A Peste Negra, também conhecida como peste bubônica, foi uma das pandemias mais mortais da história. Provocada por uma bactéria e transmitida principalmente pela picada de pulgas que infestam ratos, estima-se que a doença tenha matado entre 75 a 200 milhões de pessoas entre os anos de 1347 e 1353, cerca de um terço da população da Europa. Agora, um novo estudo sugere que esse desastre pode ter começado muito antes da chegada da bactéria ao continente, mas com uma erupção vulcânica ocorrida por volta de 1345.
Publicado este mês na revista científica Communications Earth & Environment, o estudo foi conduzido por pesquisadores da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, e do Instituto Leibniz de História e Cultura da Europa Oriental, na Alemanha. A pesquisa traz dados de anéis de árvores, núcleos de gelo polar e registros históricos, para mostrar como uma mudança climática causada por erupção vulcânica, desencadeou uma sequência de eventos que terminou com aparecimento da Peste Negra na Europa.
Estudo sugere que erupção vulcânica levou ao surgimento da Peste Negra na Europa
De modo geral, as pandemias tendem a surgir quando patógenos com os quais os humanos não têm imunidade prévia se espalham facilmente por uma vasta área geográfica. A AIDS e a Covid-19 são dois exemplos, ambas provocadas por dois tipos de vírus diferentes. No entanto, no caso da Peste Negra, ela é causada pela bactéria Yersinia pestis. Mas o que pode ter propiciado o aparecimento dessa bactéria no continente?
De acordo com o estudo, uma grande erupção vulcânica. Apesar de ainda não ter sido identificada, acredita-se que o evento lançou cinzas e gases na atmosfera que bloqueou parte da luz solar e provocou um resfriamento do clima por vários anos consecutivos. Essa alteração climática severa acabou prejudicando seriamente a agricultura, e é justamente devido a esse ponto que as bactérias começaram a ser introduzidas na Europa.
As evidências da descoberta aparecem nos blue rings, que são anéis azulados encontrados em troncos de árvores dos pirineus espanhóis, datados de 1345, 1346 e 1347. Esses anéis indicam o clima na época do início da pandemia, marcado por verões excepcionalmente frios e úmidos, que prejudicaram a agricultura. Com as colheitas comprometidas, regiões do Mediterrâneo enfrentaram a escassez de alimentos e a fome, especialmente no sul da Europa. Para que a população não passasse fome, os países europeus começaram a importar alimentos de locais mais distantes.
O comércio salvou a população da fome, mas foi o gatilho da Peste Negra no continente
Para evitar o colapso alimentar, cidades-estado da Itália tiveram que importar grandes volumes de grãos de regiões próximas ao do Mar Negro. A estratégia funcionou para conter a fome, mas teve um efeito colateral trágico. Isso porque, de acordo com o estudo, junto com os grãos importados, chegaram também pulgas infectadas com a bactéria causadora da doença, transportadas por ratos e pulgas.
Por isso, quando os navios aportaram no Mediterrâneo, a doença encontrou condições ideais para se espalhar rapidamente pelos portos e, em seguida, por toda a Europa. Ou seja, o estudo indica que, na verdade, a peste foi causada por uma erupção vulcânica que provocou mudanças climáticas, que causaram crises agrícolas, que alteraram rotas comerciais, e essas rotas acabaram levando a bactéria da doença até a Europa.
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