Uma das principais fábricas de conteúdo próprio no cenário audiovisual espanhol e uma das plataformas de streaming com maior alcance graças à distribuição exclusiva de franquias como Marvel, 'Star Wars', Pixar ou a própria Disney, chegaram a um acordo com o qual ambas verão suas audiências e catálogos expandidos. No entanto, por trás desta assinatura entre Atresmedia e Disney+, há uma tendência inegável no audiovisual internacional: cada vez menos nomes exclusivos que oferecem conteúdo único, cada vez mais marcas que se equiparam em busca do maior denominador comum: a audiência.
300 horas por ano
É isso que a Atresmedia fornecerá à Disney+ com o acordo. A atual líder da televisão em audiência cede uma parte de seu catálogo à Disney+ a partir de setembro, que terá um espaço independente dentro da plataforma e será renovado regularmente. Não será, no entanto, todo o catálogo da Atresmedia, que pertence à sua opção paga (e também pode ser assistido no Prime Video) e que alcança milhares de horas de conteúdo e praticamente todos os programas de sua própria produção que são transmitidos na Antena 3. A novidade com a Disney+ é que essa parte de seu catálogo estará incluída nas tarifas já inclusas para os assinantes da plataforma.
Mesmo assim, o catálogo disponível no Disney+ será extenso: desde séries originais da Atresplayer, como "Mar afuera" (estreia em 14 de setembro), até programas de talentos conhecidos do grande público, como "The Voice" ou "Tu cara me suena". Haverá também séries que já foram transmitidas em sinal aberto na Antena 3, como "La Encrucijada" ou "Sueños de libertad", e séries clássicas do catálogo da Atresmedia, como "Vis a Vis", "Física o Química" ou "Aquí no hay quien viva", que circulam há algum tempo em diferentes plataformas de streaming.
Esta não é a primeira vez que se ativa o contato entre grandes grupos audiovisuais espanhóis e plataformas de streaming. Recentemente, a Netflix começou a transmitir séries do Movistar Plus+, como a comédia "Muertos S.L.", as juvenis "Merlí" e "El día menos pensado". Por outro lado, séries da Mediaset como "Influencers", "Escándalo", "La que se avecina", "El pueblo", "El Príncipe" ou "Entrevías" foram vistas em plataformas como Netflix ou Prime Video.
No cenário atual, não devemos entender isso apenas como uma tentativa compreensível das produtoras de fazer seu material ir além dos canais abertos e ter uma segunda e terceira vida (às vezes com mais sucesso do que as originais, como no caso espetacular e inusitado de "La Casa de Papel", da Atresmedia), mas também como uma tentativa de "normalização" por parte das plataformas de streaming.
Todos querem ser maioria
Durante anos, as plataformas de streaming abandonaram a intenção de oferecer um produto alternativo à televisão convencional, em busca de um público mais amplo. Há exemplos claros como a compra de marcas como "Operación Triunfo" pela Prime Video, mas o fato de "La que se avecina" ser um dos principais sucessos do canal Amazon deixa claro que o público costuma ser transversal: não existem dois compartimentos estanques, onde se assiste à Netflix ou à Telecinco. Muitas vezes, existem dois públicos, mas com os mesmos interesses.
A essa tendência se soma o fato de que, desde 2018, existe legislação europeia que exige que as plataformas sob demanda, quando operam na Europa, tenham origem europeia. Trata-se da Diretiva Europeia sobre Serviços de Mídia Audiovisual, e pelo menos 30% do catálogo das plataformas deve ser reservado para obras europeias. Essa exigência deve ser incorporada à legislação nacional dos Estados-Membros, e parte desse conteúdo deve estar disponível em um dos idiomas oficiais do país onde a plataforma opera. Dessa forma, o Disney+ está cumprindo sua parte dessa diretiva, juntando-se, como já foi dito hoje, a "acordos recentes no Reino Unido com a ITVX e na Alemanha com a ZDF".
As plataformas pagas há muito deixaram de ser um terreno fértil para experimentação, deixaram até de ser um espaço televisivo sem publicidade. Existem fortalezas como HBO ou Filmin, que frequentemente (embora nem sempre: não há nada mais massivo do que "Game of Thrones") jogam para atingir públicos mais exigentes. Mas o que temos visto é uma tendência que nos obriga a criar conteúdo incansavelmente: se o ritmo de consumo se multiplica e os orçamentos das séries da Disney são muito altos... não faz todo o sentido que eles batam à porta da Atresmedia em busca de cada vez mais material para transmitir?
Imagem | Disney+
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