Quando a Xiaomi lançou seu primeiro smartphone em 2011, ninguém imaginava que ela pudesse competir com as maiores marcas Android. Nem imaginava que poderia desafiar marcas como Tesla ou BYD quando revelou seu Xiaomi SU7, o primeiro carro elétrico da gigante chinesa.
Com números de crescimento espetaculares e um plano de expansão global já em andamento, a questão não é mais se eles são sérios, mas se seu modelo de negócios bem-sucedido pode ser replicado em lares ao redor do mundo. A "terceira conquista" da Xiaomi começou, mas o campo de batalha é diferente daquele dos smartphones ou carros.
De Pequim para o mundo

Os números são claros: a Xiaomi registrou um crescimento de quase 114 bilhões de yuans no primeiro trimestre, mas, segundo a SCMP, o fator mais importante é sua tendência ascendente no segmento de eletrodomésticos de grande porte. Suas remessas de ar-condicionado e geladeiras aumentaram 65% em relação ao ano anterior, enquanto suas remessas de máquinas de lavar dobraram.
Quem se compara a esses números?
Curiosamente, esse ritmo supera em muito o de líderes do setor como Midea e Haier. Esse boom, no entanto, tem um catalisador óbvio: os subsídios agressivos do governo chinês para impulsionar o consumo.
Pequim destinou uma enorme quantia de fundos para apoiar a compra de eletrodomésticos, smartphones e veículos elétricos, o que impulsionou as vendas no varejo do país e beneficiou diretamente a estratégia da Xiaomi. No entanto, a empresa enfrenta um grande desafio: lutar contra as gigantes em seu próprio território.
Apesar do rápido crescimento da gigante chinesa em eletrodomésticos, a Xiaomi ainda está atrasada em uma área: escala. A S&P Global Ratings estima que suas vendas de grandes eletrodomésticos em 2024 serão menos de 10% das da Haier e 6% das da Midea.
Além disso, os analistas apontam dois grandes desafios. Primeiro, a preocupação de que seu crescimento atual esteja inflado pela ajuda governamental e possa desacelerar quando cair. Segundo, uma desvantagem competitiva na cadeia de suprimentos e na manufatura.
Ao contrário da Midea ou da Haier, que têm grande experiência em P&D e produção, a Xiaomi ainda terceiriza a fabricação de seus principais eletrodomésticos, embora já tenha começado a abordar essa questão criando sua própria fábrica focada em condicionadores de ar.
A Xiaomi tem uma arma secreta, e não é o preço

Embora seu sucesso a longo prazo ainda seja uma questão em aberto, a Xiaomi tem uma vantagem competitiva : preço, você pode pensar, mas não, é sua capacidade de enquadrar eletrodomésticos como "parte de uma experiência de vida inteligente mais ampla", diz Chris Pereira, fundador e CEO da iMpact, uma empresa de consultoria de marcas sediada em Cingapura.
O forte reconhecimento da marca, especialmente entre os jovens, e sua estratégia de marketing focada na comunidade a posicionam como uma concorrente legítima. Isso é agravado pela expansão agressiva dos canais de vendas offline, com a meta de atingir 20.000 lojas até o final de 2025, superando sua dependência tradicional do canal online.
O sucesso ou o fracasso de seu ambicioso plano provavelmente dependerá de sua capacidade de convencer os consumidores de que sua vantagem não está em fabricar uma geladeira melhor, mas em oferecer uma casa mais inteligente e conectada. Sua arma secreta não é o eletrodoméstico em si, mas sim o ecossistema que o cerca, onde o celular, o carro e a máquina de lavar falarão a mesma língua.
É a filosofia moderna da Xiaomi, como vimos em seu slogan "Humano X Carro X Casa". E seu software Android, HyperOS, é esse "anel único" de seu ecossistema. Outras iniciativas recentes, como o retorno aos chips com o Xring 01, confirmam os planos da empresa: independência e ecossistema são seus maiores trunfos. Lei Jun já tem seu império tecnológico. A partir de agora, ele planeja expandi-lo.
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