Todos os carros desvalorizam assim que saem da concessionária; todos, menos um: o Xiaomi SU7

O carro elétrico usado costuma ter preços bem baixos e perde metade do valor em apenas um ano. A Tesla passou por uma fase parecida há poucos meses.

Carro elétrico Tesla Xiaomi SU7
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Sofia Bedeschi

Redatora

Jornalista com mais de 5 anos de experiência no ramo digital. Entusiasta pela cultura pop, games e claro: tecnologia, principalmente com novas experiências incluídas na rotina. 

O carro elétrico usado vale pouco. Muito pouco, na real, e bem menos do que um carro a combustão. E faz sentido: a tecnologia avança num ritmo tão rápido que os elétricos envelhecem quase da noite pro dia.

Esse turbilhão do mercado fez algumas locadoras amargarem prejuízos enormes com elétricos. O caso da Hertz com a Tesla é bizarro: uma marca pode parecer um porto seguro num momento, mas basta ela mesma reduzir os preços ou os concorrentes lançarem inovações fortes, e o valor de revenda despenca.

A Xiaomi, agora, vive o seu "momento Tesla"

É por isso que ela lidera o ranking de valor residual: seus carros mantêm um preço de revenda tão alto que deixam até os fabricantes europeus no chinelo. A explicação? Alta demanda + efeito novidade = valor lá em cima.

Apesar de já ser gigante na China, o mercado de carros elétricos ainda é relativamente novo — e isso abre espaço pra algumas distorções, como a que a Xiaomi está enfrentando agora… e que a própria Tesla viveu por anos.

Pra ter ideia do impacto que certas marcas conseguem causar: a Tesla chegou a ter mais de 10% de participação no mercado europeu há poucos meses. Um número altíssimo, ainda mais se levarmos em conta que ela compete com apenas quatro modelos — e só dois realmente acessíveis pro público em geral.

Essa febre por ter um Tesla gerou cenas bem curiosas

Teve gente, por exemplo, que pagou mais caro em um Tesla seminovo do que em um modelo zero — tudo por conta da crise na cadeia de suprimentos. E o Cybertruck chegou a ser, durante meses, o carro acima de 100 mil dólares mais vendido nos Estados Unidos.

Mas esses casos também mostraram por que isso tudo aconteceu. O valor dos Teslas no mercado de usados despencou quando a cadeia de suprimentos voltou ao normal e a própria empresa começou a aplicar descontos agressivos pra não perder espaço pra concorrência. A bolha do Cybertruck também esvaziou, e a demanda deu uma esfriada.

Esses dois fenômenos ajudam a explicar por que o Xiaomi SU7 é hoje o carro elétrico que menos se desvaloriza na China depois de um ano. Segundo a Associação Chinesa de Circulação Automotiva, ele mantém 88,7% do valor original após 12 meses — um número impressionante. Entre os modelos ocidentais, só os Tesla Model X (77,8%) e Model 3 (75,3%) chegam perto desse patamar no mercado chinês.

Com 71,2% de retenção de valor, o Tesla Model Y entra na lista dos 10 carros elétricos que mais preservam valor na China. Junto com seus “irmãos” de marca, ele é um dos únicos modelos ocidentais a aparecer nesse ranking. Atrás da Xiaomi, a Li Auto ocupa o segundo e terceiro lugares, com o M9 e o Mega.

Chama atenção o fato de nenhum modelo da BYD estar entre os elétricos que mais mantêm valor após um ano — mas isso faz sentido quando olhamos as marcas que aparecem no topo da lista. Xiaomi, Li Auto, Tesla e Smart (que aparece em sétimo lugar) são vistas como marcas premium no mercado chinês.

Tem outro fator importante aí: todas essas marcas têm uma oferta de veículos bem mais enxuta do que a da gigante BYD. Quem busca um Tesla “acessível” tem basicamente duas opções — e apenas quatro modelos no total. A Li Auto conta com cinco. A Smart ainda está ampliando seu portfólio. E a Xiaomi, por enquanto, tem só um carro.

Pra ter uma noção da diferença em relação às marcas ocidentais: Volkswagen, Ford e Kia perdem cerca de metade do valor do carro em apenas um ano. Nenhuma delas consegue reter mais que 53% do preço original. As únicas marcas europeias com desempenho superior são Porsche (69%) e Mercedes (59%).

A febre pela Xiaomi foi tão intensa que a demanda superou a oferta — e não foi só nas versões topo de linha. Desde os modelos mais básicos até o mais potente e radical da linha, a procura explodiu. 

Teve versão que, em apenas 10 minutos, registrou um volume de reservas equivalente a toda a produção anual. Essa procura absurda impede que o carro caia de preço no mercado de seminovos e, em alguns casos, até faz o valor subir.

Além disso, o consumidor chinês está cada vez mais voltado para as marcas locais. Empresas como Li Auto e Xiaomi são vistas como referência em tecnologia de ponta — muito à frente das marcas ocidentais, que ainda são percebidas por lá como “marcas de carro a combustão que colocaram motor elétrico”.

Essa sede por inovação e diferença é tão forte que o país criou até uma nova categoria: o “carro elétrico inteligente”. Isso porque o público chinês sente necessidade de separar os elétricos “básicos do dia a dia” que entregam uma experiência conectada, mas semelhante à dos modelos ocidentais daqueles que realmente oferecem algo a mais, como uma condução semiautônoma de alta performance e recursos digitais avançados.

O avanço acelerado da indústria, com carros cada vez mais autônomos, recargas em potências altíssimas e até troca de bateria em estações, vem derrubando os preços dos elétricos no mercado de seminovos. 

Esses avanços tornam os modelos “antigos” obsoletos muito rápido e dificultam a vida das montadoras que não conseguem acompanhar esse ritmo.

Nesse contexto, o melhor cenário é ser uma marca jovem, com poucos modelos no portfólio e que conseguiu criar uma expectativa enorme em torno de um único carro. É esse tipo de hype que mantém o valor alto e o interesse do público vivo.

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