Tendências do dia

Alguém fez um experimento com um processador de 1997 e mostrou que ele só precisava de 128 MB de RAM para rodar IAs

Enquanto a inteligência artificial parece estar reservada a máquinas ultrapoderosas, uma demonstração recente prova o contrário

Sim, um computador arcaico consegue rodar IA / Imagem: Raimond Spekking / CC BY-SA 4.0 (via Wikimedia Commons)
Sem comentários Facebook Twitter Flipboard E-mail
victor-bianchin

Victor Bianchin

Redator

Victor Bianchin é jornalista.

Pesquisadores conseguiram fazer funcionar um modelo moderno de IA em um computador de 1997, equipado com um simples processador Pentium II e 128 MB de RAM. Essa experiência desafia nossas certezas sobre os requisitos de hardware para IA e abre caminho para uma democratização tecnológica sem precedentes.

O feito foi realizado pela EXO Labs, empresa fundada por Andrej Karpathy, uma referência reconhecida no campo da inteligência artificial, em parceria com pesquisadores da Universidade de Oxford. Por meio de uma abordagem técnica sofisticada, eles conseguiram executar um modelo de linguagem baseado no Llama 2 em um processador Intel Pentium II rodando a apenas 350 MHz, acompanhado por 128 MB de memória RAM. Um ambiente de hardware que, à primeira vista, parece totalmente insuficiente para as demandas da IA contemporânea.

No entanto, o modelo conseguiu funcionar a um ritmo respeitável de 39,31 tokens por segundo, utilizando apenas 260 mil parâmetros. Esse resultado notável deve-se ao uso do BitNet, uma nova arquitetura revolucionária de rede neural. Diferentemente dos modelos tradicionais com precisão de ponto flutuante (float32), o BitNet usa pesos ternários, onde cada peso só pode assumir três valores possíveis (-1, 0, 1). Essa simplificação permite uma compressão extrema do modelo sem perda significativa de desempenho.

Graças ao BitNet, um modelo normalmente volumoso de 7 bilhões de parâmetros pode ser reduzido para apenas 1,38 GB. Isso torna possível sua execução em processadores modestos, sem a necessidade de placas gráficas de alto desempenho. Segundo a EXO Labs, essa tecnologia poderia até permitir rodar modelos com 100 bilhões de parâmetros em uma única CPU, alcançando velocidades de processamento próximas à leitura humana.

Essa experiência não só prova a viabilidade de modelos de IA em plataformas limitadas, como também destaca a importância crucial da otimização algorítmica em comparação à mera potência bruta do hardware.

Rumo a uma democratização da inteligência artificial

Além do feito técnico, essa demonstração traz importantes implicações sociais. Um dos principais obstáculos à adoção em massa da IA costuma ser seu custo, tanto em termos de equipamentos quanto de consumo energético. Se soluções como o BitNet permitem rodar modelos avançados em hardware existente ou de gerações antigas, o acesso à IA pode se expandir muito além dos laboratórios de pesquisa e das grandes empresas de tecnologia.

Nos países em desenvolvimento, onde recursos computacionais modernos são frequentemente escassos e caros, essa abordagem pode abrir novas oportunidades. Escolas, centros de saúde e pequenas empresas poderiam utilizar IA para educação, diagnóstico ou otimização econômica sem precisar investir pesado em infraestrutura de ponta.

Além disso, do ponto de vista ecológico, reaproveitar equipamentos antigos para tarefas avançadas pode ajudar a limitar a produção de lixo eletrônico e reduzir a pegada de carbono associada à fabricação de novos dispositivos. Isso está alinhado aos princípios de sustentabilidade cada vez mais valorizados nas políticas tecnológicas atuais.

Por fim, esse avanço reflete uma mudança de paradigma: o futuro da inteligência artificial não depende apenas do aumento contínuo do desempenho do hardware. Ele também se baseia na criatividade em software e em inovações que permitem fazer "mais com menos". Isso abre caminho para uma IA mais responsável, inclusiva e menos elitista.

Imagem: Raimond Spekking / CC BY-SA 4.0 (via Wikimedia Commons)

Este texto foi traduzido/adaptado do site JV Tech.

Inicio