam que autonomia, reconhecimento e equilíbrio são fatores tão importantes quanto o número de horas diante do computador.


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