Em março de 2023, foi noticiado que a BMW estava preparando o lançamento de um Head-Up Display (HUD) na sua Neue Klasse. Naquela época, já se avisava que o veríamos pela primeira vez em um carro nas ruas apenas em 2025. O escolhido é a nova geração do BMW Série 3, que promete ser uma revolução para a marca em muitos sentidos.
O que a BMW anunciou para um prazo de dois anos, a Xiaomi colocou nas ruas em poucos meses.
Dois anos de mesma história
O HUD da BMW atravessaria toda a largura do veículo e serviria para oferecer informações precisas e personalizadas para cada passageiro. A estratégia segue aprofundando o caminho que a empresa tem tomado. Nos últimos anos, a BMW foi uma das companhias que mais apostou em dar personalidade aos seus sistemas de infoentretenimento, com telas de alta qualidade e bom tamanho no centro, painéis de instrumentos à altura e um HUD com gráficos de todo tipo. Ela até instalou uma enorme tela para os passageiros traseiros em alguns modelos.
Mas, dois anos depois, continuamos na mesma. O BMW Panoramic Vision surpreendeu no começo, mas foi perdendo força com o passar do tempo. Já o vimos no CES de Las Vegas, na feira de mobilidade de Munique e, novamente, nas artes da futura Neue Klasse.
Em resumo, o lançamento de uma funcionalidade que vem sendo prometida há dois anos finalmente está chegando, enquanto a Xiaomi, que lançou seu primeiro carro há apenas um ano, acaba de apresentar essa tecnologia para seu futuro SUV elétrico. Considerando que o primeiro carro da Neue Klasse só deve chegar no final de 2025, tudo indica que a Xiaomi vai ultrapassar a montadora alemã.
HyperVision HUD
HyperVision HUD é o nome dessa alternativa ao HUD da BMW que será incorporada aos Xiaomi YU7. Como vimos durante a apresentação, a projeção no para-brisa ocupará toda a largura do veículo e informará pontualmente os passageiros com os dados que mais lhes interessarem.
Por exemplo, na frente do motorista, teremos os dados tradicionais do painel de instrumentos e, na área central, as informações de navegação. Mas o carro também conta com gráficos específicos para quando se está parado carregando a bateria ou quando queremos selecionar um álbum de música específico.
É impressionante a imagem de Lei Jun, CEO da companhia, com todos os gráficos que o motorista pode configurar nesse HUD gigante ao seu gosto. Podemos ver, por exemplo, dados sobre consumo, assistências à condução, o navegador, um cronômetro e mais.
Mais que uma novidade
A incorporação desse HUD panorâmico no novo carro elétrico da Xiaomi não é só uma inovação estética, mas um claro exemplo de como está a indústria. Cada anúncio na Europa envolve anos (sim, anos) de planejamento, desenvolvimento e implementação. Na China, no entanto, estão decidindo e executando em tempo recorde.
Kevin Williams, jornalista do InsideEVs, explicou isso muito bem em um artigo intitulado “Estive na China e dirigi dezenas de carros elétricos. Os fabricantes ocidentais estão perdidos.” Nele, ele contou como ficou impressionado com os interiores dos carros chineses durante uma viagem ao país e o quanto eles estão distantes da Europa. Nosso colega Javier Lacort também teve a oportunidade de se sentar em um Xiaomi SU7 Ultra e avaliar onde a BYD e suas marcas de luxo se situam no mercado asiático.
No Xataka Espanha, tivemos a oportunidade de conversar nos bastidores com trabalhadores de marcas chinesas como BYD e do Grupo Chery que passaram por empresas europeias do Grupo Volkswagen e da Stellantis. Todos eles nos confirmaram que as companhias chinesas trabalham a um ritmo inconcebível para a indústria europeia.
Uma piada que nem é tão piada assim
De fato, um desses trabalhadores nos dizia que, quando trabalhava para o Grupo Volkswagen, cada pequena mudança no toque do carro ou no equipamento implicava uma teia burocrática, a filtragem por diversos departamentos e, no melhor dos casos, a aprovação para ser implementada na atualização de meio de ciclo comercial ou na próxima geração. Ou seja, essas mudanças chegariam anos depois.
No entanto, o pessoal do Xataka Espanha soube que uma dessas marcas chinesas testou unidades pré-série na Espanha que não agradaram na primeira avaliação no que diz respeito aos pneus e ao toque da direção. Entre dois e três meses depois, esses carros chegaram ao mercado com todas as mudanças no equipamento e no toque da direção já realizadas.
Além desses dois exemplos concretos, o ritmo com que a China está lançando novidades em carros elétricos está pressionando fortemente a forma de atuação da indústria. Na Europa, continua-se anunciando lançamentos de carros elétricos "baratos" com previsão de dois a três anos no futuro. Enquanto isso, a BYD acaba de trazer ao mercado europeu o BYD Dolphin Surf que, com auxílios e descontos, pode custar menos de R$ 77 mil.
Outro bom exemplo é o da Volkswagen. Sua estratégia de desenvolvimento de software e plataformas foi um desastre tão grande que a empresa gastou bilhões no desenvolvimento de apenas dois carros (Audi Q6 e-tron e Porsche Macan elétrico), que, ainda por cima, atrasaram. De fato, o grupo chegou a enviar engenheiros para a China para aprender seus métodos de trabalho e firmou um acordo com a XPeng para dotar a Audi de uma nova plataforma.
A Renault também não escapa. Luca de Meo, seu CEO, reiterou em múltiplas ocasiões que uma das vantagens competitivas da China é que eles trabalham em um ritmo muito mais rápido que o dos europeus.
Foto | BMW e Xiaomi
Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.
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